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OS ECOS ROMÂNTICOS NO REGIONALISMO-NATURALISTA DE RODOLFO TEÓFILO

Por:   •  9/4/2018  •  Artigo  •  8.178 Palavras (33 Páginas)  •  279 Visualizações

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OS ECOS ROMÂNTICOS NO REGIONALISMO-NATURALISTA DE RODOLFO TEÓFILO

                        Maria Aparecida de Assis Teles SANTOS; Rogério SANTANA

FL-UF   Acidateles.assis@hotmail.com    rsantos@letras.ufg.br

                O presente trabalho propõe uma análise estrutural da obra “A fome - Violação”, do escritor Rodolfo Teófilo, publicada em 1890, marcando o início do Naturalismo no Ceará. A obra retrata a história de Manuel de Freitas e sua família durante a grande seca que se abateu sobre aquele estado no período de 1877 a 1879. Meu objetivo é verificar as características do Realismo-Naturalismo presentes na obra, bem como, pontuar as reminiscências do Romantismo neste que pode ser considerado um romance de transição. Para se chegar ao autor cearense “de coração”, como ele mesmo gostava de definir sua naturalidade, visto que é “baiano por acidente”, foi necessário abordar, mesmo que brevemente, o histórico-literário do Realismo- Naturalismo desde a França, passando por Portugal, chegando ao Brasil, e finalmente ao Ceará.   Realismo e Naturalismo, originários da França, na segunda metade do século XIX, representaram repúdio ao Romantismo e caracterizaram-se pelo espírito de exatidão, objetividade científica, precisão na descrição e tentativa de imitação da realidade. O Realismo defende a razão, influenciado pelo Positivismo, sobretudo na busca do conhecimento dos fatos através da experiência. Os escritores deste movimento literário seguem a linha filosófica determinista de Taine (o comportamento humano, na obra de arte que o investiga, é determinado pela confluência de três fatores: o meio, no qual está inserido o personagem: com sua origem e povo; e o momento histórico em que ocorre o enredo). O novo ideal científico se encarna na teoria evolucionista de Darwin e na idéia do evolucionismo social de Spencer. O escritor realista assemelha-se ao cientista ao escrever seus textos com minuciosa observação dos fatos, na análise psicológica das personagens, no estudo de costumes, representa o mundo de forma impessoal e objetiva, escolhendo uma linguagem que mais se aproxima da realidade.         O Naturalismo prolongou e exagerou o Realismo. Em muitas vezes eles são confundidos, pois as idéias são as mesmas, com algumas particularidades para o movimento naturalista —que também se fundamenta em bases científicas e filosóficas. Contudo, este movimento põe a ciência no plano de demonstração de teses científicas, principalmente em psicopatologia: os escritores procuravam apreensão mais científica dos fatos e uma visão patológica das personagens.

                        
                
Com todas essas idéias surge na França o Realismo-Naturalismo: Madame Bovary, de Gustave Flaubert, em 1857 (o Realismo) e 10 anos depois, em 1867 Thérèse Raquin, de Émile Zola (o Naturalismo).        
                
