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O Sentimento de Si. O Corpo, a Emoção e a Neurobiologia da Consciência

Por:   •  16/5/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.025 Palavras (5 Páginas)  •  330 Visualizações

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Ficha de Leitura

Identificação do documento:

- DAMÁSIO, António R., O Sentimento de Si. O Corpo, a Emoção e a Neurobiologia da Consciência, trad, P.E.A, Mem Martins, publicações Europa-América, 2004, Capítulo Dois, p.55-106

 

Resumo:

O autor sugere que todos os homens e animais têm emoções. Os homens regem a sua vida, em grande parte, pela procura de uma emoção. A emoção humana é diferente da emoção dos animais. A emoção gera sentimento e é através dos sentimentos que a emoção se projecta na mente e causa o seu impacto.

O impacto da emoção depende dos sentimentos gerados, mas a emoção, ao contrário do sentimento, é sobretudo pública e revelada no exterior à presença de outro, enquanto os sentimentos são essencialmente da ordem do que se debruça no privado.

Porque é que os sentimentos na sua manifestação mais plena carecem da consciência? Justamente porque os sentimentos e em especial o sentido do si só podem ser conhecido por aquele que os experimenta. Tal consideração não alinha na ideia que tenhamos que estar conscientes das emoções ou sentimentos que se desenrolam no nosso organismo, mesmo que isso seja de facto o mais frequente, porquanto segundo o autor emoções e sentimentos acontecem enquanto processos biológicos sem que estejam por vezes presentes à consciência. Assim, embora o estado de emoção, de sentimento e de sentimento quando tornado consciente, se desenvolvam numa linha contínua, são três fases passíveis de distinção. Ou seja, só no estado de sentimento tornado consciente tanto a emoção passível de desencadear-se não conscientemente quanto o sentimento passível de representar-se de forma não consciente, são conhecidos pelo organismo. Tal significa que sem a presença da consciência o ser humano não experimenta as consequências últimas das emoções e dos sentimentos, mas que os mecanismos biológicos básicos que executam as emoções não carecem de consciência.

Tal como a consciência também é o caso que a emoção se destina à sobrevivência, mas que relação mais funda existe entre a consciência nuclear e a emoção? Nas perturbações mais radicais da consciência nuclear a emoção é igualmente suspensa, o autor assinala a possibilidade que a base neural de ambas seja comum, dispõem de dispositivos situados na mesma região do sistema nervoso, o que não é o caso entre a emoção e a consciência alargada, daí que a perda de certas emoções exerça por vezes dramática influência, comprometendo, a tomada de decisões racionais: “Não parece que a razão tenha qualquer vantagem em funcionar sem a ajuda da emoção.”

O autor avança com a tese que os sentimentos têm porventura uma relação privilegiada com a consciência na medida em que estes estão na fronteira que separa o ser do conhecer. A sua novidade assenta no facto dessas emoções induzidas de forma não consciente surgirem e/ou estarem presentes ao si consciente. As emoções são um barómetro fidedigno do nosso bem-estar, sendo que não conseguimos de facto evitar, pelo menos cabalmente, a expressão de um emoção, de um sorrido genuíno quando algo profundamente nos agrada ou de uma tristeza comovida quando se despede quem realmente gostamos, isto é, podemos disfarçar certas manifestações externas da emoção, mas dificilmente somos capazes de bloqueá-las ou impedi-las de acontecer nas profundezas do nosso cérebro.

O ciclo emoção-ao-sentimento-emoção é revelador de um comportamento consciente e quando suspenso um observador facilmente detectará uma estranheza no comportamento observado. Temos emoções primárias e/ou universais – alegria, tristeza, medo, cólera, surpresa ou aversão, emoções secundárias ou sociais –  vergonha, ciúme, culpa, orgulho e emoções de fundo –  bem-estar ou mal-estar, calma ou tensão. O que nos importa do ponto de vista filosófico na tese de que é possível a posse de emoções sem consciência, sem que elas se tornem presentes à consciência, é a necessidade que o autor também parece enfrentar de encontrar algo mais primitivo do que a consciência na ordem do que acontece, do que humanamente nos acontece, que essas emoções são o que de comum possuímos, tal como os sentimentos, num postulado ético de que não estamos sozinhos. Porque admitindo que a consciência se sente, ninguém sente na radical solidão e despojamento do outro. Ou seja, as emoções desempenham um papel regulador na vida do organismo, nomeadamente ajudando à manutenção da própria vida, é verdade que são dependentes de certos dispositivos cerebrais inatos, mas esses dispositivos são passíveis de activação sem que haja para tal deliberação consciente. Essas respostas emocionais que damos suscitam alterações profundas tanto no nosso corpo quanto no nosso cérebro. Aliás, as emoções de fundo são a prova sobrevivente nos casos de certas perturbações neurológicas menos profundas, embora se encontrem suspensas quando a consciência nuclear entra em colapso: “As emoções e a consciência nuclear tendem a estar presentes em conjunto, ou ausentes em conjunto”

 Porque é que a dor não é uma emoção? Segundo o autor a dor é uma qualidade distintiva de certas emoções, isto é, sem a intervenção do si não há maneira de sabermos que temos uma dor, mesmo que sem a consciência o cérebro seja per si capaz de produzir os padrões neurais correspondentes à dor e o organismo revele comportar-se de forma adequada a por exemplo, evitá-la. Ou seja, na ausência da consciência o que reage é tão-só o organismo, capaz de representar as respostas adequadas em face de situações concretas, mas o si está ausente. Acerca do que aqui nos ocupa, emoção e consciência, verificamos que há uma notável articulação entre comportamentos externos e emoções de fundo que lhes são subjacentes, ou seja, para o autor o facto de a consciência assumir uma perspectiva privada não só não impede o tratamento científico e/ou objectivo de estados subjectivos, quanto não nos coloca sozinhos diante de um mundo que acontece independente de nós, porquanto em relação à alteridade somos permanentemente convidados à observação desse comportamento exterior, desse outro que entra na nossa vida sem convite ou intimação prévia e por isso tem nela uma presença autêntica. Em última instância, pretende-se aqui defender, as nossas emoções mais estruturantes são causadas pela presença, acção e comportamento de outros: “É que nós, enquanto seres humanos, apesar de notáveis características individuais que transformam cada um de nós num ser verdadeiramente único, partilhamos características biológicas semelhantes em termos da estrutura, organização e função dos nossos organismos.”

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