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A Analise do Filme

Por:   •  22/10/2020  •  Trabalho acadêmico  •  1.276 Palavras (6 Páginas)  •  205 Visualizações

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Uma análise de ‘Cisne Negro’ (2010) a partir da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)

Wilian Gomes da Silva[1]

A análise fílmica de Cisne Negro (2010)[2] será realizada com base na Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), tendo por subsídio as discussões realizadas por Tizo (2013). A ACT, enquanto teoria, tem por intenção terapêutica a quebra de padrões sócio-verbais aprendidos pelo cliente. Padrões que são moldados dentro de um contexto social/familiar e verbalizados ao cliente (como uma verdade inconteste). Não visa a mudança dos pensamentos e emoções, mas, sim, a aceitação dos mesmos (Tizo, 2013). Outro foco da terapêutica é a análise dos padrões funcionais que alimentam e retroalimentam os pensamentos/emoções/comportamentos (denominados, na ACT, de precedentes). Uma dada situação irá originar uma determinada emoção/pensamento, desencadeando um comportamento (desadaptativo, por sua vez).

Nina, bailarina de 28 anos de idade, ao longo do filme, se esforça para ser uma profissional “perfeita”. Apresenta características obsessivas, autorrecriminação, culpa, além de sintomas psicóticos positivos (alucinações e delírios). Sua mãe, frustrada por ter tido de abandonar a carreira de bailarina, por ter engravidado de Nina (e culpando-a pelo abandono de seu projeto), é bastante intrusiva/invasiva, exigindo de Nina perfeição, ao mesmo tempo que demonstra cuidado com a mesma (infantilizado). Não aceita o fato que a filha cresceu e não é mais a menina de doze anos de idade. Um padrão se estabelece: Nina, pretendendo não magoar a mãe, cede a seus mandamentos, rigidamente, evitando confrontá-la.

Nina é inflexível, com pouco repertório comportamental para lidar com adversidades, não tolerando a frustração, com elevados níveis de perfeccionismo. Ao longo do filme, observamos a personagem se esquivando de emoções aversivas (recusando contato com tais experiências), fugindo dos problemas (carecendo de recursos para contornar as dificuldades). Para a ACT, quanto mais o cliente se esquiva dos sentimentos/emoções que considera indesejáveis, maior será a importância dessa esquiva para a manutenção de padrões comportamentais (Barbosa & Murta, 2014; Tizo, 2013), gerando intenso sofrimento psíquico – e, em alguns casos, como no de Nina, tentativas e/ou consumação suicida.

Nesse sentido, a ACT trabalha dentro de uma ótica em que auxilia o cliente a aceitar suas emoções/pensamentos aversivos (entendidos, aqui, como eventos privados), já que algumas situações ambientais não têm como serem modificadas. Para Tizo (2013), os sentimentos e emoções não refletem o eu/self da pessoa, necessitando, portanto, da separação entre este e o comportamento eliciado.

O comportamento da mãe de Nina e suas interações verbais são antecedentes para que Nina se culpe, se recrimine, não tolerando errar. Para ela, isso é motivo de profunda desorganização. Descrevemos uma das cenas:

Diante da crítica do diretor do balé (Leroy) acerca da performance de Nina, a mesma volta para casa e acaba chorando, recebendo o conforto da mãe. A mesma diz “que ela vai conseguir”, “que ela é a melhor bailarina do balé”. Como resultado, Nina treina em sua casa, exaustivamente, até acabar se ferindo. Volta no dia seguinte, para falar com Leroy, dizendo que havia treinado e conseguido realizar os passos para interpretar Odile (Cisne Negro)[3]. Leroy volta a criticá-la, dizendo que Nina não tem sensualidade, não se solta, é frígida/rígida. Frente a tal crítica, Nina chora e diz que quer ser “perfeita”.

[pic 1]
Fonte:
 Cisne Negro (2010), 21:12

Logo:

Situação

Emoção(ões)

Pensamentos Automáticos

Comportamento

Crítica de Leroy no ensaio (Antecedente/Desencadeador)

Culpa, Tristeza

“Não sou boa o suficiente”;
“Preciso me esforçar mais”.

Treina com mais intensidade, vindo a se machucar, não reconhecendo os limites de seu corpo.

Vale lembrar que Nina apresentava, também, um possível quadro anoréxico, não se alimentando direito, dizendo sentir “um nó na barriga”. Dada suas dificuldades, Nina, ao longo do filme, apresentava momentos dissociativos, se vendo em outras pessoas e/ou temendo que Lilly (bailarina cotejada a ser a Cisne Negro) tomasse o seu lugar (delírios persecutórios e paranoides). Segundo Tizo (2013), parece que a mãe de Nina jamais conseguiu oferecer palavras de conforto e acolhimento para a filha, aceitando sua vulnerabilidade e imperfeição. Isso pode ter feito com que a mesma não conseguisse extrair prazer para além de ser uma perfeita bailarina. Tudo, em sua vida, girava em torno do balé.

[pic 2]
              Fonte: Cisne Negro (2010), 15:05

Agora, apresenta-se uma proposta de intervenção, com base na ACT (Tizo, 2013). O processo de trabalho na ACT envolve os seguintes passos: 1) Desamparo Criativo: apontando para a cliente que determinadas situações podem não ter solução e que não há como controlar pensamentos/emoções aversivos (eventos privados); 2) Controle de Eventos Privados: ajudar a cliente na identificação e análise das contingências (antecedentes) que o levam a esquivar-se dos eventos privados aversivos; 3) Discriminação entre o Eu (contexto) e o Comportamento: visa a aceitação de pensamentos/emoções indesejáveis (p. ex. raiva, medo, tristeza); 4) Escolha de uma Direção: buscar identificar, junto ao cliente, valores de vida e objetivos almejados, com intuito de buscar ações que visam a resolução do problema (ampliação do repertório comportamental); 5) Abandono da Disputa: parar de lutar contra os pensamentos/emoções aversivos e; 6) Compromisso com a Mudança: aceitação dos pensamentos/emoções indesejáveis, diminuindo a esquiva emocional (sucesso terapêutico, sinalizando para mudanças positivas) (Tizo, 2013).

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