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CONCEPÇÕES DE CRIANÇA E INFÂNCIA NO EPISTOLÁRIO DO JESUÍTA FRANCISCO XAVIER (1542-1552)

Por:   •  27/9/2021  •  Artigo  •  4.270 Palavras (18 Páginas)  •  102 Visualizações

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CONCEPÇÕES DE CRIANÇA E INFÂNCIA NO EPISTOLÁRIO DO JESUÍTA FRANCISCO XAVIER (1542-1552)

CONRADO, Sidineia dos Santos

BORGES, Felipe Augusto Fernandes

RESUMO: O presente artigo busca entender algumas concepções de criança e infância do missionário Francisco Xavier, que teve uma participação essencial na ação missionária da Companhia de Jesus. Para isso, analisa-se uma coletânea de cartas do referido padre, estudando esses assuntos sob seu ponto de vista. O objetivo deste artigo é analisar as cartas e escritos do padre jesuíta Francisco Xavier a fim de compreender as concepções a respeito de criança e infância presentes nas mesmas. Essas concepções do padre Francisco Xavier e suas consequentes implicações representavam um ponto de referência para os jesuítas de todo o mundo sendo assim um exemplo a ser seguido. Concluímos com esse estudo que através das cartas e relatos minuciosos que percorriam todos os lugares, a sua ação missionária no Oriente acerca da concepção de infância e crianças foi a de salvar as almas através da conversão. Para tanto, o batismo era essencial, pois ele via nas crianças uma forma de evangelizar e converter os povos chegando aos pais, educar e catequizar, ensinar as orações. Considerava esta a forma mais certa de atingir a salvação daquelas almas. Além disso, a documentação analisada nos mostra também que era dado grande importância ao ensino das crianças, como um público preferencial para conversão. O fato das crianças não terem ainda os “vícios” dos adultos, de serem mais prontas e preparadas para a conversão era sempre relembrando na escrita de Xavier.

PALAVRAS-CHAVE: Francisco Xavier. Companhia de Jesus. Educação. Concepções de criança e infância. Catequese.

Introdução

As cartas enviadas pelos padres e missionários da Companhia de Jesus, espalhada por todo mundo, eram a principal forma de comunicação da Ordem. Através delas eram definidos os rumos e as orientações a serem repassadas para todos os colégios, todas as missões, enfim, para todo o contingente disperso da Companhia de Jesus. Eram também um meio de orientar os missionários tão dispersos, formalizando e organizando a Companhia de Jesus. Dentre as muitas cartas enviadas por padres missionários espalhados pelo mundo, este trabalho se debruça sobre as do padre Francisco Xavier, nos dez anos de intensa ação missionária, desde quando desembarcou em Goa, em 1542, até sua morte, em 1552, para analisarmos a forma com que ele tratava as crianças e como ele as via, ou seja, buscamos sua concepção de infância.

Francisco Xavier foi, sem dúvida, um dos missionários que mais evangelizou no Oriente. Ele, junto a Inácio de Loiola e mais seis amigos foram fundadores da Companhia de Jesus. Figura importantíssima, o missionário foi o maior conquistador do Oriente, como nos fala o padre jesuíta Mario Martins, na sua introdução das “Obras completas de Francisco Xavier” (2006, p.17), que é nossa principal fonte de pesquisa.

A Companhia de Jesus

A Companhia de Jesus trata-se de uma organização fundada oficialmente em 27 de setembro de 1540 por um grupo de padres que ficaram conhecidos como “padres renovados”. O principal objetivo desses fundadores era, primeiramente, a retomada da Terra Santa para os cristãos. Impedidos de realizar a viagem com esta finalidade, acabaram voltando-se para a propagação da religião católica pelo mundo. O primeiro documento que registra tal organização, embora haja indícios de outros documentos que foram perdidos, trata-se de uma carta escrita em Paris no dia 27 de fevereiro de 1538, por Diogo de Gouveia a D. João III, Rei de Portugal (1521 – 1557). Serafim Leite afirma que a carta de Gouveia não é o primeiro documento que aproxima a Coroa Portuguesa com a Companhia de Jesus, infelizmente cartas anteriores haviam sido perdidas (COSTA, 2004, p. 25).

Em 4 de agosto de 1539 o Rei D. João III escreveu a Pedro de Mascarenhas, seu embaixador em Roma, para que entrasse em contato e constatasse a veracidade das informações dos elogios que Gouveia fazia aos padres e se assim fosse realmente, procedesse e falasse com o Papa Paulo II (1534 – 1549) pedindo permissão para que aqueles padres servissem ao Rei Português como missionários nas Índias. O Rei deixa claro na carta que a empresa comercial/colonial portuguesa nas Índias era acima de tudo uma empresa religiosa e que o rei precisava dos jesuítas (COSTA, 2004; BORGES, 2015).

Em resposta à missão recebida, Pedro Mascarenhas enviou uma carta em 10 de março de 1540 ao Rei noticiando a veracidade das informações de Gouveia, informando também do contato com o Papa, o qual permitia a ida dos padres da Companhia para Portugal, condicionando que Mascarenhas os convencesse. Foram destacados a irem primeiramente Simão Rodrigues e Nicolau Bobadilha, porém devido a problemas de saúde de Bobadilha, Francisco Xavier foi em seu lugar (BORGES, 2015).

Simão Rodrigues chegou em Lisboa no dia 17 de abril de 1540; Francisco Xavier só chegou em fins de junho de 1540 acompanhado por Pedro Mascarenhas. Em 23 de julho Xavier escreveu para Loyola e Bobadilha informando da chegada e da intenção dos portugueses e particularmente do Rei e rainha para que a Companhia de Jesus edificasse uma casa em Portugal (BORGES, COSTA & MENEZES, 2019).

Numa carta de 1540 de Simão Rodrigues para Loyola e Codazzo, mostra-se que apesar da insistência dos padres para as missões o Rei ordenava que ficassem no reino deixando de lado o primeiro objetivo da sua vinda a Portugal que era serem missionários nas Índias. Justificava-se que poderiam acompanhar os presos em tribunais e evangelizar cristãos novos. Através de negociação direta com Inácio de Loyola resultou-se de que Simão Rodrigues permanecesse em Portugal e Francisco Xavier fosse para as Índias (COSTA, 2004, p.28).

Antes de Xavier ir para as Índias, trabalhou junto com Simão Rodrigues para organizarem o Instituto Jesuítico em Portugal, já agregando novos membros. Em outra carta de Xavier para Codazzo e Loyola em 22 de outubro de 1540, informando os trabalhos desenvolvidos junto a corte para conseguirem autorização para viajar para o Oriente e também dos novos jesuítas que entraram na Companhia de Jesus, ele solicita a decisão acerca da conveniência de abrir um colégio dirigido por eles junto a Universidade de Coimbra. Nessa carta documenta-se como nova atividade missionária na vida da Companhia de Jesus a educação através de colégios e seminários dirigidos por ela (COSTA, 2004).

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