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Introdução As Teorias do Desenvolvimento

Por:   •  12/5/2017  •  Trabalho acadêmico  •  13.059 Palavras (53 Páginas)  •  261 Visualizações

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Introdução As Teorias do Desenvolvimento

Qualquer pai ou professor que dissesse a um adolescente: "Quantas vezes eu te disse para não fazer isto?" deveria se perguntar se o desenvolvimento moral é tão penoso como tantas vezes parece, tanto para os adultos como para os adolescentes. Supondo que o adolescente tenha escutado e entendido, o adulto, por isso, se irrita diante da lentidão do jovem em assimilar os princípios fundamentais e as regras do certo e do errado e fica hesitante sobre qual seria o meio mais adequado para garantir uma aplicação segura e contínua de tais princípios.

A educação moral deve ser igualada ao ensino de regras e do desenvolvimento do caráter, e se espera que se manifestem no comportamento expressivo através das virtudes tradicionalmente conhecidas e respeitadas, tais como a honestidade, a coragem, o controle de si mesmo, a solidariedade e o respeito ao próximo. A maior parte dos programas tinha como objetivo realçar essas virtudes, de modo que se tornassem princípios internos que orientassem o comportamento e as decisões a serem tomadas. Os meios para a realização de tal objetivo eram, fundamentalmente, os de confrontação entre o comportamento do adolescente e o exemplo dos adultos ou entre os jovens maiores que tinham virtudes especificas, ilustrando estas virtudes, recompensando a prática e punindo a omissão das mesmas. Esse tipo de educação moral pouco difere do ensino de "regras de etiqueta" ou de um comportamento aparentemente educado.

A longa série de estudos de Hartshorne e May, da Universidade de Chicago, sobre o roubo, o engano, a mentira levanta uma serie de duvidas sobre os programas de educação moral - como os acima descritos – feitos em casa, na escola, nos clubes e nos grupos eclesiásticos. Todos os estudos aportam sempre nas mesmas conclusões:

  1. Não há nenhuma relação entre o treinamento do caráter e o comportamento atual.

  1. A ação moral das pessoas não é constante em situações diversas.
  2. Não existe necessariamente uma relação entre aquilo que uma pessoa diz sobre a moralidade e o seu modo de agir. Quem desaprova, com palavras, o furto e o engano pode enganar e roubar tanto quanto qualquer outro.         
  3. O ato de enganar é normalmente distribuído em níveis moderados, donde se pode concluir que geralmente cada pessoa engana um pouco.

Estes estudos indicam que as formas tradicionais de educação do caráter ou de educação moral não produzem, de fato, um comportamento que esteja de acordo com os princípios ensinados através do exemplo, do incentivo, da recompensa ou do castigo. As questões levantadas neste estudo suscitam uma questão maior sobre o desenvolvimento moral: o que pais e educadores podem fazer que seja realmente eficaz?

Uma resposta pode ser encontrada no trabalho dos dois psicólogos do desenvolvimento – Jean Piaget e Lawrence Kohlberg – que tão bem estudaram o processo evolutivo no juízo moral. Suas descobertas apóiam a tese de que o julgamento        moral se desenvolve através de uma série de reorganizações cognitivas chamadas estágios. Cada estágio tem uma forma, um esquema e uma organização bem definida.

Um dos sinais mais claros da mudança de organização no raciocínio de uma pessoa é aquele em que uma criança, por certo tempo, julga a gravidade de uma ação pela conseqüência material, até que a base passa a ser não mais a conseqüência material, e sim a intenção que diz respeito à ação.

        Tal mudança de perspectiva é claramente indicada nas respostas dos adolescentes ao seguinte dilema:

  1. Uma menina chamada Maria queria fazer uma agradável surpresa a sua mãe e cortou para ela um pedaço de pano, mas, como não sabia manejar a tesoura, fez um grande buraco no seu vestido.
  2. Uma menina chamada Margarida, estando sua mãe ausente, pegou uma tesoura e brincou com ela. Como não sabia manejá-la, fez um pequeno buraco no seu vestido. (Piaget, J., The Moral Judgment of the Child; trad. it: II Giudizio Morale nel Fanciullo, a cura di Petter G., Firenze, Giunti-Barbera,1972, p. 98. A citação se refere à tradução italiana.)

Quando se perguntou a duas crianças qual das duas meninas deveria ser punida com mais rigor, a resposta foi a seguinte:

Marilena, de seis anos: "Aquela que fez o buraco maior". "Por quê?": "Porque fez um buraco grande".

Pedro, de sete anos: “A segunda". "Por quê?": "Porque a primeira estava tentando agradar à mãe, enquanto a segunda estava brincando com a tesoura e não deveria ter feito isso".

A resposta de Marilena é típica do estágio em que se julgam as ações com base na gravidade das conseqüências materiais da ação. Pedro, ao contrário, é capaz de perceber a intenção não se detém na dimensão do buraco feito nem no dilema da conseqüência material.

Marilena está no estágio de desenvolvimento no qual julga uma ação baseada somente nas conseqüências materiais.

Não há explicação, incentivo ou punição que possam convencer Marilena de que existe um outro modo de considerar esses dois casos. O que há, realmente, é uma incapacidade total de levar em consideração a possibilidade de alternativas. Pedra, embora tivesse usado, até um tempo atrás, o mesmo critério de Marilena para julgar o grau de culpabilidade, ficaria surpreso com o raciocínio dela e não se lembraria de ter dado a mesma resposta quando era menor.

Esta diferença na resposta é universal. Repetidas entrevistas com os mesmos jovens confirmam e reconfirmam o fato de que em certos estágios as coisas são vistas de uma perspectiva diferente da precedente. Uma maior maturidade cognitiva, aliada a uma série de experiências sociais, alargará a perspectiva de Marilena, e só então ela perceberá a inadequação de seu modo de julgar o certo e o errado.

O desenvolvimento moral, portanto, não é um processo de imposição de regras e de virtudes, mas um processo que exige uma transformação das estruturas cognitivas. É, por isso, dependente do desenvolvimento cognitivo e do estímulo do ambiente social.

Teoria Evolutiva de Jean Piaget

Jean Piaget orientou, por mais de quarenta anos, estudos sobre a origem e o desenvolvimento das estruturas cognitivas e do julgamento moral nos primeiros anos de vida. Os seus estudos sobre o juízo moral da criança foram publicados pela primeira vez no ano de 1932. Piaget aí analisava as atitudes verbais das crianças em relação às regras do jogo, à distração, à mentira e ao roubo e explorava muitos aspectos a noção de justiça das crianças. Identificou dois grandes estágios de desenvolvimento no período que vai dos seis aos doze anos. As crianças menores estão no estágio denominado “heteronomia" – isto é, suas regras são leis externas, sagradas, porque são impostas pelos adultos. Assim, as regras contra q dano, contra a mentira ou contra o roubo não são vistas como maneiras de agirem fixadas para um melhor funcionamento da sociedade, mas, sim como arbitrárias, isto é, como "leis da divindade" que não devem ser transgredidas. Este estágio diminui gradualmente em favor do estágio da "autonomia", em que as regras são vistas como o resultado de uma decisão liberal e digna de respeito, aceitas pelo mútuo consenso. As regras sobre a propriedade, a mentira, o roubo são respeitadas porque são uma necessidade do próprio grupo, e não porque vêm de um superior.

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