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A Mecanização do Corte da Cana em Alagoas

Por:   •  15/10/2018  •  Projeto de pesquisa  •  5.394 Palavras (22 Páginas)  •  125 Visualizações

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Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas

TÍTULO DO PROJETO:

A mecanização do corte da cana em Alagoas: um estudo sobre os impactos dessa tendência sobre os canavieiros do complexo sucroalcooleiro regional.

Candidato (a): João Paulo Santos

Possível (is) Orientador (a)es: Alice Anabuki Plancherel

Maceió, outubro de 2014


  1. Resumo do Projeto (máximo de 1 página).

Este trabalho tem por objetivo analisar as dimensões gerais e particulares que configuram o processo, já em andamento, da mecanização do trabalho manual no corte da cana em Alagoas. Buscaremos neste estudo apreender o movimento pelo qual passa a agroindústria sucroalcooleira alagoana em que recentemente mecaniza a atividade do corte da cana, estabelecendo como problemática as mudanças decorrentes dessa substituição para a reprodução diária da força de trabalho diretamente afetada. Neste sentido, faz-se necessário observar, não apenas a nova morfologia que se desenha nos canaviais a partir da mecanização, mas, principalmente apreender os objetivos do capital agroindustrial sucroalcooleiro em abraçar uma tendência até então conhecida nos canaviais do sudeste do país, que nos faz questionar quais as razões do descompasso de Alagoas se comparado com outros estados produtores; Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Desse modo, vale mensurar qual a dimensão no universo do trabalho canavieiro tomará a consequente atividade em Alagoas; quais rearranjos ela trará à organização e execução do trabalho nos eitos? Para onde será distribuída a força de trabalho eventualmente dispensada pela maquinaria? E quais estratégias de reprodução estão sendo empregadas por aqueles que não encontram mais na cana a sua principal forma de subsistência.

A recente implantação da mecanização do corte da cana em Alagoas se exprime por um processo de rupturas e continuidades; a mecanização “supera”, no sentido dialético (superar conservando) alguns aspectos predominantes do trabalho manual, no entanto, não o suprime totalmente, por quê? De acordo com a literatura especializada e os achados de nossa pesquisa de campo[1], podemos num primeiro momento visualizar os avanços e entraves que permeiam este processo e seus impactos diretos e indiretos para a classe trabalhadora.

Destarte, consideremos neste estudo, o trabalhador canavieiro assalariado, precarizado e flexibilizado pelas atuais relações de trabalho da agroindústria sucroalcooleira. Com contratos de trabalho por tempo determinado, o safrista/temporário, submetidos a uma atividade de caráter sazonal como a do corte da cana e vulneráveis ao crescente desemprego mediante a adoção das colheitadeiras mecânicas nos canaviais.

  1. Justificativa e problematização: apresentação do problema, hipóteses de trabalho e discussão da abordagem teórica. (máximo de 3 páginas).

Adotamos como pano de fundo a discussão sobre o fim das queimadas, que aparece com mais força a partir de 2007, com o protocolo firmado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento e a União da Indústria de Cana-de-açúcar – UNICA, denominado de Protocolo Agroindustrial, que prevê a antecipação do fim das queimadas para 2014 (áreas mecanizáveis) e para 2017 em áreas não mecanizáveis. Entende-se, que após o ano de 2014 as usinas poderão queimar apenas 20% de suas áreas plantadas, já que em 2017 a queima da cana estará proibida. Portanto, temos inicialmente um discurso ecológico que se estrutura, de maneira geral, em um discurso hegemônico de proteção ambiental e de extinção de formas de trabalho análogas as de escravo.

Ainda, de acordo com Menezes et al. (2011, p.08), “a mecanização pode ser entendida a partir da orquestração de uma série de fatores, dentre os quais merece destaque a intensificação da tecnologia, o discurso ambiental e aumento nos custos do trabalho manual” (grifo nosso), que amplia a complexidade de análise desse quadro. Ao avançarmos na leitura desses autores percebemos o imenso leque de mudanças que se faz necessário praticar para uso da colheitadeira, tanto no campo, quanto na indústria. A mecanização exige um processo maior de adaptação do campo para o seu implemento, do mesmo modo que se exige da indústria, e mesmo assim, com todo esse rearranjo por que o trabalho manual no corte da cana não suprime?

Soma-se a esse estudo, a importância histórica que a economia açucareira tem para o estado de Alagoas. Nas safras 2013/2014 foram moídas mais de 21,6 mil toneladas de cana, destacando o estado como o 6º maior produtor no ranking brasileiro e o 1º grande produtor na região do nordeste[2]. Na década de 1990, com a extinção do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), a área com cana plantada era de 561.217 hectares; mais de 20 anos depois (2012), a área plantada reduziu para 433.300 hectares, no entanto, sem interferência no aumento da produtividade, considerando-se um aumento vertical no cultivo da cana.

Além do aspecto econômico temos o aspecto político. Os grupos que concentram grande parte do poder econômico no estado são aqueles que também detêm o poder politico. Em suma, tratam-se de deputados federais, governadores e prefeitos que dispõe como parte de seu patrimônio ações nas principais usinas de Alagoas. Esses grupos demonstram determinada organização e interesses bem estabelecidos, ao contrário da massa de trabalhadores do setor açucareiro e suas entidades sindicais, que nas ocasiões de conflito, demonstram indiferença com a necessidade dos trabalhadores. O que impera é uma fragmentação respaldada pela fragilidade da organização politica, somada à fragilidade da própria organização interna dos trabalhadores, ocasionada principalmente pelos mecanismos de controle utilizados pelas usinas que fazem com que os trabalhadores percam laços importantes de solidariedade, convívio e identidade.

Na região sudeste do Brasil, a colheitadeira deu seus primeiros passos na década de 1990 (SILVA et al. 2014, p.88), quando o empresariado pressionado por uma série de mudanças[3], iniciam o processo de colheita mecanizada da cana-de-açúcar, principalmente no estado de São Paulo. De nosso lado, cabe investigar se o caso paulista tem relações com processo de mecanização do corte em Alagoas, ou se aqui, tivemos especificidades que propiciaram a sua adoção pelos usineiros alagoanos.

Inicialmente, o aparecimento da primeira colheitadeira mecanizada em Alagoas se deu por volta de 1997, na usina Triunfo; cinco anos mais tarde (em 2002), mais cinco usinas, de um total de vinte e cinco, utilizavam o corte mecanizado. Naquele mesmo ano, a estimativa era de, em uma década a maquinaria substituir o trabalho manual em até 80% (MELLO, 2002 apud VERÇOZA; SILVA, 2010). Entretanto, estes números não se materializaram. O que teria dado errado? De acordo com o ex-professor da Universidade Federal de Alagoas/UFAL, Evilásio Soriano mais de 1/3 da nossa área de plantio situa-se em áreas acidentadas, impossibilitando a adoção da colheita mecanizada[4]. Destarte, os espaços físicos em que a máquina não podia operar eram incumbidos da tarefa os trabalhadores manuais. Porém, as limitações físicas para uma mecanização crescentemente desejável torna-se aqui, apenas um dos primeiros pontos a serem levantados.

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