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O Sequestro do barroco na formação da literatura brasileira: O caso Gregório de Matos - Resenha

Por:   •  4/8/2018  •  Resenha  •  1.447 Palavras (6 Páginas)  •  912 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO – ILC

FACULDADE DE LETRAS – FALE

LETRAS (LIC EM LINGUA PORTUGUESA)

PROFESSOR: THIAGO DE MELO BARBOSA

DISCIPLINA: LITERATURA BRASILEIRA I

DISCENTE: ANA CAROLINA CHAVES ANDRADE

MAT: 201209140069

BELÉM-PA

2015

RESENHA

CAMPOS, Haroldo de. O sequestro do barroco na formação da literatura brasileira: O caso Gregório de Matos, 2a ed., Salvador, Fundação Casa Jorge Amado, 1989.

No presente livro, Haroldo de Campos cita inicialmente, um problema que, segundo ele, seria insistente na historiografia literária brasileira: a “questão de origem”. Para tal, faz uma analogia com a paternidade incerta, quando da dubitabilidade das reais origens de uma tradição literária nacional submetida às premissas de uma perspectiva histórica, perspectiva esta utilizada por Antonio Candido em sua Formação da Literatura Brasileira, na qual exime a existência literária do poeta Gregório de Matos e, por conseguinte, a existência do Barroco brasileiro. Para Candido o que houve foi uma “manifestação literária” sem fôlego para fomentar uma tradição, ficando o poeta no ostracismo, ao menos até o Romantismo quando foi revisitado ou redescoberto e, posteriormente, no modernismo com Oswald de Andrade que o exalta como um mestre em técnica, riqueza verbal, entre outros predicados. Para Campos houve uma origem “vertiginosa” de nossa literatura, ou seja, a história é tratada não mais de forma segmentária, mas espiralada, sincrônica e conectada através de revisitas.

É abordado também um tema tratado como paradoxo borgiano que consiste na existência por inexistência, ou uma espécie de presença poética e ausência histórica, ou, de outra forma, aquele que criou por não ter existido enquanto valor formativo.         Esta ausência de Gregório de Matos na história literária de Candido foi o principal foco da crítica de Haroldo de Campos, tendo este apresentado uma concepção de história literária sincrônica, em detrimento às postulações de Candido que consideram que nos séculos XVI e XVII as manifestações literárias ocorridas no país não chegaram a compor um sistema articulado, pois não houve continuidade, fator primordial da historicidade diacrônica e, que somente com o advento do Arcadismo e o engajamento político de seus adeptos é que se constitui o verdadeiro início deste sistema articulado.

Campos fala de uma “ideologia substancialista” de Candido, uma “entificação do nacional”, referindo-se ao “espírito do ocidente”. Para tal faz uso dos pressupostos do desconstrucionismo do filósofo Jacques Derrida que, por sua vez, constata no discurso ocidental a “metafísica da presença”, ou seja, uma visão acrítica e submissa ao eurocentrismo, citando para tal a passagem da Formação em que Candido afirma que nossa literatura seria uma extensão da portuguesa que, por sua vez, seria a extensão de uma outra, a clássica.

De acordo com o conceito metafísico de história, esta seria linear e contínua, obedecendo a conceitos “épicos”, necessitando para tal determinar um início e continuidade de obras e autores. Este foi o modelo adotado por Candido para embasar seus pressupostos acerca de um tão necessário início da tradição literária nacional. A partir deste modelo nutre-se um elevado esforço de “construção” e de “expressão” para a “encarnação literária do espírito nacional”, o que por outro lado pode, muitas vezes, causar produções equivocadas e desprovidas esteticamente que logo seriam exclusas de seu conceito de literariedade.

Candido estrutura a literatura em sua obra Literatura como Sistema, em uma tríade, para ele, sem a qual não é possível designar literatura. Desta forma pode-se fazer uma analogia com o modelo de “funções da linguagem” de Jakobson e subsumir o de Candido nele, notando-se o privilégio dado por Candido às funções de linguagem referencial e emotiva acopladas na função comunicativo-expressiva, as quais se referem aos fatores comunicante e comunicando, dando ênfase às “veleidades mais profundas do indivíduo”, desta forma, evidenciando-se que para Candido os pontos mais importantes para a tradição literária seriam o produtor e receptor, prescindindo-se assim o transmissor, entendido aqui como a mensagem ou a função metalinguística.

Tendo em vista a conclusão de que a literatura que privilegia a função emotiva é a romântica, e que a ênfase na função referencial propicia uma literatura descritiva, como a épica, entende-se que o modelo proposto por Candido foi do tipo romântico com aspirações classicizantes que, não por acaso, fora adotado pela historiografia literária do século XIX para a elucidação da “individualidade nacional”. Isto, de fato, reiteraria as condições necessárias para a autoafirmação da identidade nacional. Ocorreu na literatura então uma transição de um início ingênuo e triunfalista para uma fase crítica, dentro de um processo ideológico que visava a literatura como “sistema simbólico”, o que legitimaria o romantismo nacionalista como verdadeira literatura pelo próprio fenômeno literário, já que este seria concebido tal qual o modelo funcionalista de Candido, pois dentro desta visão a periodização seria algo “natural”, semelhante a visão cientificista objetiva dos fatos histórico-literários tal como pensava Sílvio Romero. Todas essas premissas são embasadas nos conceitos de história linear e substancialista já refutadas anteriormente por não ser, de forma categórica, a única via para a compreensão historiográfica literária.

A exclusão do Barroco não seria, portanto, um simples resultado de uma “orientação histórica”, mas uma engenhosa articulação de um efeito semiológico para conferir à literatura características próprias do projeto do Romantismo ontológico-nacionalista que enfatiza o aspecto “comunicacional” e “integrativo” da literatura, ou em outras palavras: transmutou-se a literatura em objeto ideológico para a já afamada “literatura engajada” de Candido, que quase abdicava de critérios estéticos para uma espécie de “bem comum” à construção forçosa de uma identidade literária nacional. Neste contexto o Barroco estaria obsoleto, pois presava preferencialmente pela função poética e metalinguística, esta, exagerada e rebuscada, em confronto com a objetividade e descrição necessárias a uma linguagem de princípios comunicativos e funcionais, uma literatura que tolhe “exercícios de fantasia” por preocupações políticas. Mesmo mais adiante, quando da revalorização do Barroco, Candido, em Presença da Literatura Brasileira, ainda assim rechaça a autenticidade de um barroco literário no Brasil, definindo a obra de Gregório de Matos como irregular e pouco produtiva, trando-a com desdém e utilizando termos pejorativos para designá-la, referindo-se à ela também como mera imitação do que já se fazia na Europa, mais especificamente na Espanha, por Gôngora.

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