TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

O Ser da Compreensão: Fenomenologia da situação do psicodiagnóstico

Por:   •  26/10/2017  •  Resenha  •  2.809 Palavras (12 Páginas)  •  651 Visualizações

Página 1 de 12

RESENHA

AUGRAS, Monique. O Ser da Compreensão: Fenomenologia da situação do psicodiagnóstico -  12. ed. Petrópolis, vozes, 2008.  96 p.

Rosemary Barbosa Ferreira

Graduandos em Psicologia pela Universidade Federal de

Roraima – UFRR/Campus Paricarana.

Rosemaryferreira.barbosa@gmail.com

Introdução

“Eu estava em movimento e percebia que cada fibra muscular (ou cada unidade motora) do meu corpo comportava-se como um segmento de reta”, Disse Gaiarsa.  O que se prolongava até o infinito nas duas direções. Em seu sonho ele dizia que cada músculo era então uma condensação de linhas: conforme o músculo, a região ou o movimento, ele sentia uma dor, como se fosse uma soma, abrindo-se ou fechando-se em todas as direções imagináveis.

Orientando adequadamente braços e mãos, ele podia fazer com que este grande número de linhas se cruzasse de todas as formas possíveis. Dada a existência de verdadeiros pincéis de linhas, quando eles se cruzavam com incidências variáveis, podiam traçar curvas e volumes que eram verdadeiras integrais e diferenciais acontecendo no espaço”.

Nessa imagem está figurada toda a dinâmica do espaço humano. As dimensões do espaço são criadas a partir 38 das extensões do corpo. O ser humano é o seu centro. O espaço é aberto, orientado pela movimentação do ser dentro do mundo, é a partir de suas ações que vai se moldando a relação. Ontologicamente, a espacialidade do ser no mundo está presente no próprio conceito heideggeriano do Dasein — o ser aí cujo existir inclui o espaço, como inclui o mundo.

No espaço da coexistência, os homens tecem redes que os aproximam e os afastam, organizando o mundo de maneira a assegurar áreas recíprocas de movimentação. Em termos de vivência, o espaço tridimensional revela-se como intuição fundamental, construída a partir da movimentação do corpo, sentido como centro. Em cima e embaixo, esquerda e direita, perto ou longe, à frente ou atrás, definem as características da tridimensionalidade.

Com relação ao OUTRO, o mundo humano é essencialmente mundo da consistência. O homem define-se enquanto ser social e o crescimento individual depende, em todos os aspectos, do encontro com os demais. A psicologia clínica de obediência psicanalítica tem designado como relações objetais todo o jogo de inter-relações que faz do outro, nas próprias palavras de Freud: modelo, objeto, auxiliar, ou adversário. É comum considerar que determinadas perturbações expressariam uma falha antiga no manejo do relacionamento com os diversos “outros” que formam o ambiente familiar. A psicoterapia, seja qual for a teoria em que se apoia, consiste precisamente em reaprender a lidar com os demais, mediante a interação, com o Outro, sintetizado na pessoa do terapeuta, ou desdobrado nos outros, no caso de terapia de grupo.



A fenomenologia existencial postula que o mundo da coexistência não se estrutura em termos de oposição ou de complementaridade entre um sujeito e os diversos objetos que o rodeiam: “Os ‘outros’ não designam a totalidade daqueles que não sou, dos quais me separo, pelo contrário, os outros são aqueles dos quais a gente não se distingue, e entre os quais se encontra também”. Não se trata de justaposição, mas do encontro dentro do meio ambiente.

De acordo com os autores, Heidegger chama a atenção para o fato de que, mesmo sem a presença do outro, o ser no mundo é ser com os outros. Estar só é estar privado do outro, num modo deficiente da coexistência, que constitui uma das estruturas do ser no mundo. Essa característica fundamental da existência propicia, em retorno, a compreensão da existência alheia, ou seja, a compreensão não se limita ao conhecimento intelectual. Representa um modo de ser existencial que se estabelece como fundamento de qualquer conhecimento.

Capítulo 4. O ESPAÇO

“O lugar é uma parte do Ser”.

“O espaço”, escreve Heidegger, “só pode ser compreendido a partir do mundo”. O mundo é aqui entendido somente como sítio humano, orientado e dimensionado pelo homem, ou seja, faz parte do momento estrutural do ser no mundo. Nessa concepção, o espaço não é considerado como uma ordem, já dada, em que as coisas vão se colocando, ao contrário, é a organização do mundo dos objetos que orienta os lugares.

Espaço que você ver, não está apenas posto, mas é parte de uma organização maior. Gira em torno de um objetivo, o espaço próprio, por exemplo, sendo uma extensão do corpo, não pode ser invadido. Constitui condição imprescindível de sobrevivência, tal como os limites corporais. Toda a história do mundo é escrita em termos de manutenção e expansão do território, e em nenhum outro campo a transgressão dos limites acarreta mais dores e sofrimentos.

Para nós, porém, é recente o enfoque da proxêmica, que visa situá-lo em sua territorialidade. É possível interpretar diversas neuroses do cidadão que vive em meio urbano muito povoado, como sendo produtos da transgressão do território individual. O acúmulo de edifícios, os amontoamentos de meios de transporte reduzem as dimensões do território às fronteiras do corpo, não raro espremido também.

Uma forma de corroboração, são os animais selvagens, quando transportados fora do seu habitat natural, frequentemente emagrecem, ficam doentes e até morrem, sem que nenhuma causa orgânica possa ser identificada. Pessoas transplantadas apresentam reações de depressão e, até mesmo, quadros de despersonalização. Despojadas dos costumes de seu próprio ambiente, perdem também o seu centro.

 O espaço, estruturado como extensão do corpo, é vivenciado como parte integrante da unidade corpórea. A autora, citando Jaspers, faz uma observação: “Curioso é o fato de nossa consciência corpórea não se restringir aos limites de nosso corpo (...)”. O espaço de nosso corpo anatômico e físico se compreende até onde vai esta sensação de unidade conosco.

Poder-se-ia dizer então que o espaço é o corpo do homem, não sendo limitado as suas fronteiras somáticas, mas incluindo as extensões implícitas. A vivência do espaço expressa-se deste modo através da fenomenologia da corporeidade vivida, ou seja, uma conclusão previsível que daí decorre, decerto, é que nessa abordagem o corpo não é, ao menos não exclusivamente, um processo fisiológico, é antes uma ferramenta da qual o homem dispõe para expressar-se, experienciar o mundo e a si próprio, bem como atuar e conferir significado à concretude do mundo), na sua presença e movimentação.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (18.4 Kb)   pdf (166.1 Kb)   docx (17.8 Kb)  
Continuar por mais 11 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com