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Provocações em torno dos conceitos de espontaneidade e criatividade

Por:   •  13/5/2018  •  Artigo  •  1.074 Palavras (5 Páginas)  •  322 Visualizações

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Provocações em torno dos conceitos de espontaneidade e criatividade

Maria Virginia Souza Alves

Naffah Neto (1997) afirma que espontaneidade e criatividade são o núcleo da teoria socionômica e discute vastamente o tema, bem como a relação entre os dois conceitos. Na visão moreniana o homem é visto como possuidor de espontaneidade, criatividade e sensibilidade inatas (GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988). Ramalho (2002) também aponta a espontaneidade como o conceito central do pensamento moreniano.

Garrido Martín (1996) ressalta que as teorias de mundo, de homem, do adoecer e do curar de Moreno foram embasadas na espontaneidade e todas as suas técnicas terapêuticas visam despertar a espontaneidade criativa do homem. Perazzo (1994) também coloca como núcleo central do psicodrama a Teoria da Espontaneidade-Criatividade em articulação com a Sociometria e a Teoria de Papéis. Diante deste panorama, podemos afirmar que a importância crucial do conceito de espontaneidade é consenso entre os psicodramatistas.

Moreno concebia o nascimento, não como um momento doloroso de passagem do conforto e proteção da vida intra-uterina para o desconforto e riscos da vida extra-uterina, mas como a primeira manifestação de espontaneidade, através de uma resposta adequada à situação. A espontaneidade é, para ele, a capacidade do indivíduo agir de forma “adequada” ante as situações novas. Assim, se o sujeito age com espontaneidade estará criando novas respostas às situações que se apresentam. Se, ao contrário, os mesmos comportamentos são conservados, originam-se Conservas Culturais e perde-se a criatividade (GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).

Fonseca (2008, p. 28) afirma que a “fonte da espontaneidade é a própria espontaneidade”. E acrescenta que ela se libera em contato com a espontaneidade do outro. Logo, podemos deduzir que a espontaneidade do diretor e dos egos-auxiliares contribui para a espontaneidade do grupo ou cliente. Registra ainda que os estados espontâneos são instantâneos e se liberam através do aquecimento.

A falta de espontaneidade é, segundo Garrido Martín (1996), a causa do adoecimento, e por este motivo a teoria moreniana empenhou-se em estabelecer procedimentos terapêuticos que visam resgatar a espontaneidade, e, portanto, restabelecer a saúde, ou incrementar a espontaneidade existente prevenindo o aparecimento de patologias.

A psicoterapia grupal é vista por Moreno como o espaço apropriado para a pesquisa e transformação das relações interpessoais. Propõe, através da interpretação de papéis, a vivência da intersubjetividade, que permite o desenvolvimento e resgate do potencial espontâneo-criativo. Corrobora o pensamento construtivista de que o conhecimento é co-construído em inter-relação. Ao tempo em que o sujeito se torna mais espontâneo, mais télico e capaz de inverter papéis, seus padrões de relações sócio-afetivas são ressignificados e adquirem novas características (RAMALHO, 2002).

Mariângela Wechsler (1997, apud RAMALHO, 2002) reafirma que a psicoterapia psicodramática de orientação construtivista visa criar um processo que seja liberador de espontaneidade/criatividade; que promova ressiginificações de conhecimentos anteriores sobre o indivíduo e suas relações; que auxilie a tomada de consciência da responsabilidade do sujeito sobre suas ações; e facilite o encontro com o verdadeiro Self.

Ramalho (2002) destaca que as psicoterapias de base construtivista enfatizam o desenvolvimento do indivíduo e não qualquer ação corretiva. Diante deste entendimento, a resistência é encarada como uma busca autêntica de proteção dos processos centrais de organização. O próprio Moreno (1993, p. 37) afirmou que “os processos de cura mental requerem espontaneidade para ser eficazes”.

Moreno (1993) coloca a conserva cultural em contraposição à espontaneidade, e afirma que nenhuma das duas existe em forma pura, uma é função da outra. Conserva deriva do latim, con-servare, que significa guardar. Conserva cultural é a “matriz, tecnológica ou não, em que uma idéia criadora é guardada para sua preservação e repetição” (p. 175). Distingue duas formas de conserva cultural: a tecnológica, representada por livros, filmes, etc.; e a humana, que utiliza o organismo humano como veículo. Moreno (Ibid.) também distingue a espontaneidade da ação impulsiva que gera condutas desordenadas e explosões emocionais.

Embora Moreno usasse, constantemente, a expressão espontaneidade-criatividade, em alguns momentos as distinguiu. Chega a afirmar que as duas não são idênticas e nem sequer semelhantes, representam categorias distintas, vinculadas entre si do ponto de vista estratégico (MORENO, 1972 apud NAFFAH NETO, 1997).

Naffah Neto (1997) enfrenta o desafio de trazer mais clareza, precisão

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