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Resenha Crítica: O Racismo nos anúncios de emprego do século XX

Por:   •  8/2/2019  •  Resenha  •  1.400 Palavras (6 Páginas)  •  296 Visualizações

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

Marília Molinari Nascimento (Nº USP 9333471)

Teorias do Texto – Enunciação, discurso e texto

Prof.ª Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade

Resenha Crítica: O Racismo nos anúncios de emprego do século XX

OLIVEIRA, Kelly Cristina de; PIMENTA, Sonia Maria de Oliveira. O racismo nos anúncios de emprego do século XX. Linguagens em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 16, n. 3, p. 381-399, set./dez. 2016.

O Racismo nos Anúncios de Emprego do Século XX retrata, através do olhar crítico de Kelly Cristina de Oliveira, Doutora em Filologia e Língua Portuguesa e Sonia Maria de Oliveira Pimenta, Doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, um retrato da segregação racial comum na sociedade do início do século XX através de veículos midiáticos. Ao analisar 20 anúncios de empregos (oferta e procura) em jornais paulistas, Oliveira e Pimenta conseguiram encontrar expressões que refletiam diretamente o racismo da época, colocando a sociedade negra em um “círculo vicioso de exclusão e preconceito” (OLIVEIRA & PIMENTA, 2016). Com os dados em mãos, foi possível encontrar relações que dizem respeito à influência midiática e também àquilo que Fairclough (2003) denomina como práticas sociais.

O racismo no século XX ainda era um conceito recente, visto por grande parte da sociedade, inclusive por muitos negros, como algo inexistente, ou seja, a segregação social seria o destino e a aceitação de tal situação era a única saída, uma vez que as pessoas com a pele clara e traços europeus teriam uma superioridade em relação tanto aos negros quanto aos índios. Devido à tal ignorância, expressões de cunho racista e disseminação de termos preconceituosos foram facilmente aceitas nos veículos midiáticos da época, como jornais e periódicos.

A colocação de tais expressões não foi, em momento algum, uma surpresa para a sociedade da época, visto que décadas antes o espaço onde haviam ofertas de emprego era ocupado com venda de escravos. No entanto, a problematização se encontra a partir do momento em que, de tão habituada com a situação, não há reação alguma por parte da sociedade e os veículos de comunicação se tornam exemplos de práticas sociais, perpetuando simbologias negativas acerca da população negra brasileira.

Embasadas em Fairclough em sua Análise Crítica do Discurso, Oliveira e Pimenta interpretam os dados históricos e encontram nos anúncios de emprego, uma maneira de legitimação da ideologia racista da época. O poder das “elites simbólicas” (VAN DUK, 2010, p.237), também vistos como os pensadores da época (professores, acadêmicos, jornalistas, etc.), era grande o suficiente para a instauração e consolidação de uma sociedade embranquecida, na qual tanto a classe dominante quanto a classe operária eram formadas de cidadãos civilizados, donos de cultura e moral e que representassem o progresso e o desenvolvimento da nação, marcas essas que não eram, de forma alguma, associadas com o público negro.

O fim da escravidão, em 1888, proporcionou o surgimento de ideologias nas quais o Brasil perderia suas marcas imperiais e, através do embranquecimento populacional haveria uma repaginação social, trazendo progresso e cultura para a fundação de um novo país. As estruturas conservadoras, segundo Oliveira e Pimenta (2016), se perpetuam pelo tempo e espaço através das práticas sociais, nessa situação em especial, pelos anúncios dos jornais do início do século XX, e somente movimentos transgressores seriam capazes de ir contra a maré e começar alguma mudança significativa. Os partidos socialistas e comunistas são exemplos a serem citados, uma vez que incentivaram o empoderamento negro e a exaltação da cultura africana no Brasil, no entanto, tais movimentos só tiveram avanço após a Primeira Grande Guerra.

Apenas em 1951 começaram a ser tomadas decisões jurídicas acerca do preconceito exposto nas mídias, com a Lei Afonso Arinos que deveria punir discriminação racial, mas devido a sua ineficácia foi necessário consolidar uma segunda lei, em 1989, dessa vez inafiançável que puniria o racismo, conhecida como Lei Caó. Analisando as datas, é possível deduzir que foi necessário mais de meio século para que o negro fosse tratado com a mesma dignidade que os demais brasileiros de pele clara. Até então, a presença do racismo nas mídias agia de forma naturalizada e toda uma sociedade era influenciada através dos discursos racistas e preconceituosos perpetuados nos jornais.

Ainda baseadas na teoria de Fairclough (2003), Oliveira e Pimenta reforçam, através de exemplos, que os signos são motivados socialmente, ou seja, tudo aquilo que é reproduzido pode desencadear consequências sociais, econômicas e, em especial, cognitivas. Nesse caso, através dos anúncios de empregos é que os preconceitos raciais são reforçados e a posição social do negro é rebaixada. Uma sociedade que observa, entre as qualidades de uma oferta de emprego, a tonalidade da pele começa a ser conscientemente e inconscientemente influenciada, tomando tais dados como verdade. Logo, o poder do discurso, principalmente de veículos grandes como o jornal impresso era no começo do século XX, pode causar grandes impactos na sociedade, sendo esses positivos ou negativos.

Do ponto de vista crítico, Oliveira e Pimenta observam o caminho da informação como algo que parte da mídia em direção ao público alvo, mas em certo ponto parecem desconsiderar o feedback de tal relação. Certamente a mídia exerce um poder social, tanto um século atrás quanto na atualidade, mas é necessário avaliar que, para que essa informação tenha força e aceitação é necessário que a sociedade compactue com o conteúdo. A colocação da cor da pele nos anúncios de emprego vai muito além da vontade da “elite simbólica”, é a vontade do empregador.

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