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A Prova VA II Psicologia, Cultura e Sociedade

Por:   •  1/11/2021  •  Trabalho acadêmico  •  1.267 Palavras (6 Páginas)  •  144 Visualizações

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Prova VA II Psicologia, Cultura e Sociedade

Juliana Campagnac Wollner

LINCHAMENTO

O termo “linchamento” provém da história de um fazendeiro norte-americano chamado Charles Lynch, que dirigia uma pequena organização na Virgínia, julgando e punindo bandidos e simpatizantes com legalistas ingleses durante a Revolução Americana. Tal método prosperou e passou a representar então, uma possibilidade de se alcançar justiça sem formalidades, rápida e direta, sendo praticada pelos primeiros colonos contra, por exemplo, ladrões de cavalo, caçadores de escalpos indígenas, pessoas que davam asilo a escravos fugidos (RIOS, 1988).

No entanto, sabe-se que tal prática de justiça pelas próprias mãos é mais antiga do que a origem de sua palavra. Ribeiro (2011) pontua registros de linchamentos ocorridos na Antiguidade, na Idade Média e em outras épocas. Durante o período da Inquisição, por exemplo, o linchamento consistia em um espetáculo em que a multidão punia em praça pública quem desrespeitasse o que a sociedade daquele contexto julgava como normal ou esperado. O espetáculo era apresentado, por exemplo, através do apedrejamento ou da condenação à morte na fogueira de mulheres que fossem acusadas de bruxaria ou que cometessem adultério, de homens homossexuais, de pessoas perseguidas por heresia, dentre outros.

Estudos das práticas do linchamento de diferentes épocas evidenciam que os motivos para tal mudam ao longo do tempo e que, atualmente, de maneira alguma, se lincharia uma pessoa pelo mesmo motivo que muitas eram linchadas do século XVI ao XVIII (MARTINS, 1996). Sendo assim, Ribeiro (2011) afirma que as principais motivações para o linchamento nos dias atuais no contexto Brasil são:

descrença na justiça formal; descrença no tempo da justiça formal; indignação contra os crimes que ferem a propriedade privada e a pessoa; representação social de que com o linchamento é possível ‘purificar’ a ‘sujeira’ do ato praticado contra a sociedade.

De acordo com Cerqueira e Noronha (2004):

(...) os linchamentos são crimes cometidos por cidadãos em estado de multidão, contra uma pessoa ou grupos menores que romperam uma norma social preestabelecida. São ações motivadas por mentes conservadoras, de indivíduos descrentes do poder dos aparelhos judiciais que tentam, pela morte dos ‘expurgos sociais’, restabelecer a ordem perdida.

Já para Martins (1996), o linchamento é praticado de maneira a conter um descontrole social, em que a vítima é julgada sem oportunidades de provar sua inocência por acusadores que se baseiam nas emoções do ódio ou do medo e se sentem dispensados da necessidade da participação de um terceiro, um possível juiz isento e neutro.

A partir das constatações supracitadas, levanto aqui, então, uma das muitas hipóteses que acredito que movem as pessoas à prática do linchamento, sem reduzi-la ou justifica-la, mas como uma possível explicação para os seres humanos praticarem o linchamento: a violência como um mecanismo de legitimação e proteção da identidade de um grupo.

O filósofo Nietzsche (1986) afirmava que o ser humano tem a necessidade de mostrar que o que é diferente de nós é algo ruim. Rouquete (1999 apud CERQUEIRA; NORONHA, 2004) esclarece que a formação da identidade do sujeito é construída a partir de uma lógica dicotômica, em que um se contrapõe ao outro, desconhecendo-o e reconhecendo-se, estabelecendo como intuito a dominação e a inferiorização de minorias sociais. Pensando a perspectiva de que o diferente no outro pode representar uma ameaça ao que está instituído como verdade para determinado indivíduo, ou seja, uma ameaça à própria identidade, a eliminação dessa ameaça passa a ser uma possível alternativa para a proteção e legitimação de sua identidade. Sobre as relações com o “outro”, Ribeiro (2011) afirma:

O ‘outro’ tolerado e permitido é apenas aquele que confirma a minha identidade. O encontro com o ‘outro’ que me despossui, que me obriga a modificar a minha maneira de pensar sobre mim mesmo, de me reinventar nessa relação, que me empurra para fora de meus interesses, que abre os meus horizontes e perspectivas, que me enriquece com outras possibilidades de vida e pensamento – esse ‘outro’ deve ser destruído e eliminado.

Skinner (1973) explicita que quando temos contato com um estímulo adverso, como por exemplo, uma conduta social que discordamos, temos a tendência a agir agressivamente. Ainda, Skinner (1973, p. 27) acrescenta que tal tendência humana a agressividade pode ser explicada pela herança genética e pode ter tido vantagens evolutivas que favorecem a nossa luta pela liberdade através, por exemplo, da mediação do controle social. Paralelamente, Girard (1990 apud RIBEIRO, 2011) expõe que a violência é uma marca indelével do homem e que nasce do desejo, nos impulsionando a “tomar” o objeto ideal e nos colocando em confronto com o outro, que é um “empecilho”.

Dessa forma, a violência passa a se tornar uma alternativa para se alcançar a liberdade através do controle social, uma vez que fazer justiça com as próprias mãos é uma maneira de eliminar aquilo que ameaça a identidade de determinado grupo ou indivíduo. Girard (2008, p. 140-141 apud RIBEIRO, 2011, p. 144-145) pontua que a violência contra a vítima é vista como uma motivação legítima e urgente que tem como objetivo destruir o mal de todos os meios possíveis, permitindo que a paz e a ordem voltem a reinar na comunidade ameaçada, fortalecendo os laços de coesão entre os indivíduos e livrando-os da insegurança de um futuro desprotegido e vulnerável àquilo que os ameaça.

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