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A Formação Crítica do(a) Psicólogo(a) Escolar

Por:   •  24/5/2022  •  Ensaio  •  1.719 Palavras (7 Páginas)  •  74 Visualizações

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A formação crítica do(a) Psicólogo(a) Escolar

Olhando para trás, vemos que muitas mudanças positivas já se operaram em nossa sociedade; não sem muita luta e resistência, conquistas preciosas e progressos salutares foram alcançados. Contudo, olhando para o presente, somos convocados a novas lutas; além da continuação de outras não tão novas, porém, não menos urgentes e necessárias. Mudanças vêm e devem continuar acontecendo em todos os âmbitos da sociedade; no âmbito da educação não é diferente. Neste tocante, assim como noutros, a psicologia ocupa posição de especial responsabilidade. A atuação do psicólogo no âmbito escolar requisita-lhe cuidadosa atenção e esforço considerável. Somos da opinião de que o sucesso nesta empresa a que é convocado o psicólogo escolar depende, entre outras coisas, de uma formação que lhe faculte o desenvolvimento de uma perspectiva crítica. É sobre a necessidade deste tipo de formação que falaremos neste ensaio.

O tema que pensamos para o ensaio que ora se delineia origina-se de uma das provocações realizadas por alguns colegas durante as discussões nas aulas que tivemos ao longo deste semestre. Em alguns dos nossos encontros online, fomos questionados sobre como um psicólogo escolar deveria agir nesta ou naquela situação. Impelidos à reflexão por meio do exercício proposto, constatamos, entre outras coisas,  que para que a psicologia possa atuar no âmbito escolar de maneira adequada, diante de questões tão delicadas e contundentes que permeiam a escola, é imprescindível que o profissional disponha dos recursos metodológicos e teórico-conceituais que lhe faculte a lida com essas diversas situações.

Três são as possibilidades de modus operandis – todas fatídicas - caso um psicólogo não esteja devidamente atento e preparado para uma atuação sensível e inclusiva no ambiente escolar, são elas: (i) corroboração dos modelos tradicionais que excluem e violentam as “minorias”; (ii) o profissional não corrobora diretamente os paradigmas tradicionais, contudo, não é suficientemente sensível para os diversos problemas que ocorrem na instituição e que reclamam atenção e intervenção; (iii) o profissional é até sensível e percebe os diversos problemas que ocorrem no ambiente escolar, mas não dispõe de recursos e disposição necessários para a atuação promotora de mudança.

Para ilustrar melhor, imaginemos a situação ilustrada pela charge abaixo. Como, diante de um caso de racismo e/ou de preconceito religioso, um psicólogo escolar deveria atuar? Como poderia atuar de forma preventiva, evitando que tais situações cheguem a proporções gritantes e dolorosas para suas vítimas?

Figura 01- Charge: Intolerância religiosa na escola.

[pic 1]

A questão do racismo e intolerância religiosa tomada como exemplo, é apenas uma dos inúmeros problemas-desafios que atualmente atravessam a nossa sociedade e que exercem influência diretamente no ambiente escolar, porque esta faz-se imersa e indissociada do contexto social. Aliás, tomar a dinâmica do ambiente escolar como uma realidade estreitamente ligada ao contexto sociocultural já é uma conquista possibilitada pelo movimento crítico das últimas décadas (Barbosa, 2012).

A história da psicologia nos revela um passado, não muito distante, de uma ciência e prática que legitimava certos projetos políticos estruturadores de uma sociedade excludente e preconceituosa. No âmbito escolar, a atuação de tal psicologia não se fazia diferente. Uma psicologia escolar alinhada aos paradigmas tradicionais tratava de dar legitimidade a uma praxe naturalizante, excludente e com ênfase no indivíduo (Vieira, 2008).

        Tal roteiro começou a ser alterado com o surgimento de uma proposta crítica para a psicologia da educação (Barbosa, 2012). Uma das principais personagens desse movimento foi Patto com seus trabalhos: “Psicologia e ideologia – uma introdução crítica à Psicologia Escolar, de 1984, e A produção do fracasso escolar, de 1991” (Vieira, 2008). Essa construção crítica foi muito importante, uma vez que abriu alas para as transformações que vêm ocorrendo nas últimas décadas.

        Hoje, a literatura já conta com relatos de experiências bem sucedidas em que, a partir de uma atuação criticamente embasada, a psicologia tem desenvolvido importante papel no contexto escolar (Zucoloto et. al. 2019). Outrossim, como “a arte imita a vida”, o filme Escritores da Liberdade encena como uma atuação criticamente orientada pode catalisar mudanças preciosas no ambiente escolar.  

Figura 02 - Cena do Filme Escritores da Liberdade (2007)

[pic 2]

O filme lançado no ano de 2007, baseado em fatos reais, evidencia, por meio de sua narrativa, a necessidade da criação de vínculos sociais em sala de aula, mostrando que o ambiente escolar pode ser importante ferramenta de mudança ou ambiente de reverberação de preconceitos e estigmas, dependendo da forma como os atores sociais presente nesse contexto estão voltados ou não para uma real proposta de atuação crítica.

De modo resumido, a história tem como protagonista a professora Erin Gruwell que decide trabalhar em uma escola da periferia da Califórnia, em Long Beach. Nesta escola há um grande conflito social e étnico entre os alunos, já que negros, brancos, asiáticos e hispânicos mantêm convivência nesse pequeno espaço. Isso devido ao conturbado contexto histórico dos Estados Unidos em que questões e conflitos raciais estão no auge. Até mesmo na sala de aula, foram criadas pequenas gangues, com limites pré-estabelecidos.

Erin, é recém graduada, e chega cheia de ideais e de sonhos  “românticos” em meio a esse conflito. Contudo, se depara com um ambiente extremamente hostil e negligenciado pelos coordenadores da escola.

Após algumas tentativas frustradas de dar aula seguindo o modelo tradicional de ensino, Erin decide implementar uma nova proposta com caminhos alternativos para promover maior sensibilidade entre os alunos, estabelecendo uma relação paralela entre o holocausto e o contexto racional presente na época.

Baseado no livro Best Seller ‘O Diário dos Escritores da Liberdade’ de 1999, o filme consegue demonstrar a importância de uma atuação crítica dos profissionais de educação que podem ser a chave para promover mudanças efetivas sobre a realidade e experiência dos sujeitos em sala de aula. O ambiente escolar deve ser instrumento de mudança que considera o contexto sociocultural em que está inserido e promove, compreende e abraça a diversidade a fim de estruturar uma lógica de ensino-aprendizagem efetiva para a realidade dos estudantes.

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