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NOVO TRANSTORNO PSICOLOGICO

Por:   •  20/11/2018  •  Artigo  •  1.436 Palavras (6 Páginas)  •  162 Visualizações

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Novo transtorno psiquiátrico, vício em internet atinge principalmente os mais jovens

Cyberdependência traz riscos à saúde, não escolhe gênero ou camada social, mas tem tratamento

Novo transtorno psiquiátrico, vício em internet atinge principalmente os mais jovens

 

 

Quando Navegar não é preciso

Lucas (nome fictício) cursava Direito em uma universidade paulista. Ainda está matriculado na instituição, mas é mais apropriado empregar o verbo no passado: há alguns meses ele não comparece às aulas. Não que o rapaz, de 18 anos, tenha trocado os estudos pelo trabalho ou por outras atividades da idade, como namoro, baladas, passeios e viagens. O único compromisso que tem é com o computador. O adolescente integra um grupo em franca expansão tanto no Brasil quanto no mundo: o de viciados em internet. O problema tem alcançado dimensões tão preocupantes que já há quem defenda que seja encarado como questão de saúde pública.

O jovem conta que já chegou a passar 48 horas quase ininterruptas diante da tela, trocando e-mails ou conversando com amigos virtuais em salas de bate-papo. "Parava apenas para ir ao banheiro ou pegar um lanche, que comia com a ajuda de uma das mãos, pois a outra tinha de ficar livre para teclar", relata. Ainda não há estatísticas precisas sobre o contingente de "cyberdependentes", mas as poucas pesquisas científicas disponíveis em torno do tema estimam que aproximadamente 10% dos internautas estariam nessa condição alarmante.

No Brasil, que possui cerca de 70 milhões de pessoas conectadas, o número chegaria a 7 milhões, o que corresponde a duas vezes a população do Uruguai.

"A tendência é que o problema se agrave com o tempo, visto que uma grande parcela da população brasileira ainda está por ingressar no universo digital", alerta o psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do Ambulatório integrado dos Transtornos do Impulso (Amiti),do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (IIC) de São Paulo.

Há quatro anos, foi criado no Amiti o Grupo de Dependência de Internet, voltado ao tratamento de quem não consegue fazer uso saudável da rede. Desde então, perto de 200 pessoas recorreram ao serviço, a grande maioria por causa da dependência da web. Poucos mantinham a mesma ordem de relação com outros equipamentos eletrônicos, como games e celulares. A procura parece ser pequena, mas é reflexo do processo normalmente cumprido pelos dependentes ate buscar ajuda especializada.

"Assim como outros tipos de viciados, eles custam a admitir que estão com problemas e, consequentemente, relutam em procurar tratamento", explica Abreu. Embora os jovens sejam os mais afetados, o vício em internet não é uma exclusividade dessa faixa etária. Entre os pacientes que buscam ajuda, também há adultos e idosos. "O problema não escolhe gênero ou estrato social, pois está presente em todas as camadas da população. Trata-se, a meu ver, de uma questão de saúde pública", analisa o psicólogo.

Mas o que caracteriza essa "dependência eletrônica"? O tempo gasto diante do computador é um dos indicadores, mas não é suficiente para definir a questão. Afinal, alguns profissionais, por força de suas atividades, permanecem conectados até 12 horas por dia, mas não desenvolvem o transtorno psiquiátrico.

"A dependência se instala quando o indivíduo percebe que está fazendo uso abusivo do computador, porém não consegue diminuir. Ele passa a ter mais facilidades virtuais do que no mundo real. Em dado momento, cria uma identidade paralela, por meio da qual estabelece todas as suas relações. Aí, a vida virtual passa a ser mais recompensadora do que a real, pois oferece menores possibilidades de decepção. Caso haja qualquer contrariedade, basta teclar F5 (botão de atualização)", detalha o coordenador do Amiti.

As consequências de tal comportamento são variadas, mas potencialmente dramáticas. O viciado em internet tende a transformar-se em um ser antissocial. Tem dificuldade de conviver até mesmo com os familiares. As longas horas dedicadas à navegação na rede fazem com que descuide da higiene pessoal e da alimentação. Vários tornam-se obesos, em razão da falta de atividade física e do consumo exagerado de refrigerantes, lanches e chocolates, alimentos que podem ser ingeridos de forma rápida diante da tela. Outros desenvolvem lesões nas mãos e membros superiores, em razão dos prolongados períodos dedicados à digitação.

Há casos também de trombose venosa profunda, a mesma que acomete as pernas dos passageiros de avião que permanecem sentados em uma mesma posição por horas afio - problema que ficou conhecido como "síndrome da classe econômica".

 

FALTA DE SONO

O uso abusivo do PC pode afetar ainda, de modo significativo, a qualidade do sono, como aponta a psicóloga Gema Galgani Duarte. Em sua dissertação de mestrado, apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela entrevistou 160 jovens com idades entre 15 e 18 anos. Desses, 66,25% foram classificados como "maus dormidores".

A maioria dos participantes da pesquisa admitiu que fica conectada entre 17h e 3h durante a semana. Nos finais de semana, o horário se estende das 18h às 6h. "Como o sono tem importância fundamental na nossa saúde, as incontáveis noites perdidas diante do computador podem concorrer para o surgimento de uma série de problemas, inclusive de ordem cardíaca. Isso sem falar no impacto negativo que a falta de uma boa noite de descanso tem no rendimento escolar", alerta a psicóloga.

Várias dessas implicações foram e continuam sendo percebidas pelo jovem Lucas, o personagem do início da reportagem. Por causada "cyberdependência", ele passou a dormir pouco, cortou os laços com os amigos reais, afastou-se da faculdade e desenvolveu problemas gástricos, em razão da dieta que adotou para poder permanecer conectado por longos períodos. "Hoje, tenho consciência de que preciso de ajuda para poder me controlar", admite. O rapaz ainda não recorreu a especialistas, mas começa a cogitar a ideia.

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