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O filme as vantagens de ser invisível numa visão Psicanalítica

Por:   •  27/8/2017  •  Resenha  •  3.683 Palavras (15 Páginas)  •  2.198 Visualizações

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Resenha crítica – As vantagens de ser invisível

        Ao assistir “As vantagens de ser invisível” a primeira sensação que vem à tona é a de regressão à fase explorada na obra, a adolescência. Considerando que o conceito de adolescência que estamos adotando é o proposto por Monica Macedo (2012, p.15) ‘‘período do ciclo vital que faz a intermediação da infância e da idade adulta e todas as mudanças necessárias para alcançar tal momento do desenvolvimento’’, facilmente somos transportados de volta aquele mundo repleto de sentimentos de insegurança, frustração, inadequação, enfim, aquela inquietação frequente “Será que estou fazendo o certo? Como as pessoas me veem? Que imagem estou passando? Qual imagem quero passar? Quem eu quero ser? Como quero me tornar quem quero ser?”

Neste trabalho, buscamos debater o desenvolvimento individual de algumas das principais figuras que o filme retrata, realizando, no decorrer desse processo, levantamentos sobre as principais características que demarcam esse importante período do desenvolvimento humano. Apesar do protagonista ser Charlie, a multiplicidade de personalidades e particularidades presentes na vida dos outros personagens coadjuvantes demarcam uma área potencial de exploração teórica que viabiliza, assim, uma melhor compreensão desse estágio da vida.  

Esta obra, lançada em 2012, busca retratar a história de um grupo de jovens e as relações construídas entre eles, no decorrer de um ano escolar. A figura central que predomina na história, e que o espectador tem maior oportunidade de aprofundar-se, é Charlie – um garoto solitário que sofreu abuso durante a infância, culpabiliza-se pela morte da tia, tem que lidar com a perda do melhor amigo e encontra-se na difícil tarefa de construir novas amizades em uma nova escola.

O filme inicia com Charlie, escrevendo uma carta; o destinatário, inicialmente, não fica claro, assim como o histórico de Charlie, vamos nos deparar com esses aspectos no decorrer da trama, ao passo que acompanhamos também sua trajetória nessa nova fase da vida. A impressão inicial é que o grande drama de Charlie é o sofrido pela maioria dos jovens ao entrar nessa fase, o medo de não ter amigos, de não ser aceito em nenhum grupo, logo vemos que essa visão inicial está equivocada, e é incontestável que isso faz parte da bagagem do garoto, assim como de tantos outros adolescentes que passam pela referenciada fase. Porém, neste caso, em específico, estamos diante de uma história que vai muito além e é repleta de problemáticas, entre elas preconceito, morte e abuso sexual.

O período da adolescência, tendo como base uma análise psicanalítica, é caracterizado por um período de ressignificação psíquica e construção de identidade, que demanda um intenso trabalho psíquico do sujeito para lidar com os sentimentos e pulsões que se intensificam nessa época, por isso, muitas vezes, transformando-a em um período bastante turbulento (MACEDO, 2012). Para entender o psiquismo do garoto Charlie é fundamental tentar compreender os acontecimentos que marcaram sua infância e suas posteriores repercussões.

O primeiro ponto que merece destaque é que o filme se passa inteiro no formato das cartas que Charlie escreve. Aparentemente, as cartas não possuem um leitor específico, embora Charlie se dirija a esse possível remetente como um “amigo”. É uma forma que o garoto encontrou para expressar seus pensamentos, reflexões e aliviar o que sente, uma descarga, cartase, uma forma de diário.

A partir desse conteúdo tem-se uma maior apropriação da forma como o garoto, compreende e responde ao mundo que para ele se apresenta, além de funcionar como um meio de descarga para todos os sentimentos e desejos vivenciados nessa época, constituindo uma forma de lidar com toda a informação processada e fornecida pelo exterior. Uma reflexão de Macedo (2012), que ajuda a esclarecer essa ideia é que:

“O diário permite uma espécie de ponte entre a fantasia e mundo objetal. Dessa forma, a elaboração de perdas, o entendimento de situações e a compreensão de relações são facilitadas pelo uso da palavra escrita, tanto por tornar os fenômenos mais controláveis quanto pela possibilidade de organização do pensamento.” (p.38)

Sabe-se que a escola é o principal ambiente de socialização nessa fase da vida, afinal é dentro desse contexto que o jovem se sente livre para expor e tornar-se, o que deseja. É fora do ambiente familiar que o adolescente busca um novo grupo com o qual se identifique e crie laços tão importantes quanto os familiares foram, para as primeiras fases da vida. De acordo com Macedo (2012),

“a amizade surge com um papel decisório. Ela representa um investimento libidinal considerável e terá um papel fundamental nos novos caminhos a serem percorridos pelo adolescente. Ela ocupará um lugar que fora outrora dos pais. A amizade é, então, idealizada e não poderia ser de outra forma.” (p.33)

Ao entrar em uma escola nova, no ensino médio, ele se depara com múltiplos grupos de estudantes distintos, e se encontra na difícil tarefa de encontrar algum para se integrar, e ser aceito também. Nesse processo, o filme representa diversas situações problemáticas recorrentes no contexto do atual adolescente contemporâneo. Uma das primeiras problemáticas que identificamos, embora não abordada diretamente pelo filme, é o bullying que ocorre com os alunos novatos da escola, que provavelmente se estende a outros grupos no decorrer do ano, mas não foi representado pelo filme. A psicanálise reconhece o potencial simbólico destes atos degradantes, principalmente quando dirigido ao outro, por representar questões psíquicas particulares, sejam elas conscientes ou não.  Estes atos podem ser uma resposta tanto aos estímulos instigadores da violência presentes na sociedade (como a mídia, o ambiente familiar, os ídolos, etc), quanto representantes de frustrações e tensões, descarregadas através da violência, usada como um mecanismo de defesa (LEVISKY, 1997). Apesar de não ser o foco do filme e de sermos incapazes de identificar os reais motivos pelos quais a violência foi praticada, é importante ressaltar cada problemática representada, pois todos refletem situações reais que permeiam a dimensão não fictícia, fora do filme.

Além da prática de bullying, Charlie sofre diversos outros problemas impactantes para um adolescente em processo de formação de identidade. Entre elas, sua atitude antissocial, quebrada até o momento em que consegue encontrar e participar de um grupo de amigos, e seus momentos de ansiedade e terror psicológico, intensificadas ao entrar em situações de conflito/desacordo com este grupo de amigos a qual pertence

Considerando toda a importância de se encontrar dentro de um grupo de amigos, da aceitação, da identificação, é inevitável pensarmos na aflição do jovem na busca desse ideal. No início do filme, a primeira carta de Charlie deixa bem clara essa situação quando o garoto diz que ‘‘não falou com ninguém além da família o verão inteiro, mas amanhã será o primeiro dia de aula e precisará mudar essa situação’’. Subsequente a isso, vemos as sutis e falidas investidas de Charlie para se reunir com algum grupo, seja com sua irmã, uma velha amiga ou um antigo amigo de seu irmão.  Macedo (2012) foi uma teórica que afirmou a necessidade que o próprio adolescente demanda, na sua formação, em integrar-se a grupos sociais, que lhe proporcionam sentimentos de aceitação e cumplicidade perante a necessidade, agora presente, de ser independente dos pais. É no primeiro dia, também, que Charlie conhece, embora ainda não socialize, com um dos garotos que vai se tornar seu grande amigo durante a trama, trataremos disto em outro momento.

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