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A ESTRUTURA DO CRESCIMENTO

Por:   •  29/2/2020  •  Ensaio  •  3.190 Palavras (13 Páginas)  •  153 Visualizações

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A ESTRUTURA DO CRESCIMENTO
1. Fronteira de contato: A experiência se dá na fronteira entre organismo e seu ambiente. A pele é minha fronteira concreta desse contato, é um órgão de trocas com meu meio, através das terminações nervosas. Contato é subjacente a awareness.

A fronteira entre meu “eu” e o “mundo” chama-se “fronteira de contato”. Na Gestalt, trabalhamos com o conceito de fronteira de contato para designarmos o quanto alguém entra ou não em contato com outra pessoa, algo ou determinada situação.

A fronteira é o lugar privilegiado do encontro de diferenças. Quando mais próxima é uma fronteira, mais se concentram aí energias de proteção, mudança e transformação. “Atravessar a fronteira de alguma coisa ou de alguém significa entrar no terreno, no corpo, na alma, nos pensamentos do outro, talvez até tomar posse do desconhecido; é passar a conhecer como o outro lida com o mais íntimo de si mesmo, é adentrar no mistério do outro de uma forma sem retorno” (RIBEIRO, 1997, p. 34).

A fronteira é o lugar onde forças e energias diferentes se encontram, independente da qualidade de cada uma delas. É onde ocorre o processo de síntese. Quanto maiores são as diferenças entre essas forças, mais intensa será a energia de mudança e de transformação na fronteira de contato, salvaguardada a questão da intencionalidade entre objetos de diferente natureza, pessoa e coisas.

A fronteira de contato funciona como ponto de divisa e ponto de união, à medida que delimita ou possibilita o encontro com o novo, com o diferente. Por esta razão, não pode se apresentar fixa, rígida ou fossilizada. Precisa estar sempre flexível, nem tanto aberta e nem tanto fechada, pois é na fronteira de contato que ocorrem nossas mudanças e transformações significativas. O indivíduo precisa aproximar-se ou retrair-se na fronteira de contato a fim de satisfazer suas necessidades.

Assim, a fronteira de contato não pertence nem ao organismo nem ao meio, ela está no entre. O funcionar da fronteira entre o organismo e seu ambiente é chamado de contato”.

A fronteira de contato não separa o indivíduo do ambiente. Ela tem a finalidade de contatar, proteger e delimitar. A fronteira é sentida tanto como contato ou como isolamento. É na fronteira que contatamos os eventos psicológicos como sensações, emoções e também os pensamentos que ocorrem nesse limite.

A terapia acontece na fronteira de contato entre o cliente e seu meio (em especial o terapeuta). É neste espaço que se localiza no “entre” que podem ser observadas as disfunções do contato, do ciclo normal de satisfação das necessidades (ou resistências). (Ginger & Ginger, 1995:258)

Para Perls (apud Ginger & Ginger, 1995, p. 127) “O estudo da maneira como uma pessoa funciona em seu meio é o estudo do que acontece na fronteira de contato entre o indivíduo e seu meio. É nessa fronteira de contato que os eventos psicológicos têm lugar. Nossos pensamentos, nossas ações, nosso comportamento, nossas emoções são nosso modo de experiência e de encontro com esses eventos de fronteira”.

Moraes e D’Acri (2014, p. 33,34) afirmam que “o ser humano é um ser relacional e seu crescimento ocorre na inter-relação entre eu e não eu, entre o que somos e o que não somos. Ele vive em seu meio pela manutenção de tal diferença, assimilando o ambiente à sua diferença. Por isso, no ato de contatar outro ser humano há o reconhecimento desse outro, pois o outro é o não eu, o diferente, o novo, o que provoca estranheza – e, quando se entra em contato com esse outro na fronteira, algo é assimilado e ambos crescem”.

O cliente vem para psicoterapia porque não consegue manter espontaneamente o contato consigo mesmo e com o mundo a sua volta de forma “auto-reguladora”, a fim de resgatar seu equilíbrio. Muitas vezes, não consegue perceber seu esgotamento, sua falta de vigor, sua fraqueza física ou psíquica, ou suas necessidades, pela incapacidade de entrar em contato consigo mesmo. Por isso, na relação terapêutica é extremamente importante levarmos sempre em consideração a fronteira de contato do paciente e do terapeuta.

No trabalho clínico, percebemos que muitos pacientes apresentam cotidianamente uma fronteira de contato muito extensa ou muito limitada. Percebemos aqueles que tendem a esquivar-se de qualquer contato ou atividade, seja pela confluência, ou pelo isolamento.

Isto ocorre porque alguns clientes tem dificuldade em perceber seu senso de integridade; de perceber o que é seu ou o que está dentro ou fora de sua fronteira. Em função desta incapacidade de diferenciação, alguns adotam um comportamento confluente com o novo, com o estranho, com o diferente.

O comportamento confluente ocorre quando a fronteira é muito aberta e entra muita coisa. Exemplo de confluência é uma pessoa que vai com as outras, que se mistura com o meio. A fronteira está sempre muito aberta, entra tudo. A pessoa não sabe de si, mantem uma relação indiferenciada com o meio que a cerca.

Nas seitas onde todos os seus membros se comportam de forma igual ocorre uma confluência coletiva. Na seita do Jim Jones as pessoas se mataram. Todas chegaram à conclusão de que o mundo ia acabar. Foi uma confluência levada ao extremo. O terrorismo do estado islâmico, da Al-Qaeda são exemplos modernos de confluência extrema. Quase não existe um rosto.

Podemos também verificar confluência nos relacionamentos conjugais. Um membro do casal de anula como indivíduo para se fundir ao outro. Os casamentos por similaridade são propícios para as confluências. Eles se fecham numa bolha. Formam um elo forte. Isso não quer dizer que um cônjuge precisa ser totalmente distinto do outro. Nos casamentos por complementaridade, a pessoa procura a polaridade no que esta lhe faltando. Para que haja equilíbrio na relação é preciso levar em consideração que o outro sempre nos ensina sobre nós mesmos. Quando duas pessoas se acirram em suas polaridades, pode ocorrer a separação ao invés de contato e, consequentemente, falta de crescimento pessoal e conjugal.

Às vezes a pessoa adota um comportamento oposto, caracterizado pelo isolamento. A fronteira de contato se transforma em uma parede intransponível. Ocorre o isolamento quando o sujeito não interage com o meio. No isolamento existe só o eu. Tudo tem que ser do jeito que eu quero, do jeito que eu penso, digo, ou acho. Não existe relação com o outro. A pessoa se isola por não relacionar. É uma fronteira rígida, nada entra. A pessoa passa a ter sérios problemas por conta disto.

Tem pessoas que chega num nível tão agudo de isolamento que decidem morar em locais inóspitos, totalmente isolados. Eles partem em busca do estilo de vida selvagem, do ser humano eremita. Às vezes, quando tudo fica bem, essas pessoas começam a formar uma comunidade de pessoas com comportamentos característicos aos seus. Isto porque, no fundo, até as pessoas que se isolam anseiam encontrar outras pessoas que as resgatem de seus fracassos nos relacionamentos interpessoais. É muito bom poder falar com alguém que nos compreende até mesmo nos momentos de nossas maiores vulnerabilidades.

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