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O FAZER POÉTICO EM CATAR FEIJÃO E METÁFORA

Por:   •  4/7/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.754 Palavras (8 Páginas)  •  1.424 Visualizações

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO[pic 1][pic 2]

CAMPUS JANE VANINI – CÁCERES

INSTITUTO DE LINGUAGEM

DEPARTAMENTO DE LETRAS

Estudos Literários: Teoria Literária I – 3º Semestre


Discente: Letícia Adrielly da Silva
Prof. Dr.ª Leonice Rodrigues Pereira


O FAZER POÉTICO EM CATAR FEIJÃO E METÁFORA


João Cabral de Melo Neto, nasceu em Recife em 1920 e veio falecer em 1999. Foi um dos maiores poetas da geração de 1945. Tinha forte interesse por literatura de cordéis, e desejava se tornar um crítico literário. Por mera coincidência do destino, conviveu com seus primos, que eram nada mais que Manuel Bandeira e Gilberto Freyre. Mas foi seguindo seu próprio caminho que produziu poesias de caráter objetivo, o processo de preparo do cozinhar o feijão; sem a ideia de sentimentalismo da “poesia profunda” da época. Para o poeta, “a poesia não é fruto de inspiração em razão do sentimento”, mas de transpiração, “fruto do trabalho paciente e lucido do poeta”.

Gilberto Passos Gil Moreira, nasceu em Salvador, Bahia, no dia 2 de junho de 1942. Ficou conhecido mundialmente como Gilberto Gil, por seu talento e inovação musical. Compositor e instrumentista, venceu prêmios Grammys, e Grammy Latino. Teve mais de cinquenta álbuns lançados, incorporados por uma gama eclética de influência do rock, música africana e o reggae.
Foi um dos criadores do Movimento Tropicalista nos anos 60. Em 1999, foi nomeado “Artista pela Paz” pela UNESCO. De 2003 a 2008 foi embaixador da ONU para agricultura e alimentação e Ministro da Cultura do Brasil. Com tudo, é um dos músicos brasileiros mais reconhecidos.
A canção “Metáfora” foi lançada no álbum “Um Banda Um” em 1982.

Uma das semelhanças da poesia “Catar Feijão” de João Cabral de Melo Neto, com a canção “Metáfora – 1982” de Gilberto Gil, é tentar descrever metaforicamente o fazer poético em seu mundo de produção artística. No contexto de João Cabral, o catar feijão, um ato comum do cotidiano passa a ter valor artístico ao se tratar da faceta que é criar uma poesia. E em Metáfora, Gilberto Gil, de forma criativa, usa uma simples lata para poetizar o processo libertário que o artista tem em criar sua própria arte.

O poema “Catar Feijão”, é composto por 2 únicas estrofes, ambas com 8 versos, todos pontuados no final.

Catar Feijão

1.

Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

2.

Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.

João Cabral de Melo Neto

Na primeira estrofe, João Cabral, assemelha o processo de colocar o feijão para cozinhar como colocar/construir ideia em um papel. Se trata em descrever o processo de escrita do poeta, ou seja, o ato decompor fazendo uma ponte nas ações “Catar Feijão” e “Escrever”, fazendo metaforicamente, com que ambas tenham o mesmo sentido neste contexto. E que segundo Antônio Candido; “generalizando em termos de método: o estudo do nível estrutural revela o significado, que é mais profundo em relação ao sentido ostensivo. ” (pág. 73)

Ainda na primeira estrofe, os grãos de feijões que boiam e não servirão para o alimento, e os grãos de feijões que pesam no fundo da panela para cozinhar, metaforicamente refere-se as palavras dentro da produção poética. Se os grãos estão como palavras, a água está como o papel. O ato de catar as palavras e colocar para construção literária, toma o mesmo cuidado de catar os feijões para cozinhar.

Na segunda estrofe, trata de que o cuidado de catar o feijão, serve para que não fique os grãos ruins duros como pedra. Lembrando a frase popular “Pedra no meu feijão”. Toma o sentido da mesma liberdade que Gilberto Gil trata em sua canção Metáfora.

Todo artista, tem o cuidado na construção, o que faz ser incontestável refutar ou questionar o sentido das palavras impostas. A poesia “Catar Feijão” e a canção “Metáfora”, são uma contextualização do aperfeiçoamento do eu-poético.  Toda poesia, carrega uma metáfora como sua principal característica. Catar feijão poderia ser catar palavras por exemplo.

João Antônio, usa palavras que remetem a outras, propositalmente de forma rítmica, de forma que fique fixa na mente ou registrada na memória. A repetição do uso das palavras “catar” e “jogar” junto com as palavras “feijão”, “grãos” e “palavras” é para levar a ideia do real processo com outro significado. Usando uma sequência de palavras tônicas e átonas com pontuação aplicada, enfatizando ainda o processo na memória.

Em Catar Feijão, não há sentimentalismo, como amor e saudade, entre outras coisas. Mas no entanto, mostra o cuidado em que o poeta/artista tem em elaborar sua obra e as lapidações que ocorrem no processo de transformação. O fazer poético, bem como como qualquer outra arte.

Na canção “Metáfora – 1982” de Gilberto Gil, a letra se trata em descrever a arte do próprio artista, exatamente no momento em que surge as ideias do eu-poético, ao fazer uma composição.

Metáfora – 1982

Gilberto Gil

1.

Uma lata (1) existe para conter algo,
Mas quando o poeta diz lata (2)
Pode estar querendo dizer o incontível

2.
Uma meta (1) existe para ser um alvo,
Mas quando o poeta diz meta (2)
Pode estar querendo dizer o inatingível

3.
Por isso não se meta (3) a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata (3)
Na lata (4) do poeta tudo-nada cabe,
Pois ao poeta cabe fazer

Com que na lata (5) venha caber
O incabível

4.
Deixe a meta (4) do poeta, não discuta,
Deixe a sua meta (5) fora da disputa,
Meta (6) dentro e fora, lata (6) absoluta,
Deixe-a simplesmente metáfora

(In: Umba banda um)

A canção é formada por 4 estrofes. As duas primeiras com 3 versos. A terceira, penúltima e maior delas com 6 versos. E a última com 4 versos, presente, estribilho nos dois primeiros versos junto com o último verso. Há rima na junção de todas as estrofes.

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