TRABALHO DE INDIVÍDUO E SOCIEDADE
Por: joao telles • 29/11/2018 • Trabalho acadêmico • 1.767 Palavras (8 Páginas) • 166 Visualizações
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
JOÃO ARAGÃO TELLES
Universidade Federal da Bahia - UFBA
TRABALHO DE INDIVÍDUO E SOCIEDADE
Salvador
2018
INTRODUÇÃO
A situação controversa relacionada à Psicologia escolhida foi o movimento da Luta Antimanicomial. Esse movimento é uma tentativa de realizar uma reforma da estrutura psiquiátrica do sistema público, não apenas brasileiro, com ênfase nas unidades de internação de pacientes psiquiátricos graves. Essa luta foi pensada nos anos 60 por um psiquiatra italiano, Franco Besaglia, que ao se deparar com os abusos e negligência no tratamento dos pacientes portadores de enfermidades psiquiátricas decidiu promover mudanças práticas e teóricas na área. Esse movimento ganhou força no Brasil na década seguinte, após uma série de denúncias relacionadas à forma de tratamento de pessoas com doenças mentais.
A relevância de tal tema para a Psicologia é muito grande, visto que esta área trata de objetos de estudo muito próximo à Psiquiatria e, muitas vezes, dos mesmos indivíduos. Além disso, a Luta Antimanicomial mexe com aspectos que influenciam no desenvolvimento psicológico dos pacientes, algo que é de interesse direto para a Psicologia.
A proposta deste trabalho é apresentar uma leitura da situação do tratamento e dos próprios enfermos em si antes da Luta Antimanicomial e depois desse movimento à luz de teóricos da Sociologia, analisando a forma como era dividido o normal do patológico, como fez Durkheim, e como essa noção se modifica com autores mais recentes, como Nobert Elias e Erving Goffman.
2. DESENVOLVIMENTO
Historicamente, as sociedades de modo geral sempre estabeleceram rótulos e classificações aos grupos humanos, seja baseado na cor de pele, no gênero, na idade ou mesmo na condição de saúde. Segundo Émile Durkheim, existe uma ordem imposta pelas estruturas sociais que estabelece os papeis de cada grupo para que tal ordem seja mantida. Caso um determinado indivíduo não cumpra com o seu papel e desvie das normas sociais, este seria considerado pelo autor como seres desviantes, patológicos. Portanto, os rótulos e classificações estabelecidas pela sociedade serviria como uma forma de identificar qual o papel social daquele grupo e como este deveria se comportar, assim como medir os mecanismos para sanar eventuais situações de desvios.
Esta era a situação das pessoas portadoras de doenças psiquiátricas, as quais, sob o olhar da teoria de Durkheim, eram vistas como indivíduos que não se comportavam de acordo com o que seu papel social determinava e deturpavam a ordem social, assim eles deveriam ser separados do resto da sociedade para que pudessem se restabelecer. Entretanto, um dos grandes problemas dessa visão é que o problema dos enfermos era posto nos próprios indivíduos, desconsiderando a influência nas estruturas em que tal pessoa está inserida. Dessa forma, todo o processo de tratamento das doenças psiquiátricas era focado na restruturação do indivíduo em si mesmo, o que muitas vezes convergia em comportamentos de punição e de abuso sobre o paciente.
Nos meados do século XX, as concepções acerca dos indivíduos portadores de enfermidades psiquiátricas, assim como da sociedade em geral, passam a se modificar concomitantemente ao desenvolvimento das teorias de autores como Nobert Elias e Erving Goffman..
Em primeiro lugar, podemos falar das teorias de Elias, que como já dito antes, mudaram a forma de entender a construção da subjetividade e normalidade em sociedade. Segundo este autor, os indivíduos humanos são “seres com”, ou seja, são seres que se constituem nas relações sociais, estabelecendo uma relação dialética entre os indivíduos e as estruturas da sociedade. Além disso, o autor também comenta que os aspectos sociais são dinâmicos, a sociedade para Elias é uma construção que depende da temporalidade e espacialidade em que ela se encontra. Dessa forma, sendo o indivíduo influenciado pela sociedade, a qual é mutável a depender da situação temporal e espacial, Nobert Elias diz que a normalidade social é uma construção e é relativa. Portanto, se aplicarmos essa tese à questão dos enfermos psiquiátricos, aquela velha noção de Durkheim que dizia que os pacientes são seres desviantes em si mesmos e devem se isolar da sociedade, não se sustenta, visto que as pessoas com doenças mentais também são formadas pela sociedade e que não podem ser “anormais” por conta de um determinado aspecto, uma vez que a normalidade, para Elias, é relativa. Nesse sentido, o movimento da Luta Antimanicomial ganha mais força na direção de reestruturar o tratamento dessa população.
Um outro autor importante nesse processo de mudança de concepções foi Erving Goffman. Segundo este autor, as relações humanas são baseadas no uso de estereótipos e estigmas. Os indivíduos possuem esquemas tipificadores (estereótipos) que orientam os comportamentos e ao experimentarem a situação estereotipificada, estes indivíduos julgam e estabelecem estigmas sobre aquele grupo. Dessa forma, o normal na estrutura proposta por Goffman é definido pela convergência daquilo que pré-concebido e daquilo que foi experimentado. O desviante, por sua vez, seria a divergência entre estas partes. Portanto, ao pensarmos na situação dos enfermos psiquiátricos, podemos traçar uma relação com os estigmas de Goffman, na medida em que o desvio da normalidade se dá na divergência entre conceitos formados socialmente e os pacientes estigmatizados são considerados desviantes por fugirem de seus papeis, porém apenas na medida em que estão inseridos em uma determinada sociedade. Ou seja, o desviante para esse autor é definido no contexto em que se encontra, refutando a estrutura clássica de manicômios, os quais tratam todas as pessoas doentes mentais de uma mesma maneira, e apoiando a proposta antimanicomial.
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