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A Arte Como Profissão E Trabalho: Pierre-Michel Menger E A Sociologia Das Artes

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Por:   •  19/11/2014  •  3.466 Palavras (14 Páginas)  •  963 Visualizações

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O aparecimento do mais recente livro de Pierre-Michel Menger, Portrait de l’artiste en travailleur, constitui uma oportunidade ímpar para reflectirmos sobre os caminhos da sociologia das artes, ancorados nos trabalhos de investigação desse sociólogo.

1 Cf. P.-M. Menger, Le paradoxe du musicien. Le compositeur, le mélomane et l’État dans la société c (...)

2Vinte anos depois da primeira edição de Le paradoxe du musicien, obra que marca o princípio do seu percurso, profundamente ligado à sociologia da criação musical, o autor edifica um importante e incontornável quadro conceptual, no domínio da sociologia das profissões, mercados das artes e trabalho artístico. 1

2 Actualmente, o Centro de Sociologia das Artes designa-se Centro de Sociologia do Trabalho e das Ar (...)

3No princípio dos anos noventa, Pierre-Michel Menger sucedeu a Raymonde Moulin na direcção do Centro de Sociologia das Artes e, desde então, tem vindo a dedicar-se, em particular, ao estudo dos diferentes métiers do espectáculo, modalidades de carreira dos artistas, mercados de trabalho nas artes, impacto das políticas culturais públicas. 2

4Dois dos seus livros mais recentes testemunham, claramente, a organização do seu campo de pesquisas.

5Em primeiro lugar, destaca-se a análise da arte como profissão: o livro La profession de comédien. Formations, activités et carrières dans la démultiplication de soi (Paris, La Documentation Française, 1997, 455 pp.) é disso um exemplo e representa um domínio de aplicação das démarches teóricas que Pierre-Michel Menger preconiza para as artes do espectáculo.

6Em segundo lugar, a análise da arte como trabalho: o livro Portrait de l’artiste en travailleur. Métamorphoses du capitalisme (Paris, Seuil, 2002, 96 pp.) apresenta a arte como um modelo fecundo para o estudo das formas contemporâneas de emprego, recomposição dos mercados de trabalho e gestão das carreiras.

7Em conjunto, estes livros merecem-nos duas breves notas, relevantes para a sua leitura. Por um lado, o autor concebe uma aproximação sociológica das artes atenta à situação do artista, à sua aprendizagem e gestão da incerteza e do risco, às suas condições de profissionalização, produção das obras e acumulação de saberes, no seio das organizações artísticas. Por outro lado, o autor procura nos instrumentos de trabalho de outras disciplinas, como a história da arte e a economia, uma resposta pluridisciplinar para o estudo dos mundos da arte, inovação e originalidade.

1. A arte como profissão: a incerteza e o risco

8Ao longo do seu percurso de investigação, Pierre-Michel Menger tem privilegiado o estudo das profissões e mercados artísticos, organizações e políticas da arte e da cultura.

9O resultado mais recente deste programa de pesquisas foi a publicação de La profession de comédien, um livro de referência pela estratégia metodológica utilizada, categorias de análise escolhidas, alcance dos resultados e inúmeros pontos de interesse para o estudo dos mundos artísticos.

3 No passado, as pesquisas francesas consagradas a esta profissão foram da responsabilidade de Jean (...)

10Este amplo e rigoroso trabalho apoia-se na análise dos dados do primeiro grande inquérito realizado junto de um milhar de actores e tem como objectivo principal estudar a identidade e a actividade deste grupo profissional, em França. 3

11A estrutura do livro assenta na descrição da profissão do actor face às outras profissões artísticas, na análise das trajectórias de formação e aprendizagem profissional dos actores, o seu emprego e trabalho nos diferentes sectores de actividade, o exercício da profissão e o funcionamento das organizações artísticas.

4 Institut National de la Statistique et des Études Économiques, em França.

12De acordo com Pierre-Michel Menger, a forte progressão do número de efectivos e o aumento da sua taxa de desemprego são duas importantes características da evolução demográfica dos actores, visíveis pela análise das diferentes categorias de artistas, consideradas no recenseamento da população, realizado pelo INSEE. 4

5 O autor apresentou e discutiu estes enunciados na conferência intitulada Y a-t-il trop d’artistes? (...)

13O autor descreve assim um métier no qual a incerteza, o risco e a concorrência inter-individual representam constrangimentos fortes, no princípio e no decurso da carreira dos actores, mas geram também um certo encantamento e magia, capazes de seduzir os mais jovens. 5

14Os contornos actuais do mercado de trabalho dos actores confinam, à partida, mais candidatos a uma carreira artística com percursos muito enriquecidos, uma profissionalização crescente (alcançável em vários sectores de actividade) e, ainda, uma capacidade de resposta cada vez mais alargada por parte destes profissionais.

15Sem barreiras fortes de selecção, sem a exigência de uma formação técnica longa, sem disposições estatutárias que regulamentem o exercício da profissão, entrar é fácil, manter-se é o grande desafio para os actores.

16Na primeira fase de selecção, as competências requeridas para o exercício deste métier são a originalidade, a expressividade, a iniciativa e o talento demonstrados. Acima dos pré-requisitos técnicos iniciais, indispensáveis para um músico clássico, encontram-se as disposições que o actor manifesta e que determinam a sua escolha.

17No entanto, a formação dos actores é um passo muito importante para a sua socialização e integração no meio profissional. Estas são, aliás, etapas que Pierre-Michel Menger considera solidárias, no decurso da carreira do actor, pois a aprendizagem no palco coexiste com o próprio exercício da profissão.

18Os actores que resistem no mercado de trabalho durante mais tempo são considerados talentosos e a sua reputação tende a consolidar-se. A combinação do talento com a capacidade de se relacionar com os colegas, com as diferentes equipas de trabalho e com os responsáveis é uma condição de permanência e de reconhecimento profissional no mundo artístico.

19Por essa razão, os actores principiantes e experientes mantêm-se associados a redes de relações com diversos intervenientes nos processos de produção artística. Estas redes profissionais, sempre ligadas ao mercado de trabalho, permitem-lhes ter um acesso rápido e imediato às

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