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ESTIGMA: AS DIFERENTES FACES DA INTERAÇÃO SOCIAL

Por:   •  3/9/2019  •  Artigo  •  8.728 Palavras (35 Páginas)  •  181 Visualizações

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ESTIGMA: AS DIFERENTES FACES DA INTERAÇÃO SOCIAL

Prof. Me. Mário Marcos Lopes

Djéssica Nobre De Lucca Dávila

RESUMO: O presente trabalho apresenta um estudo sobre o conceito de Estigma e suas implicações. Tem como principal enfoque o desdobramento desse conceito, de forma que o mesmo justifique alguns comportamentos adotados nas interações sociais. A busca de maiores conhecimentos a respeito do tema deve-se a sua intrínseca ligação ao movimento de inclusão. A metodologia utilizada foi o modelo explicativo. Buscou-se, através de pesquisas bibliográficas definir uma visão mais unificada do processo de estigmatização, dos fatores que  causam seu surgimento, e as suas consequências após estabelecido. Foram melhor destacadas as ideias de Goffman e Omote dentre os outros autores pesquisados. Após definido o conceito e implicações do processo de estigmatização, foi julgado necessário aprofundar-se mais quanto ao fenômeno da aparência. Feitas essas análises partiu-se então em direção a melhor compreensão do movimento de inclusão. Através desses estudos verificou-se que as implicações do processo de estigmatização podem ser atenuadas através da implementação de um nova cultura, proporcionando assim, maior probabilidade de sucesso ao movimento de inclusão.

PALAVRAS CHAVE: Estigma, Aparência, Inclusão.

1 Introdução

        Aquele que inicia a tentativa de compreender não somente os intuitos, mas também a problemática geral do movimento de inclusão, defronta-se obrigatoriamente ao conceito de estigma. Mesmo diante de uma definição demasiadamente simples, o conceito Estigma consegue cumprir perfeitamente a tarefa de instigar a curiosidade humana quanto a real dimensão das interações sociais. O primeiro contato com o conceito estigma, despertou a necessidade de desdobrar esse conceito: qual é sua finalidade? Qual processo o faz emergir? Quais consequências podem dele derivar-se? Sendo assim, o presente trabalho tem como objeto desdobrar esse conceito para que, com propriedade, possa se reafirmar a necessidade de que se construam novas e acentuadas reflexões a respeito do processo de estigmatização e das consequências que o mesmo acarreta aos indivíduos presentes nesse processo; para que então inicie-se a longa jornada em direção a reconstrução dos princípios que normatizam as diversas interações sociais, especialmente as de caráter “misto”.

        A metodologia de pesquisa vista como mais adequada para percorrer o assunto é o modelo explicativo. Busca-se definir através de reflexão e dedução uma visão mais unificada do processo de estigmatização, dos fatores que causam seu surgimento, e as suas consequências após estabelecido.  Abordar-se-á o tema de forma qualitativa, pois trata-se de algo não mensurável: o sujeito estigmatizado e seu meio social são indissociáveis. Visando-se assim, estimular a maior reflexão sobre o assunto tratado, considerando-os também sob a luz das intenções, percepções e sentimentos. A fim de que seja permitida uma cobertura mais ampla da gama de fenômenos envolvidos, optou-se pela pesquisa bibliográfica. A escolha dos materiais foi dedicada preferencialmente a autores considerados clássicos no referido tema, empregando maior atenção a obra de Erving Goffman, juntamente a outras publicações consideradas relevantes de diferentes períodos até a atualidade.

        Goffman demonstra que, ao contrário do que se pensava anteriormente, a adesão a uma ou outra categoria não deve-se a presença ou ausência de um ou mais atributos diferencias, mas sim, na quantidade de vezes que um indivíduo desempenha o papel de normal ou estigmatizado. Portanto, é a natureza das interações sociais quem exige a atuação desses papéis.

        Logo, estudada a teoria de Goffman, não pode-se deixar de verificar a enorme influência que a aparência exerce no núcleo das interações sociais. E para que essa constatação fosse melhor analisada, contou-se com a ajuda de Sadao Omote. Seus estudos apontam a aparência com uma influência tão impactante nas interações sociais, que até mesmo, profissionais capacitados facilmente associam a “ausência de beleza” ao deficiente, e vice-versa. Com este embasamento, torna-se possível então explorar o movimento de inclusão como um todo; seu real propósito, as ideias que o fundamentaram, as causas que o tornaram necessário, algumas de suas contradições.

        Este será o direcionamento dado a presente pesquisa.

2  Conceito de estigma e a construção do desvio

        O termo Estigma tem sido utilizado ao longo dos séculos, com diferentes significados. Os gregos usavam essa terminologia para referenciar marcas corporais, produzidas artificialmente em seus homens, através de cortes ou queimaduras. Essa marca servia de alerta quanto ao caráter do indivíduo que a possuía diante dos outros membros da sociedade, identificando o indivíduo marcado como criminoso, traidor ou escravo, em síntese, como alguém que deve ser evitado. Durante a era cristã, o termo foi acrescido com outros diferentes significados, os indivíduos marcados eram vistos como “portadores da graça divina” ou até como portadores de doenças e outros males físicos.

Nos dias atuais, o estigma representa algo bem próximo ao significado original dado pelos

gregos: o que deve ser evitado, um mal, uma ameaça a sociedade. Porém, hoje, o estigma se refere a condição social inferior em si própria e não mais uma prova concreta, apresentada através do corpo, de uma inferioridade moral e ética. Considerar-se-á no presente trabalho, o conceito elaborado por Goffman (2004, p. 6), em suas próprias palavras:

Enquanto o estranho está à nossa frente, podem surgir evidências de que ele tem um atributo que o torna diferente de outros que se encontram numa categoria em que pudesse ser incluído, sendo, até, de uma espécie menos desejável - num caso extremo, uma pessoa completamente má, perigosa ou fraca. Assim, deixamos de considerá-lo criatura comum e total, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminuída. Tal característica é um estigma, especialmente quando o seu efeito de descrédito é muito grande - algumas vezes ele também é considerado um defeito, uma fraqueza, uma desvantagem […]

        Essas palavras clarificam a real origem do que o estigma representa nos dias atuais: um fenômeno socialmente construído, e ainda mais, uma ferramenta utilizada pela sociedade como um mecanismo de defesa em prol de sua autopreservação. O surgimento do estigma e a “construção do desvio” (OMOTE, 2004 p. 291), localiza-se no decorrer de simples interações sociais. Uma concepção muito clara a respeito do surgimento de tais fenômenos:

A função primordial desempenhada pelo estigma é a de controle social. Possivelmente, uma das forças motrizes de qualquer coletividade humana é representada pela necessidade de se exercer controle social sobre os seus integrantes. Para tanto, criam-se códigos de conduta, mecanismos de fiscalização do cumprimento desses códigos e programas de tratamento dos infratores. Nessas condições, as possibilidades para a construção de desvios surgem no momento mesmo da instituição dos códigos de conduta. (BECKER apud OMOTE (2004 p. 295)

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