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A Atuação do Psicólogo no Centro de Referência para Álcool e outra Drogas - Caps

Por:   •  28/11/2017  •  Trabalho acadêmico  •  5.062 Palavras (21 Páginas)  •  458 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA

INSTITUTO DE PSICOLOGIA (UFBA)

DISCIPLINA: PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO

DOCENTE: PROFª YASMIN CUNHA DE OLIVEIRA

DICENTE: ADRIANA SILVA SANTOS, CLÁUDIA REIS DA COSTA, DAYANA SOUZA PAZÓ CERDEIRA E NATÁLIA SILVA CONCEIÇÃO NASCIMENTO

Atuação do profissional de psicologia do Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas - CAPS AD

  1. Introdução

As drogas sempre fizeram parte da experiência humana. Em todas as sociedades e épocas, existe registro da utilização de substâncias psicoativas com as mais diferentes funções: em rituais, atos sagrados, práticas curativas ou mesmo por razões recreativas e lúdicas. Pode, ainda, ser utilizada como forma de enfrentamento de problemas, para transgredir ou transcender, como meio de socialização ou para se isolar.

Apesar do uso milenar, somente no século XX as drogas se tornaram uma preocupação social e algumas substâncias psicoativas foram proibidas em virtude dos danos causados à saúde pública.

O conceito de droga definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é abrangente e envolve “qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento”.

Contudo, interessam-nos aqui as drogas que têm a capacidade de alterar os estados de consciência e modificar o comportamento, as chamadas drogas psicoativas. Segundo a OMS, são psicoativas as substâncias que, ao entrarem em contato com o organismo, sob diversas vias de administração, atuam no sistema nervoso central produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora sendo, portanto, passíveis de autoadministração (OMS, 1981).

O presente trabalho tem por objeto a atuação do psicólogo no âmbito dos Centros de Atenção Psicossocial para atendimento de pacientes com transtornos decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas. Nesse sentido, faz-se necessário distinguir as situações que caracterizam o uso problemático dessas substâncias.

  1. 1 Classificação Internacional de Doenças (CID 10) e Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM 5)

A distinção pode ser feita tanto com base na Classificação Internacional de Doenças (CID 10) quanto no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM 5). A primeira diferencia uso nocivo e dependência. O uso nocivo é aquele que resulta em dano físico ou mental, podendo ser definido como um padrão mal-adaptativo de consumo, marcado pela perda do controle do uso e por prejuízos imediatos ou circunscritos ao episódio de consumo – por exemplo, acidentes automobilísticos ou durante a operação de máquinas. Porém, não se observa compulsão ou comportamento de busca pela substância.

Já a dependência é definida como “um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoativa, tipicamente associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à dificuldade de controlar o consumo, à utilização  persistente apesar das suas consequências nefastas, a uma maior prioridade  dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações, a um  aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de abstinência física”.

        O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM 5), por sua vez, na recente revisão de 2013, substituiu o binômio “dependência” e “abuso”, por “transtornos relacionados a substâncias”, com diferentes níveis de gravidade. Assim, pela nova classificação, o paciente pode apresentar: a) dependência leve - presença de dois ou três dos onze critérios diagnósticos por um período de um ano; b) dependência moderada - presença de quatro ou cinco dos onze critérios por um período de um ano e c) dependência grave - presença de mais de seis dos onze critérios por um período de um ano.

Os onze critérios diagnósticos são: i) uso em quantidades maiores ou por mais tempo que o planejado, ii) desejo persistente ou incapacidade de controlar o desejo, iii) gasto importante de tempo em atividades para obter a substância, iv) fissura importante, v) deixar de desempenhar atividades sociais, ocupacionais ou familiares devido ao uso, vi) continuar o uso apesar de apresentar problemas sociais ou interpessoais, vii) restrição do repertório de vida em função do uso, viii) manutenção do uso apesar de prejuízos físicos, ix) uso em situações de exposição a risco, x) tolerância, xi) abstinência.

Explicado em linhas gerais o conceito de drogas e o que se entende por uso problemático dessas substâncias, necessária se faz uma breve análise da evolução dos cuidados relacionados ao uso de drogas no Brasil até se chegar ao modelo da clínica psicossocial.

Inicialmente, a internação manicomial nos estabelecimentos públicos figurou como resposta ao uso problemático principalmente do álcool. A partir da década de 50 a assistência psiquiátrica é incorporada à esfera previdenciária e ocorre uma expansão de hospitais e leitos psiquiátricos, a serviço do INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social).

Portanto, num primeiro momento, o atendimento é focado na internação em hospitais psiquiátricos, disseminando-se, assim, a prática lucrativa da “internação para desintoxicação”, que reforça o conceito de abstinência forçada, isto é, a abstinência como meta a ser atingida.

Na década de 80, Jaques Lacan introduz uma nova compreensão em relação ao uso abusivo das drogas. Segundo o psicanalista francês, as drogas são constituídas por “substâncias inertes” e, por isso, propõe que o foco de atenção sejam os indivíduos que as utilizam e não as substâncias em si.

Essa orientação ensejou o surgimento de centros de experimentação clínica, como por exemplo o CETAD - Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas, criado em 1985 como um serviço de extensão permanente do Departamento de Anatomia Patológica e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFBA. Tais centros funcionam como importante contraponto ao paradigma da abstinência.

  1.  Saúde mental, Legislação, e Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas – CAPS AD

No início dos anos 90, eclode o Movimento Antimanicomial que passa a questionar a chamada “Indústria da Loucura”, movida por interesses financeiros e que tem nos alcoólatras e outros usuários de drogas clientela garantida. O movimento resulta na edição da Lei Nº 12.216, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, passando a determinar que a internação somente ocorra em casos excepcionais

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