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Ensaio de Psicologia e Educação - Juventudes e Educação

Por:   •  24/9/2019  •  Ensaio  •  1.496 Palavras (6 Páginas)  •  96 Visualizações

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Universidade Federal de São Paulo

Raissa Mian Terra

ENSAIO DE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO

JUVENTUDES E EDUCAÇÃO 

Santos

2017

Para pensar nas formas de se olhar e trabalhar a juventude nas escolas, precisa-se pensar no papel da educação na contemporaneidade. Mas, também, pensar no ser-jovem. Compreender que juventude é também entender os diversos atravessamentos que constituem a categoria, compreender elementos como corpo, gênero, classe social, lazer, violência, território e todos os marcadores sociais da diferença, como marcadores interseccionais na constituição de sujeitos jovens.

A escola é um espaço em que a relação educador-educando opera de maneira verticalizada, depositária, estática, “conteudista” e compartimentada. Educador como agente e detentor do saber, educando como depositário, onde sua única função seria a de absorver e memorizar mecanicamente os conteúdos narrados, prontos, completamente alheios a sua realidade e experiência existencial; retalhos desconexos, dissertações vazias de significados concretos. “Desta maneira, a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante” (Freire, 1987)

Ainda em Freire (1987), essa educação reflete uma sociedade opressora, em que sustenta a posição de ignorância do educando, fixa e invariável. Essa rigidez dos papeis de educador e educando nega e aliena processos de educação mais efetivos, já que desestimula cada vez mais o aprender. Por isso é preciso ressignificar a experiência do aprender, ao pensar em estratégias de educação mais participativas, que dialoguem com a realidade dos jovens educandos, tornando-a significativa e, de fato, real e interessante.

Além disso, é importante reconhecer a escola como um dispositivo normativo, que opera, inclusive, em modelos e práticas pedagógicas tidas como normas para o aprendizado de gênero e sexualidades; onde o masculino é mais valorizado e a heterossexualidade é compulsória, negligenciando e marginalizando ainda mais a constituição e a aceitação das identidades dos jovens. Dessa forma, é de extrema importância e relevância o trabalho do psicólogo no âmbito escolar no sentido de pensar em estratégias e atividades que partam da compreensão do jovem como sujeito mais ou menos vulnerável a exclusão, marginalização e violação de direitos; como um sujeito que se relaciona sexualmente e afetivamente; e que opera seu futuro em determinados projetos de vida.

Pensar em projetos de vida é trabalhar a educação voltada também à perspectiva do jovem quanto ao seu futuro; é trabalhar, com os jovens, projetos transformadores de si e do mundo a sua volta, em um prisma mais concreto. Mas, para isso, é importante tratar a juventude longe de uma perspectiva de extensão da infância ou transição para a vida adulta; e também ter em mente que o ensino médio não é uma extensão do ensino fundamental nem uma época exclusivamente preparatória para o que virá depois da conclusão do ensino médio. Tratar a juventude dessa forma é reduzi-la a noção de fase passageira, tão enraizada no modelo de educação atual.

Jovens, além disso, constroem seus valores através do meio social em que se encontram. Grupos sociais são importantes meios de socialização e constituição de vinculo, que por meio da identificação e do sentimento de pertencimento, constroem um terreno rico para a elaboração de vontades, interesses, valores e projetos de vida. A relação do jovem com o seu meio social construirá suas formas de sentir, pensar e agir frente ao mundo. Porém, é preciso olhar para o jovem não apenas sob a ótica do que esse vínculo significa, mas também em que posição e lugar social o grupo se encontra.

Segundo Sousa e Durand (2002), as instituições tradicionais de socialização como a escola, na sociedade contemporânea, não são mais uma referência muito concreta de valores e normas para os jovens, refletindo, como elaborado anteriormente, a educação depositária-depositante e normativa em que a sociedade se encontra. Essa referência é perdida pois, ao conviver com a instituição escolar, os jovens enfrentam uma realidade diferente da esperada. Eles têm a expectativa de que a escola pública cumpra o seu papel de oferecer suporte sociocultural, e que, a partir disso, a exclusão social seja, pelo menos, minimizada (Souza, Durand. 2002). A escola se mostra, então, ausente nos aspectos formativos, que incluam a reflexão sobre a problemática juvenil, e nos aspectos profissionais, que ofereçam suporte e perspectiva futura. Há, em decorrência disso, um sentimento de dualidade em relação a escola: a expectativa desse espaço ser, de fato, uma referência cultural, política e de formação de valores, mas que se torna um espaço de conflito e frustração.

O lazer e o tempo livre são aspectos que permeiam discussões sobre juventude e que se revelam como extremamente importantes para os jovens. Todavia, as instituições escolares e familiares encontram dificuldades em lidar com o ócio e com o contra-turno escolar, já que a sociedade está inserida em uma cultura e um modo de produção capitalista e extremamente produtivista, que não abre brechas para momentos de inatividade que não vão de encontro ao capital. Além disso, há uma preocupação familiar em relação ao envolvimento dos jovens com os “perigos” que a rua proporciona. Porém, são em momentos como o ócio o lazer que se constituem espaços de expressão e construção de habilidades e formas de ser plurais, de vontades, de “arriscar-se”, de tentar e de (re)encontrar novos sentidos existenciais.

Em decorrência disso, pensar nas múltiplas redes que permeiam a vida dos jovens, nos territórios aos quais circulam, e nas suas vivências e experiências para além da escola devem ser considerados como importantes objetos de investigação dentro do ambiente escolar, para que, dessa forma, o profissional psicólogo possa pensar em seu papel social dentro da educação, para contribuir e somar, junto com o corpo docente e de outros profissionais, na implementação de políticas públicas. “ (...) quando se adota um olhar mais abrangente da vida escolar, não centrado exclusivamente na dimensão psicoeducativa, mas também na sua dimensão psicossocial, a importância do trabalho do psicólogo em relação à implementação das políticas públicas no espaço escolar evidencia-se com clareza. ” (Martinez, 2010)

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