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GASLIGHTING: UMA FORMA OBSCURA DE VIOLÊNCIA

Por:   •  16/4/2018  •  Artigo  •  2.017 Palavras (9 Páginas)  •  240 Visualizações

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GASLIGHTING: UMA FORMA OBSCURA DE VIOLÊNCIA

Kelly Nogueira Mulinari¹

Resumo:

Este artigo visa esclarecer o conceito do termo americano Gaslighting, termo que passou a ser utilizado após o lançamento do filme Gaslight, através de exemplos claros e reflexão. Uma forma de violência que acontece com frequência por ser eficaz tanto nos danos causados a vitima, quanto em manipulação da mesma ao ponto de não haver a possibilidade ser percebida ou denunciada, evitando assim a responsabilização e punição do agressor. O que também pode ser o intuito deste tipo de violência psicológica. Uma violência comum a qual se está diariamente sujeito a sofrer, pois até mesmo na situação mais banal o gaslighting é utilizado como forma de fazer o outro sentir culpa por algo que ele não fez, manipulando o fato e fazendo o individuo crer que foi o causador da situação em que o colocaram e que sua capacidade mental ou de percepção está prejudicada. O primeiro passo para combater este tipo de violência é identificá-lo, mas para preveni-lo é necessário que as pessoas sejam informadas sobre ele.

Palavras chave: violência psicológica; tortura psicológica; violência doméstica.

 - “The worst part, Harry, is the lying”. In response, Harry replied, “I'm not lying, you're just imagining things.” (DORPAT, 1996, p.42). ²

O Termo Gaslighting ficou conhecido após o filme Gaslight (À Meia Luz, 1940, no Brasil) ser lançado. No filme um casal vive em guerra psicológica, o marido tenta fazer com que sua esposa acredite estar louca. Entre outras coisas, ele levanta e abaixa os níveis da iluminação (que eram luzes a gás, gas light), e nega à sua esposa, quando esta percebe a mudança e o questiona, que tenha percebido qualquer alteração nas luzes. Ele esconde seus objetos e diz que não os viu, entre outras coisas, que abalam a confiança dela em sua própria sanidade. Pela complexidade do assunto, pela simplicidade e facilidade com que esse tipo de violência ocorre, e pelas consequências que o gaslighting traz, é um assunto delicado, mas digno de preocupação. Para isto, lançando mão de artigos e literatura disponíveis de autores americanos.

De acordo com as referências (DORPAT, 1996; WELCH, 2008), resumindo, Gaslighting consiste na negação ao outro de suas memórias e certezas, na tentativa de desacreditá-lo, humilha-lo, manipula-lo ou simplesmente obter alguma vantagem deste. A algo que acontece todo o tempo trazendo consequências catastróficas as suas vítimas. As vítimas são condicionadas a se sentirem responsáveis ou culpadas, e muitas das vezes não percebem o que está acontecendo, têm sua autoestima destruída e senso de realidade distorcido tornando impossível um pedido de ajuda e em sua grande maioria isso acontece em ambiente familiar, onde o afeto ou confiança no agressor se soma aos diversos fatores como fator preponderante.

É passível de acontecer em toda relação onde exista um relacionamento dominante-dominado, relações religiosas, políticas, clínicas e assim por diante (WELCH, 2008). Existem literaturas americanas sobre o termo, mas como em português o termo não é conhecido ou não comumente citado procuraremos trabalhar com as referências e suas traduções. Este artigo tem como objetivo trazer ao conhecimento o termo e suas implicações.

Gaslighting, segundo as definições americanas (WELCH, 2008, p. 06) é uma forma de abuso psicológico em que informações falsas são apresentadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade. Pode variar para apenas a negação do agressor de que incidentes abusivos anteriores já aconteceram, até a realização de eventos bizarros pelo agressor com a intenção de desorientar ou desestabilizar a vítima. Pode variar de pequenas ações tão comuns à um ataque bem elaborado. Em um olhar psicanalítico, gaslighting é um termo que pode ser evocado a um relacionamento narcisicamente distorcido onde acontece a identificação projetiva, mas com o medo da retaliação do objeto atacado “a ansiedade persecutória e a agressão se reforçam mutuamente” (KLEIN, 1991, p. 53).  

Na identificação projetiva partes do self e dos objetos internos são separados e projetados para o objeto externo, que, em seguida, torna-se possuído por, controlado e identificado, com as partes projetadas. Identificação projetiva tem objetivos múltiplos: ela pode ser direcionada ao objeto ideal para evitar a separação, ou talvez voltada para o mau objeto, para ganhar o controle da fonte de perigo. Várias partes do self podem ser projetadas, com vários objetivos: más partes do self podem ser projetadas a fim de se livrar delas bem como para atacar e destruir o objeto, partes boas podem ser projetadas para evitar a separação ou para mantê-lo a salvo de coisas ruins do meio ou para melhorar o objeto externo por meio de uma espécie de reparação projetiva primitiva. (SEGAL, 1974, p. 27–28 tradução nossa).

O que pode se dar em qualquer tipo de relação e por vários motivos, o que torna mais complexo lidar com esta agressão. Pela perspectiva de identificação projetiva da citação de SEGAL (1974), podemos exemplificar onde a violência ocorre distorcidamente “em nome do amor”, a agressão conjugal pelo medo da separação ou pela traição, a relação entre pais e filhos na tentativa de protegê-los do mundo. Ou nas agressões sexuais, de gênero, de sexualidade, nas relações de vingança ou de tentativa de se livrar da culpa, mas segundo WELCH (2008) gaslithing acontece quando por, e para isso, o agressor desestabiliza a vítima, distorcendo a realidade tornando-a um alvo fácil de ser manipulado.

Gaslighting é um conjunto insidioso de manipulações psicológicas que prejudicam a estabilidade mental de suas vítimas. Estas técnicas têm invadido os nossos meios de comunicação, se infiltrado em nossas igrejas e atacado nossas instituições públicas mais básicas. (WELCH, 2008, p.06 tradução nossa).

WELCH (2008) alerta para ainda para os perigos da manipulação em o que se vê com frequência em meios políticos, religiosos e de comunicação, no uso de falsas informações, falsas promessas, terror psicológico, com o intuito de tornar as pessoas alvos fáceis para manipulação conforme seus próprios interesses.

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