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Mudando a maneira de pensar

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Por:   •  26/2/2015  •  Tese  •  1.666 Palavras (7 Páginas)  •  231 Visualizações

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No mundo editorial contemporâneo a publicação de livros relacionados com aspectos teóricos/conceituais inovadores, visando estabelecer parâmetros inéditos na formação discursiva da arquitetura e de seus fundamentos, tem se demostrado um acontecimento cada vez mais raro. Paradoxalmente, hoje, como nunca, a publicação de livros e textos sobre arquitetura tem crescido exponencialmente. Evidentemente, a questão não se encontra na proliferação viral de publicações que preenchem as estantes de livrarias e bibliotecas especializadas, mas no uso de novas formas de pensar, no emprego de novas lógicas, de instrumental teórico inovador. Regra geral, a quase totalidade de livros e textos que integram o universo edital contemporâneo relacionados com a arquitetura, constitui um incomensurável catálogo de repetições e reciclagens conceituais herdado da modernidade.

O livro Estética da ginga de Paola Berenstein Jacques constitui um singular acontecimento no âmbito da cultura arquitetônica em nosso país. Filosoficamente, o termo Acontecimento, no sentido empregado por Deleuze/Guattari, ocorre quando surge um problema, um questionamento que favorece uma virtualização. Esse processo imaginativo que constitui o Virtual pressupõe o Atual e visa a sua atualização. Quando o virtual, como entidade, adquire consistência, tal fato constitui um acontecimento, um ato de criação. Propriamente, o acontecimento, como processo, não começa nem acaba, pois tem uma parte sombria e secreta que não para de se subtrair ou de se acrescentar à sua atualização. É um real sem ser atual, ideal sem ser abstrato. O acontecimento, em sua potencialidade, é pura reserva. A “Estética da ginga”, como acontecimento, possui justamente essa potencialidade criatividade. Trata-se de um ensaio teórico/conceitual aberto que procura sua atualização vislumbrando uma nova forma de pensar os fundamentos da arquitetura e, desta forma, tem como alvo contrapor-se às formas convencionais e acadêmicas de entender a arquitetura.

A mudança nas formas de pensar constitui um referencial marcante da cultura contemporânea. Tal fato é bastante evidente quando se tem presente o processo de deconstrução da lógica binária e do modelo arborescente que lhe corresponde, herança essa da condição cultural moderna. Entre as formas de pensar contemporâneas, o surgimento da lógica da multiplicidade e a percepção rizomática que lhe corresponde [Deleuze/Guattari], constitui um marco significativo dessa deconstrução na forma de pensar. Inserindo-se nesse processo deconstrutivista, a autora optou por adotar como ferramenta teórica o repertório conceitual contido na referencial obra “Mil platôs” escrito em parceria por Gilles Deleuze e Felix Guattari. Entretanto, a autora, reconhece que a transposição de noções teóricas e filosóficas à arquitetura, torna-se quase sempre uma questão problemática, particularmente, quando essas transposições se fazem por analogias estritamente formais, como se constata em vertentes da chamada arquitetura pós-moderna.

A obra em pauta constitui um trabalho teórico/conceitual e tem na obra do artista Hélio Oiticica à guisa de um fio condutor, uma ferramenta teórica, e isso, em razão de que o referido artista procurou resgatar a estética próprio do espaço das favelas cariocas e, paralelamente ao seu trabalho de criação artística, não se limitou à dimensão físico-espacial, transbordou a sua criação para a dimensão social. Importante assinalar que trata-se de um artista que concedeu um status estético as favelas. Justamente, com base nessa experiência singular do artista, a autora formula a hipótese principal do seu trabalho: “ as favelas têm uma estética própria”. Para tanto, a autora trabalha em dois níveis de compreensão: em primeiro lugar, o questionamento dos fundamentos da arquitetura e do urbanismo racionalistas que tradicionalmente são transmitidos nas nossas academias, questionamento este que subjaz ao longo de todo o texto. Em segundo lugar, a ”tentativa de decifrar o dispositivo arquitetônico e urbanístico das favelas, espaço desconhecido da maioria dos arquitetos e urbanistas”.

Atendendo à sua principal hipótese, e procurando demonstra-la, a autora usa três figuras conceituais: o Fragmento, o Labirinto e o Rizoma, particularmente as duas primeiras mais explícitas e presentes na obra de Oiticica e em seus relatos e escritos sobre suas vivências no morro da Mangueira. Enquanto que a figura conceitual, Rizoma, traduz a familiaridade que a autora possui com a lógica da multiplicidade. Foi inspirada nessa estética destilada da obra de Hélio Oiticica que a autora denominou o seu trabalho estética da ginga. Contudo, vale observar que a decisão pela abordagem estética é justificada pela autora como alternativa ao racionalismo ainda hegemônico na forma de pensar e criar. Aceitando, portanto, as formulações filosóficas de Deleuze e Guattari que, contrariando as concepções convencionais do positivismo científico, demonstram não existir nenhuma predominância, hegemonia, entre as diferentes formas de pensar e criar, isso é, entre a Ciência, a Arte e a Filosofia. A autora, ciente da heterogênese que essas formas promovem ao relacionar-se entre si, não vacilou, em sua decisão, em optar pela abordagem estética, afastando, assim, de seus propósitos, a tirania da racionalidade científica que tanto caracterizou o pensamento moderno e que todavia ainda perdura.

Em relação as figuras conceituais empregadas, há uma explícita advertência: as mesmas devem ultrapassar a esfera do formal para alcançar o conceitual. Não há preocupação da autora de estudar as formas, mas sim os processos que as [trans]formam. Para ela, essas figuras não são metáforas arquitetônicas, nem simples figuras formais, afirmando, pois, que “só quando se chega ao puramente conceitual, à abstração de uma teoria, é que se pode fazer um retorno ao real; só a partir desse momento será possível avançar algumas idéias ligadas à prática da arquitetura e do urbanismo”. Prefere, portanto ir do real ao abstrato, do formal ao conceitual, partindo sempre de percepções da realidade, e isso, através de mudança de escala. No Fragmento, passa do corpo físico à arquitetura; no Labirinto, da arquitetura ao urbano; no Rizoma, do urbano ao território. São três momentos, estágios de análise: a favela real, a concernente à obra de Oiticica e a puramente conceitual.

Sem dúvida, Rizoma, constitui o capítulo mais inovador do livro, e isso, sem desmerecer as outras duas figuras conceituais abordadas. Associando Rizoma à idéia de crescimento, de ocupação de territórios e formação de territórios urbanos, a autora procura demonstrar o que diferencia o processo de territorialização, de ocupações

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