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PRESENÇA no gótico Edgar Allan Poe Ligeyi

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Por:   •  27/1/2014  •  Tese  •  3.232 Palavras (13 Páginas)  •  541 Visualizações

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A PRESENÇA DO GÓTICO EM LIGÉIA DE EDGAR ALLAN POE

KEILA RACKEL TAVARES MACHADO*

PROF. DR. RAFAEL QUEVEDO**

RESUMO

O presente artigo vem discutir o fato do conto “Ligéia” de Edgar Allan Poe ser considerado um conto de terror, mistério e morte e não um conto gótico, já que este possui, além do mistério, outras características que autorizam esta releitura do conto, tais como: a questão da autenticidade narrativa do personagem narrador, o desejo, a descrição do cenário desolador e ambientes sombrios da abadia, o mistério, além do efeito fantástico que autoriza tal leitura e reforça a presença do gótico em “Ligéia”.

Palavras-Chave: Mistério. Gótico. Desejo. Fantástico.

1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é propor a leitura do conto “Ligéia” de Edgar Allan Poe como sendo um conto gótico. Antes de tudo, iremos nos ater ao fato de o conto ser reconhecido como conto de mistério, e de Allan Poe ser também reconhecido mundialmente como autor de mistério.

Levantaremos aqui a premissa de ser o mistério a condição sine quo non do gótico. Para tal é preciso, primeiramente, traçar uma noção do que seja o gótico, como se apresentou na literatura, e pontuar suas características presentes no conto a ser trabalhado, além de apresentar o efeito gótico que a hesitação do fantástico provoca no conto trabalhado.

A fundamentação teórica do trabalho será respaldada por autores como Baddley, Jason, Mendes, Monteiro, Radcliffe, entre outros. Tais autores contribuirão no sentido de fornecer argumentos que possibilitem verificar a presença do gótico no conto aqui exposto.

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2 O ESTILO GÓTICO

O gótico tem suas origens fincadas na arquitetura e foi um homem chamado Suger, o abade, que idealizou a construção de uma catedral com o objetivo de torná-la o centro religioso e político da França, a Catedral de Saint-Denis. Para tal, mesclou elementos da arquitetura da época, a românica, com a inspiração dionisíaca, proporcionando que a luz adentrasse na capela, causando um efeito sobrenatural de luz divina, ao passo que também se utilizou da lógica matemática das abóbodas para caracterizar a racionalidade humana.

A partir daí, as catedrais foram incorporando aspectos pré-cristãos à sua arquitetura (como gárgulas e vitrais), que passou a ser considerada pela Igreja Católica uma estética pagã que contaminava a santidade das Igrejas. Cada vez mais a arquitetura afastava-se do ideal romântico e se influenciava pela cultura local.

A escultura gótica é um elemento à parte, muitas vezes colocada nas catedrais sem ter tido o propósito de agregar valor à temática da construção. Seu real propósito era o de estabelecer uma aproximação gradual à figura humana, desenvolvendo novas capacidades expressivas e autonomizando-se em relação à arquitetura. Sem sombra de dúvidas, a mais significativa das esculturas góticas é a Morte da Virgem, do tímpano da Catedral de Estrasburgo, onde a forma com que os Apóstolos tocam o corpo da Virgem e a emoção que se percebe em seus rostos foi vista com certa estranheza e até como forma de desrespeito à figura representativa da Igreja Católica Medieval.

As grandes catedrais francesas do gótico pleno representam um tal dispêndio concentrado de esforços que raramente se viu... São monumentos verdadeiramente nacionais, de custos incalculáveis, erguidos com donativos recolhidos m toda França e de todas as camadas sociais ¬– a expressão tangível dessa fusão de fervor religioso e político que fora o objetivo do abade Suger. (Jason, 2001, p.440.)

O gótico em si, vai muito além de suas noções arquitetônicas; ele se compromete com o não realismo, com a quebra do ideal neoclássico de ordem, assumindo assim o resgate da liberdade da imaginação. Funciona também como uma forma de reação ao realismo, trazendo em suas narrativas uma constante oscilação entre o real e o imaginário, um discurso permeado de mistério, dando ênfase à mulher que passa a ser adorada, endeusada e desejada arduamente. O espaço nos contos góticos é extremamente carregado de significado: os castelos, mosteiros, abadias se juntam ao resgate de elementos mitológicos e se misturam às formas dos ambientes para compor os estados de humor dos personagens. Além disso, resgata o espírito da Idade Média, endeusa a figura feminina e, na natureza, alia os seus lados de luz e trevas.

O gótico é uma barbárie sofisticada. É a paixão pela vida coberta pelo simbolismo da morte. (...) É a compulsão por fazer a coisa errada pelos motivos certos. É uma nostalgia ansiosa pelos dias sombrios que nunca existiram. É a negação da realidade e a transferência da fé para o imaginário (Baddeley, 2005, p. 19).

Gothic Revival nasce em meio às revoluções sociais e econômicas do século XVIII. O gótico se configura nas manifestações artísticas, estéticas e comportamentais que se utiliza das diversas formas de arte para questionar as mudanças ocorridas na sociedade medieval trazida pela Revolução Francesa, Iluminismo e Racionalismo.

Tais temas eram vistos como tabus nesta época: a fé, a morte e a sexualidade são tratadas de forma metafórica em pequenos contos e poemas ambientados em castelos, abadias, mosteiros e catacumbas assombradas, e os personagens dos góticos são alienados, divididos entre conceitos de certo ou errado, de real e ilusório, além de não possuírem qualquer controle sob seus desejos e fantasias.

3 A LITERATURA GÓTICA

A literatura gótica nasceu na Inglaterra no período das décadas de 1760 até 1820 e exerceu grande influência nas histórias de terror que hoje povoam a nossa literatura. Opõe-se ao realismo, ao Iluminismo e ao racionalismo; é uma literatura social burguesa que usa o terror como forma de expressar seus medos e desejos, e faz alusão aos “godos”, povo bárbaro germânico que fez frente à dominação Igreja Católica. Este tipo de literatura tornou-se bastante difundida na Europa Iluminista e, posteriormente, nas Américas.

De acordo com Silva (2005, p.138) o gótico é uma fusão do romance e do novel que “apareceu como uma reação da imaginação ao racionalismo e ao realismo e ao moralismo que marcam o Iluminismo e a literatura neoclassicista do século XVIII”.

Ainda de acordo com Silva

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