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Análise Do Filme "Frida" Sob A Visão Psicanalítica

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Por:   •  17/11/2014  •  2.023 Palavras (9 Páginas)  •  1.961 Visualizações

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Análise do filme “Frida” segundo alguns aspectos da Teoria Freudiana

Biografia de Frida

Frida Kahlo, artista plástica mexicana, gostava de declarar-se revolucionária e libertária. Politicamente engajada na luta pela revolução comunista nas Américas.

Filha de um fotógrafo judeu-alemão e uma mestiça mexicana, teve uma ligação afetiva intensa com o pai: “Meu pai foi para mim um grande exemplo de ternura, de trabalho e acima de tudo de compreensão de todos os meus problemas” (Fuentes, 1996). Da relação com a figura materna podemos dizer que havia pouca intimidade.

Sua vida sempre foi marcada por grandes tragédias e grandes angústias; aos seis anos contraiu poliomielite e permaneceu um longo tempo de cama. Recuperou-se, mas sua perna direita ficou afetada.Teve de conviver com um pé atrofiado e uma perna mais fina que a outra.

Quando pode assimilar melhor essa deficiência, o ônibus em que estava chocou-se contra um bonde. Ela sofreu múltiplas fraturas e uma barra de ferro atravessou-a entrando pela bacia e saindo pela vagina. Por causa deste último acontecimento veio a fazer várias cirurgias e ficou por muito tempo presa em uma cama.

Começou a pintar durante a convalescença, quando a mãe pendurou um espelho em cima de sua cama. Frida sempre pintou a si mesma: "Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor" (Fuentes, 1996).

O encontro com Diego Rivera resultou em casamento em 1929. Ele foi o pintor mexicano mais importante do século 20 e fez parte do movimento muralista, que defendia a arte acessível. Rivera, ajudou Frida a revelar-se como artista. Em 1930, o casal viaja para os Estados Unidos para exposições de seus trabalhos.

Assim, ela diz saber das angústias, das vivências, dos medos e principalmente seu amor pelo marido Diego Rivera. Suplica pelo amor de Diego várias vezes. Uma paixão intensa circunscrita numa relação amorosa bastante tumultuada: “(...) eu o amo mais que a minha própria pele (...)” Diego tinha muitas amantes e Frida não ficava atrás, compensava as traições do marido com amantes de ambos os sexos.

Frida contraiu uma pneumonia e morreu em 1954 de embolia pulmonar, mas no seu diário a última frase causa dúvidas: - “Espero alegremente a saída – e espero nunca mais voltar – Frida”.

1) Sublimação e Pulsão

"Não estou doente. Estou partida. Mas me sinto feliz por continuar viva enquanto puder pintar" (Frida)

“A coluna partida” (1944)

Entende-se por sublimação, a satisfação de impulsos considerados “inoportunos” por comportamentos socialmente aceitos. A sublimação, um dos destinos específicos da pulsão, consiste em uma substituição do objetivo sexual, por outro mais valorizado socialmente. É a capacidade do sujeito investir em atividades artísticas, intelectuais, políticas e científicas, denominadas por Freud como atividades superiores. É o exercício da sexualidade, desviado dos fins de reprodução e voltado para outras finalidades relevantes e construtivas. É um destino pulsional com um endereçamento ao Outro da cultura, o sujeito escreve a sua obra na história da arte, cria sua obra.

Antônio Quinet, em seu seminário Arte e Psicanálise, diz: “Na verdade, acho que podemos encontrar em Freud, que tudo que o sujeito sublima, já se encontra no sujeito”. (QUINET, 2007, p.3) Em Kahlo esse germe já existia, porém, foi a partir do acidente que cria sua obra para suportar a dor de existir, uma dor tanto no corpo, quanto na alma.

Freud no texto “Moral sexual civilizada e doença nervosa moderna” (1908) nos ensina que: a sublimação é também uma forma de dominação da pulsão, talvez a melhor, porque não o faz recalcando ou reprimindo, mas é dominando para ser com esses fins culturais. O direcionamento da pulsão sexual não visa à relação sexual com o outro, mas dirigida ao outro da cultura, sempre importante no conceito de sublimação. A obra de Frida Kahlo teve um endereçamento. Sublimar é isso, oferecer uma representação estética no lugar onde a “relação” sexual esperada no exercício fálico, o fazer do artista transmuta-a em paixão do significante. E não se pode negar que a obra de Frida Kahlo é a verdadeira representação de tudo que foi dito. A artista fez sua história e é ainda hoje uma das maiores artistas mexicana, reconhecida internacionalmente.

Freud vai dizer que o “escritor suaviza o caráter de seus devaneios egoístas por meio de alterações e disfarces, e nos suborna com o prazer puramente formal, isto é, estético, que nos oferece na apresentação de suas fantasias”. (FREUD, 1908, p.142) Em sua obra, Kahlo nos oferece a visão de uma realidade impactante. Parece não usar disfarces, mas exibir uma experiência vivida no real do corpo, um vazio que sua obra tenta preencher.

Frida teve seu corpo invadido pela tragicidade de acidentes e acontecimentos reais, e acabou utilizando a arte como via de desbravamento de sua transformação, permitindo a saída da destruição traumática para lançar uma luz sobre um futuro possível, sobre formas alternativas de assentar sua vida.

O excesso de feminilidade na obra de Frida Kahlo causa estranheza, que por sua vez causa a sublimação. O feminino se aproxima da sublimação pelo fato da mulher estar na posição do inominável, pela inexistência do significante na relação entre os sexos.

A arte de Frida Kahlo é marcada pelo exagero de cor, de dor, de alegria e de uma angústia própria ao feminino. De uma beleza marcante, pois, não só se apresenta com características evidentes do seu sofrimento, mas transporta para a tela uma beleza sarcástica tomada pela intensidade e pelo excesso de sua dor. Frida Kahlo significou em seus quadros a dor interna, tematizando-os, um a um, com os acontecimentos de sua vida, exprimindo sentimentos, mostrando a dor de existir.

Após o acidente Kahlo fez uma “escolha forçada” como sujeito do inconsciente, frente ao real, ao impossível, à impotência, à frustração.

Uma das condições da arte é falar diretamente ao íntimo de cada um, trazendo sentido a dores inexprimíveis e impensáveis, tornando esse contexto compartilhável. Frida é autêntica e representa em suas pinturas, com grande ousadia e transparência, toda a sua luta em busca de continência mental para dores e conflitos que viveu.

Sua obra, assim como a arte em geral, é o

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