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O Feminino na Odisseia - Circe e Calipso: duas facetas do Eros

Por:   •  1/12/2016  •  Trabalho acadêmico  •  3.245 Palavras (13 Páginas)  •  1.099 Visualizações

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Introdução        

O Irresistível Perigo Sedutor da Feiticeira Circe        

A Promessa de Amor Imortal da Ninfa Calipso        

Conclusão        

Bibliografia        

        

        



Introdução

Na época em que foram escritos os poemas homéricos, a ideologia masculina detinha uma supremacia, com raízes profundas na história passada da sociedade patriarcal grega, pelo que confinava o papel da mulher à subalternidade e dependência pelo seu esposo. Um dos fios estruturantes da ação, na Odisseia, é, portanto, a relação entre o masculino e o feminino, especialmente devido ao contraste do que ocorre entre Ulisses e as personagens femininas, neste mundo fantástico, com as situações da realidade. Aliás, toda a viagem adquire verdadeiro sentido na persistência tenaz de Ulisses de regressar para junto da sua amada esposa, Penélope. Esse é o ansiado reencontro devido ao qual, apesar de todas as tentações a que foi sujeito, o herói nunca se deixou vencer, nunca perdeu a dignidade ou a fidelidade.

O feminino surge, nesta demanda aventurosa de Ulisses, como encarnação dos perigos desconhecidos e ameaçadores que retardam a infindável viagem de regresso a casa, pelo que as mulheres, na obra, são, frequentemente, figuras sobre-humanas ou personificações de beleza. Nas narrativas de nostos/nostoi (regressos através do mar, após a guerra de Troia), é usual a condução do herói a espaços insulares, isolados da civilização, fechados sobre si mesmos, que o privam da vida real que tanto desejava reencontrar e o aprisionam a um mundo fantasioso, perigosamente estranho e desconhecido. Os poderes sobrenaturais com que o herói da Odisseia se confronta nas suas deambulações oceânicas, assumem, na maior parte dos casos, uma forma feminina, como acontece com Circe e Calipso. Estas duas figuras sobrenaturais representam, simbolicamente, um dos obstáculos mais difíceis de superar por um homem: o poder da sedução feminina e tudo o que esta lhe pode oferecer.

No início da obra, Ulisses encontra-se involuntariamente isolado, pois a ninfa Calipso (a “oculta”, segundo a etimologia do seu nome Καλυψώ/Kalypsó) desejava-o como esposo e manteve-o prisioneiro, na sua ilha Ogígia – esta é a primeira passagem erótica, que é apresentada ao ouvinte/leitor, e surge associada ao elemento divino. Ali, o herói dos mil expedientes manteve-se, oculto e inativo, durante os quatro primeiros cantos da Odisseia, enquanto decorria a chamada “Telemaquia” (o que confere ao episódio de Calipso uma motivação poética), até que, no canto V, devido à decisão tomada pelos deuses em concílio, Atena, a deusa protetora de Ulisses, encarrega Hermes, o mensageiro dos deuses, de ir comunicar à ninfa a sua vontade, para que esta o liberte, ao que ela responde com as palavras: “Sois cruéis, ó deuses, e os mais invejosos de todos!/Vós que às deusas levais a mal que com homens mortais/partilhem seu leito, quando algum a escolhe por amante!/ (…) sentis rancor, ó deuses, porque me deito com um homem mortal” (Odisseia, V: 118-129)

A vivência erótica de Ulisses com Calipso foi a mais longa, mas não a primeira experiência que submetera o herói ao poder feminino, dada a anterioridade do seu encontro com a feiticeira Circe. Em ambos os casos, só a intervenção divina de Hermes permitiu ao herói libertar-se do eros (amor) subjugador daquelas mulheres não-humanas. Estas duas cenas são, praticamente, simétricas, o espelho uma da outra, e têm a função, não só de revelar determinados traços da intriga, como também de evidenciar determinadas características do herói.


O Irresistível Perigo Sedutor da Feiticeira Circe

Segundo o dicionário de mitologia greco-romana, Circe era uma feiticeira filha do deus Hélios, o Sol, e de Perséis, filha do Oceano, que vivia na ilha Aiaie. Além das suas aventuras amorosas com Ulisses (das quais, em algumas versões, nasceria Telégono), esteve romanticamente envolvida com Pico, rei dos latinos, com Júpiter/Zeus, união da qual nasceu o deus Fauno, e com o deus marinho Glauco. Também é mencionada no retorno dos Argonautas, história que em muito influenciou a Odisseia.

O episódio de Ulisses com Circe é narrado pelo próprio (narrador autodiegético), nos cantos X e XII, quando este se encontra na ilha dos Feaces (descrita como o “lugar ameno” clássico), constituindo uma das onze aventuras que compõem os Apologoi (narrações das aventuras do nobre Ulisses). Circe, a deusa “de belas tranças”, é a única experiência a que Ulisses se refere duas vezes (canto X 135-574 e canto XII 143), antes e depois da sua catábase/descida ao mundo dos mortos. Aliás, fora Circe que o aconselhara a ir ao Hades procurar a alma do adivinho Tirésias, para que este lhe revelasse a forma de regressar a Ítaca, para assim poder cumprir o seu destino.

É ela que apresenta Ulisses ao eros, representando o feminino como um perigo ameaçador, fantástico e sobrenatural, envolto em sexualidade, que detém a supremacia e tenta a libido masculina. Além disto, o episódio também aborda o tema da metamorfose e levanta questões acerca da visão homérica de Homem, ou seja, faz-nos questionar o que nos torna seres humanos e se se perdêssemos a nossa aparência e características físicas humanas se o continuaríamos a ser, na nossa mente.

Ulisses consegue evitar a sorte dos seus companheiros (que tinham sido transformados em porcos pela feiticeira), graças a uma erva que Hermes lhe dera e o tornou imune ao feitiço da maga. Contudo, não o conseguindo dominar através das suas artes mágicas, Circe utiliza a sua sensualidade, obrigando-o a subir à sua cama e deitar-se ao lado dela. Esta cena ilustra o domínio exercido pelo feminino sobre o masculino, inaceitável na sociedade patriarcal grega, todavia, admissível num mundo fictício como o da Odisseia. Porém, mesmo assim, o poder da mulher-feiticeira não é absoluto, pois Ulisses (que já tinha resistido ao seu feitiço), aceita, mas impondo-lhe uma condição antes de satisfazer a exigência: “Fica sabendo que não subirei para a tua cama,/a não ser que tu, ó deusa, ouses jurar um grande juramento:/que não prepararás para mim qualquer outro sofrimento” (Odisseia, X: 342-344).

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