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RESENHA DO LIVRO: O OTELO BRASILEIRO DE MACHADO DE ASSIS

Por:   •  19/6/2018  •  Resenha  •  1.517 Palavras (7 Páginas)  •  922 Visualizações

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Universidade de Brasília – UnB

Departamento de Teoria Literária e Literaturas – TEL

Disciplina: Realismo – Literatura Brasileira

Turma: A

Professora: Dapheny Feitosa

Aluna: Carolina de Brito Ribeiro               / Matrícula: 16/0115914

RESENHA DO LIVRO

“O OTELO BRASILEIRO DE MACHADO DE ASSIS”

Publicado pela primeira vez em 1899, “Dom Casmurro” é uma das grandes obras de Machado de Assis e uma das mais importantes da literatura brasileira. Em “ Dom Casmurro” “Bentinho e Capitu são criados juntos e se apaixonam na adolescência. Mas a mãe dele, por força de uma promessa, decide enviá-lo ao seminário para que se torne padre. Lá o garoto conhece Escobar, de quem fica amigo íntimo. Algum tempo depois, tanto um como outro deixam a vida eclesiástica e se casam. Escobar com Sancha, amiga de infância de Capitu, e Bentinho com Capitu. Os dois casais vivem tranquilamente até a morte de Escobar, quando Bentinho começa a desconfiar da fidelidade de sua esposa e percebe a assombrosa semelhança do filho Ezequiel com o companheiro de seminário. ” Através desse livro, Machado mostra o olhar crítico que tinha acerca da realidade da sociedade brasileira daquela época. Mas, a temática do ciúme, das relações, da desconfiança e da traição, abordadas no livro, que, na verdade, provocam polêmicas até hoje, gerando controvérsias entre os críticos, os autores, entre todo mundo, até mesmo quem não conhece afundo a obra se pergunta: Capitu traiu ou não traiu Bento Santiago?

Até, mais ou menos, 1960, era quase unanime que Capitu era sim uma infiel, adúltera, dissimulada, rameira. Mas a autora, professora e crítica literária norte-americana Helen Caldwell (1904-1987) foi a percursora da ideia de que na verdade tínhamos que desconfiar do discurso de Bentinho e não da fidelidade de Capitu, ela conseguiu propor essa ideia, desconstruindo a narrativa tendenciosa de Bento através de vários argumentos fortíssimos, convincentes e autênticos no livro "O Otelo Brasileiro de Machado de Assis – um estudo de Dom Casmurro" publicado exatamente em 1960, foi primeiro livro inteiramente dedicado à análise de um romance do escritor.

Porém para quem pensa que Hellen é só mais uma crítica feminista, está errado, além de ser a pioneira na tradução de “Dom Casmurro” para o inglês, em 1953, fato importantíssimo para a divulgação internacional da obra machadiana, traduziu também para o inglês outras obras de Machado, como Helena, Esaú e Jacó, Memorial de Aires e um volume de contos machadianos. Caldwell é uma especialista na obra de Machado, escreveu também um ensaio, em 1952, intitulado, “Nosso primo americano, Machado de Assis”, nesse ensaio ela compara Machado de Assis a Shakespeare, ideia que retomará e desenvolverá com mais ênfase no livro “O Otelo Brasileiro de Machado de Assis”.

No livro “O Otelo Brasileiro de Machado de Assis” Hellen defende com excelência Capitu, que até então era “perseguida” por todos. Nesse estudo a autora aponta aspectos que antes passavam despercebidos em “Dom Casmurro”, realizando uma verdadeira análise investigativa nas entrelinhas da estória, se atentando as contradições de Bento, símbolos e buscando fontes para reafirmar sua posição. O olhar estrangeiro e feminista da autora gerou uma crítica feroz à Dom Casmurro, na verdade uma crítica à leitura “errada” que faziam de “Dom Casmurro”, conseguindo inverter essa leitura.

Há quem diga que é exagero ou “besteira” se atentar a nomes e a construção dos personagens, como fez Hellen, e prefere acreditar na narrativa de Bento Santiago, ilogicamente. Pois sabemos que as estórias de Machado são sempre muito mais do que parecem, isso também é percebido em vários outros contos, ou seja, quem acredita logo “de cara” que Capitu é uma traidora foi porque fez uma leitura superficial da estória, porém quem começa a duvidar de Bento é porque fez uma leitura mais profunda e atenta, percebendo o que Machado sempre deixa nas entrelinhas, como fez Hellen. Relembrando, que o próprio narrador, e o mais interessado em acusar Capitu, é formado em direito, ou seja, ele sabe convencer alguém daquilo que ele acredita ser verdade.

Mais precisamente no capítulo 7 do livro “O Otelo Brasileiro de Machado de Assis”, Caldwell reúne “provas” incontestáveis, de que a desconfiança que Ezequiel seja na verdade filho de Escobar, é puro resultado do ciúme de Bento, e prova que isso foi despertado apenas pelas casualidades das semelhanças físicas e de trejeitos entre Ezequiel e Escobar. Assim, o adultério teria sido fruto da imaginação de Santiago, consumida pelo ciúme doentio.  Pois, como o próprio Bento aponta no livro, há muito mais gente que se parece com outras pessoas: o próprio Bentinho é baixo, enquanto seu pai é alto; Capitu se parece com a mãe de Sancha, embora não tenha parentesco com ela; Ezequiel e a filha de Escobar se imitam, até o próprio Bento disse que quando criança também imitava. Assim, Hellen, consegue, facilmente, refutar esse argumento da semelhança usado por Bento.

A narração de Dom Casmurro, sendo feito na primeira pessoa pelo próprio “acusador” é bem suspeita, Bento Santiago, o Dom Casmurro e narrador-protagonista, escreve sobre o seu passado. Assim, toda a narração está dependente da sua memória, os fatos são contados segundo o seu ponto de vista. Devido a este caráter subjetivo e parcial da narração, o leitor não consegue distinguir a realidade e a imaginação de Santiago, duvidando da sua autenticidade enquanto narrador. Vale lembrar que o termo "casmurro", colocado no título e explicado no primeiro capítulo de “Dom Casmurro, pode ter outro sentido, além "fechado" ou "calado": o de "obstinado" ou "teimoso", deste modo, podemos pensar que essa foi uma das pistas deixadas por Machado que o adultério não passou de uma cisma do protagonista. Pois, como aponta Hellen, Bento se contradiz e se perde muitas vezes em sua própria narração.

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