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O qué etnocentrismo

Por:   •  23/8/2017  •  Abstract  •  17.421 Palavras (70 Páginas)  •  238 Visualizações

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O QUE E[pic 1]

ETNOCENTRISMO

editora brasiliense


Everardo P. Guimaraes Rocha

O QUE E

ETNOCENTRISMO

1a edi?ao 1984
5
a edi?ao
editora brasiliense

1988

Copyright © Everardo P. Guimaraes Rocha

Capa e ilustraqoes:

“Pineaple Fields Forever”

Revisao:

Jose G. Arruda Filho Jose W.S. Moraes

ISBN: 85-11-01124-2

P

 editora brasiliense s.a

rua da consola9&o, 2697 01416 - sao paulo - sp.

Fone (011)280-1222 Telex 11 33271 DBLM BR


INDICE

Pensando em partir
Primeiros movimentos
O passaporte
Voando alto
A volta por cima
Indica?oes para leitura


Agradego a leitura, aos comentarios criticos e a amizade de: Agenor Miranda Rocha, Ana Paula Carvalho de Oliveira, Angela Menezes Pimentel, Angeluccia Bernardes Haebert, Anthony Seeger, Carlos Alberto M. Pereira, Claudia Lebelson Sterental, Heloisa Fontes Leuzinger, Jose Carlos Rodrigues, Maria Alice R de Carvalho, Maria Madalena Diegues Quintella, Patricia Sobral de Miranda, Roberto da Matta, Rosane Manhaes Prado, Rubem Rocha Filho.

PENSANDO EM PARTIR

Etnocentrismo e uma visao do mundo onde o nosso proprio grupo e tomado como centro de tudo e todos os outros sao pensados e sentidos atraves dos nossos valores, nossos modelos, nossas definiqoes do que e a existencia. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferenqa; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. Perguntar sobre o que e etnocentrismo e, pois, indagar sobre um fenomeno onde se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e afetivos. No etnocentrismo, estes dois planos do espirito humano - sentimento e pensamento - vao juntos compondo um fenomeno nao apenas fortemente arraigado na historia das sociedades como tambem facilmente encontravel no dia-a-dia das nossas vidas.

Assim, a colocaqao central sobre o etnocentrismo pode ser expressa como a procura de sabermos os mecanismos, as formas, os caminhos e razoes, enfim, pelos quais tantas e tao profundas distorqoes se perpetuam nas emoqoes, pensamentos, imagens e representaqoes que fazemos da vida daqueles que sao diferentes de nos. Este problema nao e exclusivo de uma determinada epoca nem de uma unica sociedade. Talvez o etnocentrismo seja, dentre os fatos humanos, um daqueles de mais unanimidade.

Como uma especie de pano de fundo da questao etnocentrica temos a experiencia de um choque cultural. De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta a vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Ai, entao, de repente, nos deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, as vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz e de forma tal que nao reconhecemos como possiveis. E, mais grave ainda, este “outro” tambem sobrevive a sua maneira, gosta dela, tambem esta no mundo e, ainda que diferente, tambem existe.

Este choque gerador do etnocentrismo nasce, talvez, na constataqao das diferenqas. Grosso modo, um mal-entendido sociologico. A diferenqa e ameaqadora porque fere nossa propria identidade cultural. O monologo etnocentrico pode, pois, seguir um caminho logico mais ou menos assim: Como aquele mundo de doidos pode funcionar? Espanto! Como e que eles fazem? Curiosidade perplexa? Eles so podem estar errados ou tudo o que eu sei esta errado! Duvida ameaqadora?! Nao, a vida deles nao presta, e selvagem, barbara, primitiva! Decisao hostil!

O grupo do “eu” faz, entao, da sua visao a unica possivel ou, mais discretamente se for o caso, a melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do “outro” fica, nessa logica, como sendo engraqado, absurdo, anormal ou ininteligivel. Este processo resulta num consideravel reforqo da identidade do “nosso” grupo. No limite, algumas sociedades chamam-se por nomes que querem dizer “perfeitos”, “excelentes” ou, muito simplesmente, “ser humano” e ao “outro”, ao estrangeiro, chamam, por vezes, de “macacos da terra” ou “ovos de piolho”. De qualquer forma, a sociedade do “eu” e a melhor, a superior. representada como o espaqo da cultura e da civilizaqao por excelencia. E onde existe o saber, o trabalho, o progresso. A sociedade do “outro” e atrasada. E o espaqo da natureza. Sao os selvagens, os barbaros. Sao qualquer coisa menos humanos, pois, estes somos nos. O barbarismo evoca a confusao, a desarticulaqao, a desordem.

O selvagem e o que vem da floresta, da selva que lembra, de alguma maneira, a vida animal. O “outro” e o “aquem” ou o “alem”, nunca o “igual” ao “eu”.

O que importa realmente, neste conjunto de ideias, e o fato de que, no etnocentrismo, uma mesma atitude informa os diferentes grupos. O etnocentrismo nao e propriedade, como ja disse, de uma unica sociedade, apesar de que, na nossa, revestiu-se de um carater ativista e colonizador com os mais diferentes empreendimentos de conquista e destruiqao de outros povos.

A atitude etnocentrica tem, por outro lado, um correlato bastante importante e que talvez seja elucidativo para a compreensao destas maneiras exacerbadas e ate crueis de encarar o “outro”. Existe realmente, paralelo a violencia que a atitude etnocentrica encerra, o pressuposto de que o “outro” deva ser alguma coisa que nao desfrute da palavra para dizer algo de si mesmo.

Creio que e necessario examinar isto melhor e vou faze-lo atraves de uma pequena estoria que me parece exemplar.

Ao receber a missao de ir pregar junto aos selvagens um pastor se preparou durante dias para vir ao Brasil e iniciar no Xingu seu trabalho de evangelizaqao e catequese. Muito generoso, comprou para os selvagens contas, espelhos, pentes, etc.; modesto, comprou para si proprio apenas um modernissimo relogio digital capaz de acender luzes, alarmes, fazer contas, marcar segundos, cronometrar e ate dizer a hora sempre absolutamente certa, infalivel. Ao chegar, venceu as burocracias inevitaveis e, apos alguns meses, encontrava-se em meio as sociedades tribais do Xingu distribuindo seus presentes e sua doutrinaqao. Tempos depois, fez-se amigo de um Indio muito jovem que o acompanhava a todos os lugares de sua pregaqao e mostrava-se admirado de muitas coisas, especialmente, do barulhento, colorido e estranho objeto que o pastor trazia no pulso e consultava frequentemente. Um dia, por fim, vencido por insistentes pedidos, o pastor perdeu seu relogio dando-o, meio sem jeito e a contragosto, ao jovem Indio.

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