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Precondições Socioculturais Para o Aparecimento da Psicologia como Ciência no Século XIX

Por:   •  14/8/2016  •  Resenha  •  1.447 Palavras (6 Páginas)  •  5.263 Visualizações

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FIGUEIREDO, L.C.M E SANTI, P.L.R (1997).  “Precondições socioculturais para o aparecimento da psicologia como ciência no século XIX”. Psicologia uma (nova) introdução. São Paulo: Educ.

Neste capítulo, o autor apresenta o cenário que propiciou o surgimento da psicologia como ciência. Mediante uma análise de acontecimentos históricos, Figueiredo apresenta duas condições que considera necessárias para o conhecimento científico psicológico: A experiência da subjetividade privatizada e a experiência da crise dessa subjetividade. Embora, na contemporaneidade, essa experiência da subjetividade privatizada (capacidade de tomar decisões, sentimentos pessoais e desejos) seja bastante comum, o autor mostra que tal experiência requer determinadas características em uma sociedade e tende a se manifestar principalmente em situações de crises sociais, quando tradições culturais são contestadas e surgem dúvidas. Essa experiência proporciona uma valorização do homem, que passa a ter o sentimento de poder e controle sobre forças naturais. Tal situação resultou na necessidade do conhecimento da psicologia como ciência.  A crise dessa subjetividade se dá quando o homem descobre que essa liberdade é, na verdade, uma ilusão e ele, não controla o mundo a sua volta. A esperança de conhecer e controlar a individualidade dos sujeitos desemboca na demanda por uma sociologia aplicada.

Ideias Centrais:

Precondições que propiciaram a elaboração de projetos de psicologia como ciência independente:

● Experiência da subjetividade privatizada: desenvolvimento e consequências.

● Crise da subjetividade privatizada.

Todo o capítulo discorre sobre as supracitadas precondições e mostra que “nosso modo atual de entendermos nossa experiência como indivíduos autônomos não é natural nem necessário, mas sim parte de um movimento de amplas transformações pelas quais o homem tem passado em sua história, sobretudo na Modernidade” (FIGUEIREDO, L.C.M E SANTI, P.L.R. 1997. p.4) e dentro dessas transformações, está inclusa a importante participação das artes e da filosofia.

Se fosse possível datar um momento inicial para manifestações dessa experiência subjetiva, esse momento seria o Renascimento, por ser um período marcado por mudanças em várias áreas da vida humana, sendo bem evidentes na cultura, política, religião e economia. O que pode ser facilmente notado nas artes, na filosofia e consequentemente nas ciências. É sabido que durante o período Medieval, a Igreja Católica dominava todos esses campos, contudo, no Renascimento, a transição de um sistema econômico feudal para o capitalista desembocou em mudanças em praticamente todos as relações sociais e por conseguinte, na mente dos indivíduos.

Assim, o texto mostra a diversidade de coisas que a psicologia abarca e em profunda análise pode-se notar sua tamanha complexidade.

Considerando o Renascimento como um momento em que houve uma grande perda de referências e o conflito interno do homem em ter que decidir por si só o que é certo ou não, correndo ainda o perigo de ser reprimido pela sociedade por não ter ideias comuns, se inicia então um momento em que o homem é valorizado, Deus é distanciado e o homem passa a se sentir com poder e direito de controlar a natureza. Essa valorização e confiança no poder humano (humanismo moderno) começa a se expressar nas artes que por muitas vezes são proibidas e artistas são castigados, embora pareça apenas uma briga por ego na qual cada homem quer impor sua verdade, hoje é possível notar que artistas que divulgavam novas ideias eram, na verdade, temidos, pois nada assusta mais o homem  (que naquele momento acredita ter tanto poder) do que não ter conhecimento e explicação para algo novo.

A filosofia também se manifesta por meio de uma escola grega chamada “ceticismo”, essa, por sua vez, procura métodos seguros para achar verdades absolutas. “Assim, podemos considerar que a constituição do sujeito moderno é contemporânea ao início da crítica a este mesmo sujeito” (FIGUEIREDO, L.C.M E SANTI, P.L.R. 1997. p.5). Essa procura pelo método certo, acerca do que é verdadeiro ou falso acabou por causar um sentimento de saudosismo do funcionamento do período Medieval, o homem tendia/tende a procurar por algo em que se apoiar e a Igreja é um órgão que, desde os primórdios soube se aproveitar dessa procura.

O surgimento do Iluminismo trouxe ainda mais questões ao criticar o modo renascentista de pensar no “eu” e a procura de métodos seguros e universais, afirmando assim a complexidade da consciência e do conhecimento. Ainda no fim do século XVIII surge o Romantismo que, por sua vez, destrona todas as filosofias até ali colocadas de modo a afirmar a superioridade da natureza em relação ao homem.

Todos esses pensamentos tendiam a despertar cada vez mais a experiência individual do homem. Contudo, o surgimento e desenvolvimento do mercado foi um acontecimento que aprofundou e universalizou essa experiência pois agora o homem era obrigado a conhecer-se, identificar suas especialidades e aperfeiçoá-las para então sobreviver nesse novo sistema econômico. Essa mudança afeta todas as relações sociais que eram antes baseadas em trocas feitas diretamente de pessoa para pessoa ou baseadas em laços de reciprocidade e nesse momento há a alienação da sociedade.

Embora, a ideologia liberal Iluminista apoiasse esse sistema de forma a enaltecer a liberdade individual, a crença de que todos são iguais, tem os mesmos direitos e devem defender seus interesses acabou por tornar essa liberdade em algo não tão bom como se esperava. Os homens não souberam lidar com as diferenças, suas responsabilidades e interesses particulares. Para amenizar esses conflitos foram instalados os famosos sistemas de docilização, a disciplina e a imposição de padrões reduzem a experiência da subjetividade. Esse sistema, ao mesmo tempo que faz o indivíduo reduzir-se, deixar de ser o que é para se tornar o que a sociedade quer que ele seja, faz com que esse acredite que está cada vez mais livre.

Quando então, o indivíduo passa a desconfiar dessa liberdade é que acontece a crise da subjetividade privatizada. O homem passa perceber a presença do Regime Disciplinar (docilização) até mesmo nos âmbitos em que mais pensava estar livre, percebe também que não é tão diferente dos demais e passa a se questionar sobre quem é, de fato.

Ao lado dessa necessidade que emerge no contexto das existências individuais de se saber o que somos (…) surge para o Estado a necessidade de recorrer a práticas de previsão e controle: como lidar com os sujeitos individuais? como educá-los da forma mais eficaz, treiná-los, selecioná-los para os diversos trabalhos? Em todas essas questões se expressa o reconhecimento de que existe um sujeito individual e a esperança de que é possível padronizá-lo segundo uma disciplina, normalizá-lo, colocá-lo, enfim, a serviço da ordem social. Surge, desse modo, a demanda por uma psicologia aplicada, principalmente nos campos da educação e do trabalho.” (FIGUEIREDO, L.C.M E SANTI, P.L.R. 1997. p.11)

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