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Manifestações Pós-coloniais em Carlos de Assumpção

Por:   •  15/1/2021  •  Trabalho acadêmico  •  2.885 Palavras (12 Páginas)  •  104 Visualizações

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As teorias pós-coloniais são corpos de pensamento preocupados principalmente com a explicação do impacto político, estético, econômico, histórico e social do domínio colonial europeu em todo o mundo nos séculos XVIII a XX. Elas tomam muitas formas e intervenções diferentes, mas todas compartilham uma afirmação fundamental: o mundo que habitamos é impossível de ser compreendido se desconsiderada a história do imperialismo e do domínio colonial. Isso significa que não é possível conceber a "filosofia europeia", "literatura europeia" ou "história europeia" como objeto concreto se na ausência dos encontros e opressões coloniais da Europa em todo o mundo. Elas também sugerem que o mundo colonizado está no centro esquecido ou desprezado da modernidade global. O prefixo “pós” do termo “pós-colonial” vem sendo rigorosamente debatido, mas não pretende implicar que o colonialismo tenha terminado; na verdade, grande parte delas preocupa-se com as formas remanescentes de autoridade colonial após o fim formal do Império e suas implicações. Outras teorias pós-coloniais se esforçam abertamente para imaginar um mundo depois do colonialismo, um que ainda precisa vir a existir. O conceito de Literatura Pós- colonial que adotarei aqui reflete a concepção de Ashcroft et al. (1998) para nomear toda a literatura produzida desde os primórdios da colonização até a contemporaneidade.

A teoria pós-colonial emergiu entre acadêmicos ingleses e americanos nos anos 70 como parte de uma onda maior de campos novos e politizados de pesquisa humanística, mais notavelmente o feminismo e o racismo. Da forma como é geralmente constituída, a teoria pós-colonial manifesta- se a partir do pensamento anticolonial do sul da Ásia e da África na primeira metade do século XX. Nas academias dos EUA e do Reino Unido, isso significa, historicamente, que seu foco tem sido nessas regiões, muitas vezes deixando de lado a América Latina e do Sul. Segundo Van Djik, “o interesse acadêmico pelo estudo do racismo e a luta contra essa prática na América Latina [...] emergiu pouco a pouco e relativamente tarde” (2014, p. 13).

Bonnici (2012) acrescenta que foi apenas durante as décadas de 1990 e 2000 que a teoria pós- colonial de caráter britânico passou a integrar as discussões nos círculos teórico literários do país:

Os Estudos Pós-coloniais, especialmente no viés da literatura negra e afro-brasileira,

começaram a ser estudados em disciplinas de graduação e de pós-graduação,

enquanto inúmeros trabalhos de conclusão, dissertações e teses foram escritos

analisando a literatura brasileira sob as teorias pós-coloniais. (BONNICI, 2012, p.

320)

Tais trabalhos executados em âmbito nacional evidenciam a necessidade de se questionar a literatura canônica brasileira, onde estão inseridos os autores negros dentro desse cânone e, ainda, como o indígena e o negro são retratados em obras de renome.

É comum celebrar-se, por aqui, a diversidade cultural e étnica em comerciais e programas televisivos exibidos em horário nobre, reforçando um tipo de discurso que ratifica uma noção de cultura igualitária com a qual todos que dela fazem parte se reconhecem e se identificam.

A nação não é apenas uma entidade política, mas algo que produz sentidos – um sistema de representação cultural. As pessoas não são apenas cidadãos/ãs legais de uma nação; elas participam da ideia da nação tal como representada em sua cultura nacional. Uma nação é uma comunidade simbólica e é isso que explica seu ‘poder para gerar um sentimento de identidade e lealdade’. (HALL, 1992, p.49).

Porém, deve-se lembrar, a partir do fragmento de Hall (1992), que os negros foram, na medida em que tinham seus corpos abusados e escravizados, e são, ainda hoje, impedidos de compartilhar com tal lealdade e identidade, uma vez que o sistema de representação cultural, explicitado acima, está pautado por referenciais majoritariamente brancos, mesmo depois de passados mais de 130 anos da abolição da escravidão. Isto significa dizer que as representações simbólicas, as crenças, os valores, enfim, tudo que aos negros esteja relacionado, não serão compatíveis com o sentido hegemônico de nação.

Viva a princesa Isabel

Viva a senhora redentora Agradecimento profundo

à bondosa princesa que em maio

nos deu de bandeja a Lei Áurea

Lei Áurea verdadeiro cheque sem fundo (ASSUMPÇÃO, 2000, p. 39)

negros

o preto de alma branca e o seu saco de capacho o preto de alma branca

e os seus culhões de cachorro

o preto de alma branca

e a sua cor de camaleão

o preto de alma branca

e o seu sujar na entrada

Por outro lado, existem os

que buscam se reconhecer nesse padrão cultural dominante,

renegando suas raízes a fim de serem aceitos numa sociedade etnocêntrica que rebaixa e discrimina

as manifestações da cultura afro-brasileira. O poeta Adão Ventura, que, assim como Assumpção,

busca uma literatura afro-brasileira que rompa com as imposições do dominador, retrata em seu

poema “Preto de Alma Branca: Algumas Conceituações” a que se sujeitam esses negros que não se

aceitam enquanto tal, procurando uma maneira de inserir-se no mundo do branco se distanciando

de suas origens africanas.

o preto de alma branca

e o seu cagar na saída

o preto de alma branca

e o seu sangue de barata cada vez mais distante

do corpo da Grande Mãe-África (VENTURA, 1988)

Para entender essa tentativa de distanciamento, é necessário entender o conceito de outremização: a marginalização do não branco por parte do branco. O termo, frequentemente abordado

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