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A PRÉ-HISTÓRIA DA PSICANÁLISE

Por:   •  7/4/2018  •  Trabalho acadêmico  •  3.290 Palavras (14 Páginas)  •  648 Visualizações

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A PRÉ-HISTÓRIA DA PSICANÁLISE — II:

O Projeto de 1895

Em 1895, Freud deu inicio a redação de um trabalho bastante peculiar para a psicanálise: o Projeto para uma psicologia científica. Sua publicação ocorreu meio século depois, décadas da morte do seu autor. Durante muitos anos o manuscrito esteve “escondido” de todo mundo, com exceção a Wilhelm Fliess que foi o guardião do manuscrito original e teve um papel bem relevante no conteúdo do Projeto.

A importância do projeto é exagerada por uns, que encontram nele o essencial da teoria psicanalítica, e minimizada por outros, que o consideram um texto ainda pré-psicanalítico.

Antes de ser publicado, o Projeto não passava de um mero segredo entre dois amigos e para o meio psicanalítico ele nem existia. Para Freud o Projeto existia concretamente nos manuscritos enviados a Fliess. Portanto, quando A interpretação de sonhos foi escrita, Freud já conhecia o Projeto, e isso é o que importa.

Quando finalmente o texto foi publicado, a teoria psicanalítica já havia sido elaborada e o Projeto já não tinha mais tanta utilidade. O que restava naquele momento é tentar dar continuidade do Projeto até os textos metapsicológicos.

Para os continuístas, a psicanálise começa com o Projeto — sendo que, para alguns, ela começa e termina —; para os descontinuístas, o Projeto não é o ponto de partida da psicanálise, mas a última e desesperada tentativa de Freud de falar uma linguagem neurológica ou física. O Projeto assinalaria, dessa maneira, não o início de um novo saber, mas o último suspiro de um saber já existente.

A proposta de Freud no Projeto é a de elaborar uma teoria do funcionamento psíquico segundo uma abordagem quantitativa, “ uma espécie de economia da força nervosa” (Freud, ESB, v. I, p. 382), e a transposição de certas conclusões retiradas da psicopatologia para a psicologia do indivíduo normal. Em setembro de 1895, Freud resolveu visitar teu amigo Fliess em Berlim para discutir com ele algumas ideias sobre o Projeto. A conversa foi tão produtiva que Freud não esperou nem chegar em casa para que pudesse começar a escrever, e durante a sua viajem de volta pra casa ele redigiu o começo, essa é razão pela qual as primeiras paginas estão a lápis e em papel pequeno.

Sobre Freud:

Ernest Jones, fez uma descrição detalhada das circunstâncias em que Freud elaborou o Projeto, contanto na formação intelectual de Freud e de como ela influenciou o conteúdo do Projeto, já que nos dois pode-se encontrar uma continuidade dificilmente recusável.

A formação intelectual de Freud se deu no centro de uma atmosfera cientifica e positivista, típicas do século XIX. Para ele a ciência é a produção suprema do homem e a única que pode conduzi-lo ao conhecimento.

Em 1894, um ano antes de Freud iniciar aredação do Projeto, Exner publica um trabalho (Entwurf zu eine physiologischen Erklärung der psychischen Erscheinungen) que indubitavelmente deve ter-se constituído na influência imediata mais forte sofrida por Freud para empreender a redação de sua “psicologia”. a obra de Exner mantém vários pontos em comum com o texto do Projeto. Trata-se também de uma concepção quantitativa do funcionamento do sistema nervoso, na qual termos como “ soma de excitações” , “ canalização da excitação” , “ função de inibição” , assim como a afirmação do princípio de prazer-desprazer como um princípio regulador do psiquismo, são elementos centrais do trabalho. E Exner foi professor de Freud.

Pontos básicos do Projeto:

O aparelho psíquico: o projeto é dividido em três partes sendo elas, primeiro “esquema geral”, em que Freud desenvolve os principais conceitos teóricos; a segunda parte trata da psicopatologia da histeria; a terceira é uma tentativa de representar os processos psíquicos normais.

O Projeto, Freud concebe o psiquismo como um “aparelho” capaz de transmitir e de transformar uma energia determinada. O funcionamento desse “aparelho” (psíquico) é explicado a partir de duas hipóteses: 1º) a de que existe uma quantidade (Q) que distingue a atividade do repouso das partículas materiais; 2º) a identificação dessas partículas materiais com os neurônios. Essas duas hipóteses supõem um princípio de regulação do aparelho psíquico, que é o Princípio de Inércia Neurônica, segundo o qual os neurônios tendem a descarregar completamente toda a quantidade (Q) que recebem. Freud afirma ainda outro princípio, segundo o qual o sistema de neurônios se estrutura de tal modo que forma “barreiras de contacto” que oferecem resistência à descarga total.

O “aparelho psíquico” é concebido segundo um referencial termodinâmico (e não mecânico, como sugere o primeiro parágrafo do Projeto) que nem sempre é obedecido com rigor. Da mesma forma, os “neurônios” — “as partículas materiais que compõem esse aparelho” — não correspondem aos dados da histologia e da neurologia de sua época.

O Projeto não é um trabalho descritivo baseado em observações e experimentos, mas um trabalho teórico de natureza fundamentalmente hipotética.

O Projeto não é, portanto, uma tentativa de explicação do funcionamento do aparelho psíquico em bases anatômicas, mas, ao contrário, implica uma renúncia à anatomia e a formulação de uma “metapsicologia” .

A noção de quantidade (Q): Uma das hipóteses fundamentais do Projeto é a quantidade (Q) de que os neurônios estão investidos e da qual tende a se ver livres. Freud se refere a dois tipos de Q: a Q e a Q’n. A diferença entre os dois tipos de Q parece ser a de que a primeira (Q) se refere a quantidades de excitação ligada à estimulação sensorial externa, enquanto a segunda (Q’n) é de ordem interna, intercelular. Portanto, Q’n é psíquica, enquanto Q indica uma “ quantidade externa” (Freud, ESB, v. I, p. 475).

Partindo da análise dos casos de histeria e neurose obsessiva, Freud levanta a hipótese de que haveria uma proporcionalidade entre a intensidade dos traumas e a intensidade dos sintomas por eles produzidos. A hipótese de Freud não traz, em si mesma, grande novidade, já que, desde as primeiras décadas do século XIX, Weber e em seguida Fechner procuravam, com a psicofísica, estabelecer uma relação exata entre a magnitude do estímulo e a da resposta. A novidade de Freud consistiu apenas em transportar essa possibilidade para o campo da psicopatologia. Escreve ele que a concepção quantitativa “deriva-se diretamente de observações clinico patológicas, sobretudo das relativas às ideias

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