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Resenha Crítica do texto: O sujeito e o poder” de Michel Foucault

Por:   •  4/4/2018  •  Trabalho acadêmico  •  2.651 Palavras (11 Páginas)  •  2.845 Visualizações

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Universidade Federal de São Carlos – UFSCar

Programa de pós-graduação em Linguística – PPGL[pic 1]

Disciplina: Presenças de Foucault na análise do discurso

Docente: Vanice Sargentini[pic 2]

Discente: Ádria Ramos Lustosa Nakamura

Data: 08/12/2016

Resenha crítica do texto “O sujeito e o poder” de Michel Foucault

Michel Foucault inicia o texto afirmando que nos últimos vinte anos o seu objetivo principal era observar a história dos diferentes modos pelos quais os seres humanos tornaram-se sujeitos e para isto lidou com três modos de objetivação: modo de investigação, a objetivação do sujeito produtivo e a objetivação do simples fato de estar vivo na história natural ou na biologia. Em outro momento, estudou a objetivação do sujeito nas “práticas divisoras”, por exemplo: o louco e o são, o doente e o sadio, os criminosos e os bons meninos.

        No presente texto, “O sujeito e o poder”, Michel Foucault busca entender o modo pelo qual um ser humano torna-se sujeito no domínio da sexualidade e mesmo considerando que o tema geral da sua pesquisa era o sujeito e não o poder, para ele, é necessário entender as definições de poder para se estudar a objetivação do sujeito, uma vez que, quando este é colocado em relações de produção e de significação, é também colocado em relações de poder. Tomando isto como base, o autor indaga: “Será preciso uma teoria do poder?” (FOUCAULT, 1995, p. 232) e responde afirmando que esta não pode ser a base de um trabalho analítico, mas também, este trabalho não pode se proceder sem uma conceituação, o que implica em uma verificação constante, isto é, verificar as “necessidades conceituais” e o tipo de realidade que se lida.  

        Para Foucault, “a relação entre racionalização e os excessos do poder político é evidente” (FOUCAULT, 1995, p. 233), mas o que se deve fazer é investigar esse tipo de racionalismo, que segundo ele é específico da cultura moderna e tem sua origem no iluminismo. Para isto, ele considera que é necessário analisar a racionalização em vários campos, como na doença, loucura, morte, sexualidade, etc., e não de forma geral. Além disso, apesar de considerar o iluminismo um momento muito marcante na nossa história, Foucault afirma que devemos “nos referir a processos muito mais remotos se quisermos compreender como fomos capturados em nossa própria história” (FOUCAULT, 1995, p. 234). Portanto, sugere uma forma mais empírica para prosseguir em direção a uma nova economia das relações de poder, isto é, usar as formas de resistência contra as diferentes formas de poder, para que esta resistência esclareça as relações de poder, localize sua posição, descubra seu ponto de aplicação e os métodos utilizados, ou seja, analisar as relações de poder através do “antagonismo das estratégias”. Logo, para compreender o que são as relações de poder, o autor afirma que devemos investigar as formas de resistência e as tentativas de dissociar estas relações.

        Foucault cita uma série de oposições que representam esse antagonismo de estratégias, oposição ao poder dos homens sobre as mulheres, dos pais sobre os filhos, da psiquiatria sobre o doente mental, etc., e procura entender o que elas têm em comum. Conclui que estas são lutas “transversais”, pois não são limitadas a um pais, os objetivos dessas lutas são os efeitos de poder enquanto tal, são lutas imediatas, são lutas que questionam o estatuto do individuo, são uma oposição aos efeitos de poder relacionados ao saber, à competência e à qualificação, e todas essas lutas giram em torno da questão: “Quem somos nós?” (FOUCAULT, 1995, p. 235). Nas palavras de Foucault o objetivo dessas lutas é o de atacar uma técnica, uma forma de poder. Sendo assim, o autor entende que,

Esta forma de poder aplica-se à vida cotidiana imediata que categoriza o indivíduo, marca-o com sua própria individualidade, liga-o à sua própria identidade, impõe-lhe uma lei de verdade, que devemos reconhecer e que os outros têm que reconhecer nele. É uma forma de poder que faz dos indivíduos sujeitos. Há dois significados para a palavra sujeito: sujeito a alguém pelo controle e dependência, e preso à sua própria identidade por uma consciência

ou autoconhecimento. Ambos sugerem uma forma de poder que subjuga e torna sujeito a. (FOUCAULT, 1995, p. 235)

        Essa forma de poder faz do indivíduo sujeito ao outro, através do controle e da dependência e ligado a sua própria identidade através de uma consciência ou autoconhecimento. Portanto, entende-se que as lutas sociais concentram-se contra as formas de sujeição. Para Foucault existem três tipos de lutas sociais: contra as formas de dominação; contra as formas de exploração que separam os indivíduos daquilo que eles produzem, ou contra aquilo que liga o indivíduo a si mesmo e o submete aos outros. Na história temos muitos exemplos dessas lutas, e em algum momento uma sempre prevalece sobre a outra. Atualmente é a luta contra as formas de sujeição que tem se tornado importante, mas que não faz com que as lutas contra as formas de dominação e exploração desapareçam. Foucault entende que os mecanismos de sujeição devam ser estudados juntamente com os de dominação e exploração, mas o que faz prevalecer a primeira sobre a segunda nos dias de hoje, é a nova forma política que se desenvolveu desde o século XVI, a saber: o Estado. O autor considera que o poder do Estado é ao mesmo tempo totalizador e individualizante. “Isto se deve ao fato de que O Estado moderno ocidental integrou, numa nova forma política, uma antiga tecnologia de poder, originada nas instituições cristãs. Podemos chamar esta tecnologia de poder pastoral.” (FOUCAULT, 1995, p. 236). Esse poder pastoral é assim chamado, pois se assemelha com a proposta do Cristianismo, onde alguns indivíduos, por sua qualidade religiosa pode servir a outros como pastores, e isto designa uma forma muito específica de poder, cujo objetivo era a salvação individual do outro, um poder que além de comandar estaria disposto a se sacrificar pela salvação do outro. Para Foucault, este tipo de poder perdeu a parte principal da sua eficácia, mas se por um lado essa institucionalização eclesiástica perdeu sua força, por outro, se ampliou e se multiplicou fora da instituição.

        No século XVIII surge o “Estado moderno”, uma nova organização desse tipo de poder individualizante, como diz Foucault, uma nova forma do poder pastoral, que durante séculos foi associada a uma instituição religiosa específica e que agora se ampliou por todo corpo social e encontrou apoio em várias instituições. Há uma mudança no objetivo desse poder, já não se trata mais de dirigir o povo para a salvação em outro mundo e sim assegurá-la neste mundo.

        É diante desse contexto que Foucault mostra que essa é uma questão muito antiga, e em concordância com o pensamento do filósofo Kant no século XVIII, o qual já buscava entender “O que está acontecendo neste momento? O que está acontecendo conosco, O que é este mundo, esta época, este momento preciso em que vivemos?”, “Quem somo nós?” (FOUCAULT, 1995, p.239), se questiona sobre quem somos enquanto sujeito único, mas também universal e a-histórico. Estas indagações adquiriram cada vez maior importância, e para Foucault, talvez hoje o objetivo não seja descobrir o que somos, mas recusar o que somos. Temos que promover novas formas de subjetividade recusando a individualidade que nos foi imposta há vários séculos.

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