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Fichamento do livro A língua de Eulália novela de sociolinguística, de Marcos Bagno

Por:   •  23/10/2020  •  Trabalho acadêmico  •  7.072 Palavras (29 Páginas)  •  814 Visualizações

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Curso de Letras

Disciplina de Sociolinguística

Acadêmica: Vanessa Nyland

05/09/2018

Fichamento do livro A língua de Eulália: novela de sociolinguística, de Marcos Bagno.

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2003. 215 p.

“– A fala da Eulália não é errada: é diferente. É o português de uma classe social diferente da nossa, só isso – explica Irene.” P.15 A Sociolinguística nos demonstra que não erros, apenas variações gramaticais. Estas variações ocorrem por diferentes razões sociais.

“– É o mito da unidade linguística do Brasil.” P. 18 Para muitos linguistas e gramáticos, o português é considerado uma língua homogênea, ou seja, sem variações, o que é um erro. A língua é viva e diretamente ligada ao contexto social de seus falantes.

“– Isso quer dizer que aquilo que a gente chama, por comodidade, de português não é um bloco compacto, sólido e firme, mas sim um conjunto de ‘coisas’ aparentadas entre si, mas com algumas diferenças. Essas ‘coisas’ são chamadas variedades.” P. 19 As variedades linguísticas dependem de fatores como região geográfica, faixa etária, gênero, escolaridade, língua dos antepassados, etc. Cada grupo social irá apresentar determinada maneira de falar, de acordo com as condições acima mencionadas.

“(...) Temos então, ao lado das variedades geográficas, outros tipos de variedades: de gênero, socioeconômicas, etárias, de nível de instrução, urbanas, rurais, etc.” p. 21 Até em uma mesma cidade teremos variações entre a fala dos habitantes do campo e da cidade, pois os contextos sociais mudam. A cidade possui um ritmo muito mais acelerado e seus habitantes tem maior acesso a influencias externas, como espetáculos, cinema, etc.

“Porque toda língua, além de variar geograficamente, no espaço, também muda com o tempo. A língua que falamos hoje no Brasil é diferente do que era falada aqui mesmo no início da colonização, e também é diferente da língua que será falada aqui mesmo dentro de trezentos ou quatrocentos anos!” p.22 Além de todas essas variações, como a língua é viva, ela se altera no tempo. Muitas palavras se modificaram e tantas outras passaram a existir com os anos. Como as palavras são apenas representações gráficas de alguma coisa, sempre é possível criar algo novo, desde que seja compartilhado por todos.

“– No processo de constituição, de cristalização da norma-padrão como o que deve ser ‘a’ língua, ela é analisada pelos gramáticos, que escrevem livros para descrever as regras de funcionamento dela, livros que servem ao mesmo tempo para prescrever essas regras, isto é, impor essas regras como as únicas aceitáveis para o uso ‘correto’ da língua.” P. 23 Com o tempo, as ‘novas’ palavras utilizadas pela grande maioria das pessoas, podem acabar sendo aceitas pelos gramáticos. A partir disso, elas são escritas em livros, para só então serem aceitas como corretas. Enquanto existem apenas na linguagem oral não são consideradas como norma-padrão.

“– Por causa do tal investimento, a norma-padrão tem principalmente mais palavras eruditas, tem mais termos técnicos, tem um vocabulário maior e mais diversificado. (...) Mas se esse mesmo investimento fosse aplicado a qualquer uma das muitas variedades faladas no país, ela também se enriqueceria e se mostraria capaz de ser veículo para todo tipo de mensagem, de discurso, de texto científico e literário...” p. 23 As palavras e regras que temos como norma-padrão normalmente pertencem a um vocabulário mais sofisticado, pois são escolhidas por um grupo dominante e recebem alto investimento para que cheguem às gramáticas. No entanto, qualquer variação linguística cumpre o seu papel de comunicação e, com algum investimento, teria plena condição de se tornar uma língua como qualquer outra.

“(...) Fala-se um certo número de variedades de português, das quais algumas chegaram ao posto de norma-padrão por motivos que não são de ordem linguística, mas histórica, econômica, social e cultural. (...)” p. 28 A escolha do que será norma-padrão, portanto, é muito mais ligada a uma questão social e econômica do que à função comunicativa, que deveria ser o propósito da língua.

“(...) Por ser utilizado por pessoas de classes sociais desprestigiadas, marginalizadas, oprimidas pela terrível injustiça social que impera no Brasil – país que tem a pior distribuição da riqueza nacional em todo o mundo -, o PNP é vítima dos mesmos preconceitos que pesam sobre essas pessoas. Ele é considerado ‘feio’, ‘deficiente’, ‘errado’, ‘rude’, ‘tosco’, ‘estropiado’.” P. 28 Desta forma, a língua apenas aumenta a desigualdade social e é mais um meio de segregação, pois garante mais prestígio às camadas mais elitizadas (que tem acesso a norma-padrão) e marginaliza aqueles que falam a variação não padrão. Muitas vezes o aluno pobre, que não fala a língua normativa, é discriminado pelos colegas e professores, que ridicularizam o seu modo de falar.

“(...) O domínio da norma-padrão certamente não é uma fórmula mágica que vai permitir ao falante de PNP ‘subir na vida’ automaticamente. Mas é uma forma que esse falante de PNP tem de lutar em pé de igualdade, com as mesmas armas, ao lado dos cidadãos das classes privilegiadas, para ter acesso aos bens econômicos, políticos e culturais reservados às elites dominantes. Por isso devemos brigar pela efetiva distribuição democrática da riqueza linguística, assim como devemos brigar também pela distribuição democrática de tudo mais: terras, empregos, saúde, moradia, transporte, lazer, cultura, educação...” p. 30 Não adianta lutarmos por igualdade nos serviços de saúde ou querer uma justa distribuição social se não lutarmos contra o preconceito linguístico. É ilusão acreditar que um morador de periferia terá as mesmas condições para adquirir o domínio da norma culta do que uma pessoa de um nível social mais alto. A compreensão da existência do português não padrão como uma variação capaz de comunicar algo, de forma tão eficiente quanto a norma padrão, sem ser considerada um erro, abre fronteiras para uma maior igualdade entre as classes sociais.

“(...)No esforço enorme que temos de fazer diariamente para aceitar o outro, o diferente de nós, vamos incluir também a aceitação de uma língua diferente da nossa, mas que tem tanto parentesco com ela. Vamos ser humildes e tentar

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