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Amélie Polain

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Por:   •  23/9/2014  •  2.090 Palavras (9 Páginas)  •  203 Visualizações

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"O Fabuloso Destino de Amelie Poulain"

Acredito que o filme do diretor francês Jean Pierre Jeunet, mobilizou diferentes escutas e olhares que repercutiram de forma particular em cada um de nós, tendo em vista aspectos diferentes que foram privilegiados.

Colocarei, a seguir, a leitura que fiz sobre o filme, destacando aqueles pontos que mais me tocaram em relação à protagonista principal e que me permitiram fazer algumas construções e analogias. Não tenho dúvida que os demais protagonistas contêm uma riqueza que nos permitiria também conversarmos fartamente sobre eles, mas carecia escolher...

Certamente, nos enriqueceremos se pudermos compartilhar nossas escutas e olhares. E é isso que eu espero que aconteça aqui esta noite.

Delicadeza, sensibilidade, crença na capacidade de reparação do ser humano e em suas possibilidades, no que pesem as vicissitudes enfrentadas por seus personagens que, por sinal, nos são muito familiares, foram os aspectos que para mim ficaram como essência neste instigante filme.

Seu personagem principal, Amélie, nasce de um casal em que o pai é considerado um iceberg e a mãe uma neurótica. O diretor, já no início do filme, nos aponta em relação ao pai: Bouche pinceé signe de manque de coeur: ou seja, lábios contraídos, coração duro. A expressão de emoções naquela família equivaliam a estar doente. O coração de Amélie dispara de excitação quando seu pai médico, num contato mensal, justificado pela necessidade de avaliação periódica da saúde da filha, dela se aproxima e a ausculta, diagnosticando-a como tendo uma anomalia cardíaca e para a qual uma drástica terapêutica é instituída: a proibição de freqüentar a escola, o que significaria novas experiências, novos contatos, outros modelos. A decisão dos pais teve um alto custo para Amélie. Há uma cena do filme, em que ela faz a seguinte afirmação sobre si: Quando pequena estava sempre só. Nunca soube se relacionar, afirmação esta que denota a percepção de seus limites e dos danos que o isolamento lhe causou.

Pesquisadora nata, ela encontra prazer nas pequenas coisas do quotidiano: atirar pedras num rio e ver os movimentos da água, enfiar a mão num saco de grãos, quebrar a cobertura dos doces, entre outros. Trata-se, porém de atividades muito solitárias, sensoriais, para as quais o outro é dispensável. Em relação a uma dessas atividades, a de atirar pedras no rio, ela parece remontar a uma vivência muito dolorosa e antiga, o dia em que seu peixinho tem um destino diferente do seu e é expulso do seu aquário-prisão, renascendo assim para a vida, para a liberdade, ao ser atirado no rio pela Madame Poulain. Restou a Amélie a possibilidade de sonhar, sonhar e sonhar, o que ela faz com maestria e sem qualquer inibição ou reserva. Sem qualquer pudor, podemos dizer.

Já adulta, seu coração dispara outra vez intensamente, o que me fez lembrar de um verso de uma antiga cantiga de roda. Estou me referindo a Terezinha de Jesus - O primeiro foi seu pai, o segundo seu irmão, o terceiro foi aquele a quem Tereza - Amélie deu a mão, no caso a Nino, um rapaz que como ela também era especial e que tinha hábitos pouco comuns como colecionar fotos rasgadas que retirava de cabines de máquinas de fotografar automáticas espalhadas pelas diversas estações do metrô, fotografar pés de pessoas que pisavam em cimento fresco, gravar gargalhadas e que em seu trabalho parecia dividido entre um parque infantil e uma loja de vídeos pornô, divisão essa sugestiva de alguma dificuldade interna.

Chamou a minha atenção o contexto em que ocorreu o primeiro encontro dos dois - ao som de uma música que ressalta a importância do outro: sem você como eu poderia viver...

Voltemos a sua infância. Certo dia sua mãe a leva à Igreja para que peça aos céus um irmãozinho. Será que os céus ouviram seus reais desejos e por isso, ao invés da possibilidade de um irmão, tiram-na a mãe? Fica aberta a possibilidade de nossa protagonista ter visto realizadas suas fantasias edípicas, a onipotência do seu pensamento seria assim confirmada.

Amélie parece dar conta de estar só, com seus sonhos, suas fantasias. Com seus olhos muito abertos observa detalhadamente o quotidiano, pondo reparo em tudo o que se passa ao seu redor (aliás, não faltam olhares entre os protagonistas, às claras ou escondidos como nas várias cenas de voyeurismo). Penso que a sua grande capacidade de observação revela a curiosidade de quem sente falta, de quem quer aprender, de quem busca, de quem investiga. Ela, a curiosidade, é um elemento fundamental em quem quer se conhecer. Sabemos que uma análise, por exemplo, requer uma boa quota de curiosidade. É ela que permite o conhecimento, o contato com o novo, com o diferente.

O tempo passa, com seu pai envolvido em colocar objetos naquilo que ele definiu ser um mausoléu para a esposa e que contém até um anãozinho que a mesma detestava, anão este que, posteriormente, é por ela utilizado para estimular o pai a sair de seu universo tão limitado. Nos seus diálogos com o pai percebe-se que ele pouco se toca com o que ela diz, permanecendo na formalidade, ao contrário dos diálogos fortes, densos que ela mantém com o pintor.

No início da idade adulta Amélie deixa a casa paterna, passando a partir de então a ter experiências muito novas. O seu ambiente de trabalho permite-na entrar em contato com outras pessoas que embora retratadas às vezes, de modo caricato, são muito parecidas conosco, apresentando dificuldades semelhantes e velhos cacoetes tão conhecidos nossos. Nossa protagonista parece temer e não saber o que fazer com seus desejos, buscando de alguma forma realizá-los através do outro. Pelo menos foi assim que entendi as suas atitudes de fada madrinha em relação à zeladora, à vendedora de cigarros, entre outros.

Amélie identifica-se com Lucien, um rapaz que como ela também não se expandiu e que trabalha numa banca de frutas e verduras para um patrão-pai opressor, em quem Amélie coloca sua raiva, seu ódio. Como Amélie, Lucien também parece oprimido e, coincidentemente cresce na convivência com o pintor, pai, terapeuta.

Certo dia, em 1997, a inusitada queda da tampa do perfume, quando ouve a notícia da morte de Lady Di, provoca uma abertura na parede e a descoberta de uma caixinha, contendo lembranças e brinquedos infantis. Este fato abre uma porta para que Amélie entre também em contato com sua história, com seus aspectos infantis, com seus guardados, podendo ser comparada ao início de uma terapia. À semelhança da caixa de Pandora da mitologia grega ela parece conter a esperança da busca, da procura e não apenas a desgraça de uma infância aprisionada junto a pais pouco afetivos. É a partir descoberta

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