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A Construção Moral Da Criança

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Por:   •  17/10/2013  •  2.237 Palavras (9 Páginas)  •  222 Visualizações

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Desde bem pequeno o ser humano está imerso em um universo normativo sendo colocado diante de situações que necessitam de sua avaliação e julgamento. Somos constantemente levados a opinar sobre diferentes fatos e a tomar posição sobre as mais variadas questões. Devemos então nos perguntar de que forma nossas crianças e jovens estão sendo preparados para tomar essas decisões e fazer esses julgamentos.

As questões éticas permeiam atualmente todos os debates da filosofia, da sociologia e da educação. Podemos dizer que estamos vivendo uma crise de valores provocada por uma ruptura nas ideologias em todo o mundo. Questiona-se qual a validade dos velhos modelos éticos em nossa sociedade atual, qual será o caráter da moral no século XXI e quais valores morais comporão a sociedade no próximo século. Diante de tantas questões se faz essencial que lancemos um olhar sobre a problemática da moral e principalmente que o façamos sob a ótica da criança para compreendermos onde tudo principia.

Atualmente, uma das questões que mais mobiliza pais e educadores refere-se a problemas disciplinares relacionados à infância e adolescência. Perguntamo-nos sobre quais os fatores que influenciaram no avanço da violência entre os nossos jovens a ponto de invadirem os espaços das nossas escolas e porque nos é tão difícil frear esse processo. Faz-se necessário que descubramos qual é o papel das escolas na formação moral da criança e do jovem e, até que ponto a possível omissão destas instituições pode estar contribuindo com esse quadro de violência social ao qual estamos diariamente sendo submetidos.

Estão sendo vinculadas constantemente na televisão, notícias sobre estudantes que cometem crimes contra os próprios colegas, praticam atentados contra seus professores, traficam drogas, entre outros crimes. Em menor proporção constatamos, ao entrar em boa parte das escolas, banheiros pichados e objetos de uso coletivo danificados pelos próprios estudantes. O problema se agrava e pais e professores parecem estar cada vez mais perdidos e assustados.

Sabemos que toda escola tem suas regras disciplinares, mas será que elas estão alcançando seus objetivos? De que forma essas regras chegam aos estudantes? Qual a real preocupação da escola em fomentar um debate sobre os problemas éticos da sociedade e provocar uma postura mais consciente por parte dos estudantes? Devemos nos questionar se o modelo de elaboração e aplicação das regras, até então adotados, vêm surtindo algum efeito na relação das crianças e jovens com a comunidade escolar. Está mais do que em tempo de fazermos uma profunda avaliação na forma como as questões de ordem moral estão sendo trabalhadas na escola e principalmente sobre como os instrumentos de controle disciplinar estão sendo utilizados.

As regras só se incorporam à consciência quando resultam de um acordo entre os indivíduos que se respeitam mutuamente. A passagem da obediência “cega” para a cooperação marca um progresso e um triunfo da moral da intenção sobre a moral objetiva. Este avanço se dá apesar e contra a coação presente nas relações com os adultos e é resultado da vivência em grupo por parte das crianças e jovens. O discurso moral utilizado pelo adulto (pais, educadores) raramente condiz com sua prática, o que acaba gerando na criança uma série de contradições morais. É comum vermos por parte dos adultos julgamentos diferentes para atos similares, onde o que está em questão são interesses das mais diversas ordens (status, relações pessoais, afetos, etc.) que não levam em conta as intenções ou os atenuantes. Dessa forma uma educação moral pressupõe, antes de tudo, uma reflexão e uma mudança de atitude daqueles que lidam com crianças e jovens. Os debates, as intervenções, as imposições de limites, a mediação dos conflitos são fundamentais na construção moral da criança, mas insuficientes se não existir concomitantemente uma postura ética irrepreensível por parte dos adultos que se dispõem a formar jovens moralmente autônomos.

Piaget encontrou em suas pesquisas com crianças uma correspondência entre os estágios cognitivos e os níveis de moral pelos quais os indivíduos passam. É assim que a criança pré-operatória vivencia um período de anomia frente às regras, seguindo o estágio das operações concretas onde a criança apresenta uma moral heteronômica atribuindo um valor santificado às regras. Por último encontramos o estágio das operações abstratas havendo na moral um favorecimento da cooperação e da equidade, características da autonomia.

No estudo da moral Piaget aborda três temas: a) as regras do jogo (prática e consciência das regras), b) o julgamento moral em si, enfocando basicamente os juízos das crianças sobre os danos materiais, mentira e o roubo; c) a noção de justiça envolvendo a culpabilidade e as sanções. Piaget inicia seus estudos analisando o que a criança pensa sobre a origem das regras e de que forma essas regras atuam sobre sua maneira de jogar.

Quanto à prática das regras, podemos distinguir quatro estágios. Um primeiro, puramente "motor e individual", onde a criança, através da aplicação de seus esquemas, realiza diversas atividades como empilhar, enfileirar, etc.. Num segundo estágio, chamado de "egocêntrico", a criança tendo como modelo as outras maiores e imitando no jogo suas regras, brinca na verdade, sozinha. A um observador desatento pode parecer que as crianças, por estarem jogando juntas, estejam numa atitude cooperativa, mas basta finalizar o jogo e atribuir a vitória a todos que fica claro que cada uma ali brincava consigo mesma. Não existe aqui o desejo de ter parceiros, nem a preocupação de ganhar, todos podem ser vitoriosos. No terceiro estágio, denominado de "cooperação nascente", há o desejo de vencer o outro, havendo assim, um controle mútuo das regras. O jogo passa a ter um caráter social. O último estágio, entre onze e doze anos, é chamado de "codificação das regras". Aqui as regras são conhecidas pelo coletivo em suas minúcias, e em caso de dúvidas, as regras serão detalhadamente discutidas com enorme prazer. Há nesse estágio uma valorização da discussão "jurídica" e do papel de legislador contribuindo para o surgimento da real cooperação.

No estudo da consciência das regras Piaget encontrou três estágios. No primeiro estágio não há ainda qualquer consciência sobre as regras, existindo somente os rituais e as regularidades expressos pela obediência social. Este estágio relaciona-se a um período anômico. No segundo estágio a criança passa a imitar as regras. Considera-as sagradas e eternas, tendo sua origem no adulto ou em Deus. Nesse estágio o sujeito encontra-se submetido à coação adulta e a

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