O Realismo português inicia-se em 1875 com “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queirós, e em 1891 o Naturalismo com O Barão de Lavos, de Abel Botelho.                 No Brasil as idéias do Realismo-Naturalismo deram continuidade ao ideal francês e português. Em 1881, Machado de Assis publica Memórias Póstumas de Brás Cubas, romance realista, e no mesmo ano houve a publicação de O Mulato, de Aluísio Azevedo, com idéias naturalistas.                                                                                  No que diz respeito à Literatura Cearense, os movimentos Realismo e Naturalismo surgiram na década de 1880, com o Clube Literário, que teve como órgão na imprensa a revista A Quinzena, que circulou de 1887 a 1888, realizando um total de 30 números. Participaram desse periódico: João Lopes, Antônio Martins, Abel Garcia, José de Barcclos, José Olímpio, José Carlos Júnior, Oliveira Paiva, Antônio Bezerra, Justiniano de Serpa, Paulino Nogueira, Martinho Rodrigues, Farias Brito, Pápi Júnior, Ana Nogueira, Francisca Clotilde, Álvaro Martins, Juvenal Galeno e outros.                         O Realismo despontava com os contos de Oliveira Paiva e os de Rodolfo Teófilo, sendo deste a obra A Fome, publicada em 1890, consolidando a prosa naturalista. O Realismo-Naturalismo na prosa cearense fortalecia- se com, além dos dois escritores já citados, Adolfo Caminha e Pápi Júnior.                                                        Rodolfo Teófilo. Nascido na Bahia, em 6 de maio de 1853, contudo foi no Ceará que passou toda sua vida, exercendo as atividades de cientista e escritor até a sua morte em 2 de julho de 1932, aos 79 anos de idade. Foi caixeiro, farmacêutico, professor, sanitarista, um defensor das causas abolicionistas, escritor e o último Padeiro-Mor da Padaria Espiritual[1]. Ele afirmava, sou cearense porque quero.                                        Ao propor-se um estudo sobre o regionalismo, como vertente literária, faz-se necessário a delimitação desse termo, visto que  se encontra eivado de vários significados. Afrânio Coutinho, em  A literatura no Brasil (1986, p.235), em consonância com Georg  Stewart, define regionalismo de duas maneiras. Em sentido amplo, “toda obra de arte é  regional quando tem por pano de fundo alguma região em particular ou parece germinar intimamente desse fundo [...]. Mais estritamente, para ser regional, uma obra de arte não somente tem que ser localizada numa região, senão também  deve retirar sua substância real desse local”.                                                                         Conforme Coutinho (1986), desde o Romantismo, com a valorização do genius loci, cresce a importância do Brasil regional. Assim, a narrativa regional romântica, devido à independência política e cultural do Brasil, aparece de forma consciente, priorizando o caráter nacional com o seu localismo, folclore e tradição,  apesar de ter sido caracterizada pelo subjetivismo saudoso e pelo escapismo dos românticos.                            Os românticos, ao revelarem o Brasil, assim como o sertanejo, buscavam uma identidade nacional que se encontrava atrelada à literatura portuguesa, de cuja “dependência” a literatura brasileira necessitava libertar-se.                                          A História do Regionalismo, na visão do historiador, continuou no Realismo-Naturalismo com a mesma  concepção do Romantismo, fugindo, apenas, do saudosismo e dos escapismos românticos, para considerar a existência verossímil do homem em sua região. O regionalismo, na prosa de ficção brasileira, diz Coutinho (Id., 250), “nasceu, sem dúvida, sob o signo do Romantismo para, depois, misturar-se às  receitas naturalistas e realistas, sob a influência de Zola e Eça de Queiroz”. Logo, o Romantismo proporcionou a valorização dos elementos locais, análise e interpretação da realidade brasileira.                                                                                                  Nesse contexto, o historiador defende o estudo do regionalismo baseado nas regiões culturais e na importância da produção literária e não na divisão geográfica do país. Para tanto, ele estabelece seis regiões: grupo nortista, grupo nordestino, grupo baiano, grupo central, grupo paulista e grupo gaúcho.                                                  Antonio Candido, em Formação da literatura brasileira: momentos decisivos 2000, reconhece que um dos aspectos formadores do Romantismo foi o nacionalismo, já evidente em José de Alencar, que lança as bases do romance brasileiro com um dos seus filões, o regionalismo, proporcionando um caminho que leva ao Naturalismo e às obras de Franklin Távora e de Visconde de Taunay.                                                            O historiador destaca que a literatura do Naturalismo busca como definiu Viana Moog (apud CANDIDO, 2007, p.267), “um regional autônomo e diferente, caracterizado pelo seu genius loci particular” que, na segundo Candido, encontra-se no Nordeste, representado nos romances de Franklin Távora.                                                         Ainda é de Candido a afirmação, que o regionalismo de Távora edifica-se em três pilares que se constituem, em proporções variáveis, na principal base do regionalismo do Nordeste:

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