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Resenha a Invenção da Infancia

Por:   •  17/10/2021  •  Resenha  •  1.420 Palavras (6 Páginas)  •  375 Visualizações

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Faculdade de Educação

Disciplina: Infância e cultura Aluna: Vânia Regina Pires

Profª. Helenice Cassino Ferreira – turma: 3

Você consegue fazer alguma relação entre o que é apresentado no documentário “A invenção da infância”, dirigido por Liliana Suizbach, e os textos de Ariès e de Sarmento estudados na Unidade 1.

No documentário “A Invenção da Infância”, Liliana Suizbach nos convida a pensar a infância, o ser criança, como um processo historicamente construído. Através dos personagens sujeitos, a produtora não dá respostas prontas, mas busca problematizar, instigar o pensar sobre a multiplicidade, sobre as inúmeras formas de vivenciar a infância, as possíveis construções e desdobramentos do pensar a infância, o “ser criança” ou “ter infância”.

Segundo Sarmento, na história a imagem da criança é determinada e relatada pelo olhar do adulto, isso a torna indefinida, invisível. Não é a visão da criança que se contempla na história e sim a forma como o adulto a percebe. O autor considera que “os séculos XVII e XVIII...constituem o período histórico em que a ideia de infância se cristaliza”. (SARMENTO, 2007, P.28). O documentário de Liliana Suibach dá voz a essas crianças permite que se expressem e que possamos contemplar suas expectativas e comparar as diferentes realidades a partir delas mesmas.

Ao analisar a negação dos modos de existência. Sarmento identifica três dimensões da (in)visibilidade da criança, a histórica, a cívica e a científica. Como invisibilidade histórica identifica a ausência de documentos históricos que retratem a criança como um ser independente de um legado familiar, de uma tradição ou uma herança a prosseguir. As crianças populares permanecem invisibilizadas. Destacamos aqui a importância do documentário “A Invenção da Infância” para trazer à tona a realidade e registrar essas crianças, não apenas em documentos, mas dando-lhes a voz. Como cívica as crianças continuam como um grupo

excluído de direitos, devendo ser tutelada por um adulto. Relaciono essa tutela as escolhas feitas pelos responsáveis sobre os afazeres e as sobrecargas de estudo ou trabalho que esses sofrem, sem poder opinar. Por fim, sobre a invisibilidade científica, reproduzida pela ausência de investigação sobre a infância e as crianças. O documentário é um passo importante na busca por retratar essas infâncias, que não podem ser vistas como única, mas que são múltiplas e tem características peculiares a regionalidade, condição socio econômica e cultural.

Traçando um paralelo com o autor Philipe Ariès na obra “História Social da Infância e da família”, o conceito de infância foi socialmente construído e passou a existir a partir da modernidade, entre os séculos XV e XVII. Ariès constata que no período medieval não havia uma infância como conhecemos hoje, ele analisa que esse sentimento de infância foi se construindo com as novas formações de modelos sociais, do mesmo modo que a formação de uma necessidade de proteção da infância. Segundo o autor, na Modernidade surge dois sentimentos, a “paparicação” e o “apego”, quando antes crianças eram consideradas apenas como pequenos adultos, após esses sentimentos a família volta suas atenções para as crianças, dando origem a afetividade e ao cuidado e elas passam a ser tratadas como “seres infantis”. Ariès afirma que “O apego a infância e a sua particularidade não se exprimia mais através da distração e da brincadeira, mas através do interesse psicológico e da preocupação moral(...) (ARRIÉS, P.104,1981).

Nesse momento, a separação de crianças dos adultos começa a ser percebida, cada qual em sua posição social, com sua devida importância social atribuída. Surge a preocupação com a educação para o processo de formação moral e civil dessas crianças. Começa a separação da criança do meio adulto e seu aprendizado não se dá mais através do contato com estes. Esse modelo de organização vai se estender na sociedade até a atualidade. Esse processo envolve paradigmas que discorrem sobre a responsabilidade de proteção à criança pelo Estado, Família, Escola e Sociedade, que não consegue “proteger” a mesma criança dos atuais padrões de consumo e comportamento que acarretam na perda da infantilidade. A família que começa a se organizar em pró da criança e planejar o seu futuro, sente a necessidade de uma educação rígida, para que esta se torne um cidadão socialmente aceito. Esse papel cabe então a escola, como uma convenção social. No contemporâneo, a construção dessa concepção permeia aspectos sociais e econômicos, abordando questões como diferenças de raça, gênero, que determinam que tipo ou “se” essa criança terá acesso a essa escolarização.

Dando continuidade à discussão do documentário “A Invenção da Infância”, fundamentando na discussão construída por Ariès, percebemos que o documentário dialoga

com essa concepção de infância construída na modernidade, relacionando essa concepção com realidades sociais bem distintas no Brasil. O documentário aborda dois grupos de crianças em uma mesma faixa etária, em um mesmo contexto histórico, mas em diferentes regiões do país e com realidades econômicas muito diferentes. Um grupo vive em situação de vulnerabilidade onde há uma elevada taxa de mortalidade e as mães se conformam com os que morrem e os que sobrevivem são mão de obra necessária para o sustento da família. Relatos das mães como “(...)dois eu tenho vivo, quatro morreram” (..) morreram assim de repente (...) morreram de precisão mesmo(...)são falas de mães que vivem em uma realidade de extrema pobreza e a mortalidade infantil é naturalizada, seja pela escassez de alimentos ou pelas doenças adquiridas, essas mães enterram suas crianças e contabilizam as sobreviventes que devem aprender desde cedo que é preciso trabalhar para obter o sustento. Nesse contexto, pouco tempo sobra para a criança “ser criança”. Mesmo com sobrecarga, algumas vão à escola na esperança de mudar o cenário vivido pela família.

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