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Sala de visitas no Popov

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Por:   •  28/10/2014  •  Resenha  •  4.666 Palavras (19 Páginas)  •  339 Visualizações

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Sala de visita na propriedade de Popova.

Popova (de luto fechado, com os olhos fitos numa fotografia) e Luka.

LUKA – Assim não dá minha senhora... Será a sua ruína... A criada e a cozinheira foram catar morangos, qualquer coisa é motivo de alegria para elas, e até mesmo um gato sabe o que lhe dá prazer, passeia pelo quintal, caça passarinhos, mas a senhora... a senhora passa o dia inteiro aqui sentada, sem nenhuma distração, como se vivesse em um convento. É isso mesmo! Faça as contas, já faz um ano que a senhora não sai de casa!...

POPOVA – Nunca mais hei de sair... Sair para quê? Minha vida está acabada. Ele foi parar no cemitério, e eu me enterrei entre quatro paredes... Nós dois morremos.

LUKA – Lá vem de novo a senhora! Eu não quero ouvir mais nada. Foi pela vontade de Deus que Nikolai Mikhailovich morreu, que repouse lá no céu eternamente... Agora chega de tristeza, é hora de acabar com isso! Não vá a senhora passar a vida chorando e usando luto. Minha velha também morreu quando chegou a sua hora... E daí? Fiquei triste, passei um mês inteiro chorando, e pronto; não ia levar a vida toda me queixando, mesmo porque a velha não merecia. (suspira). A senhora se esqueceu de todos os vizinhos... Não freqüenta e não recebe ninguém. Vai me desculpar, mas estamos levando uma vida de aranhas – não vemos nem sombra da sociedade. Os ratos roem minha libré. Como se não houvesse gente de bem no nosso distrito, que é tão cheio de senhores. Em Rybloy, está aquartelado um regimento, e os oficiais então – cada bombocado! – a gente não se cansa de admirá-los! Toda sexta-feira eles fazem um baile no arraial, veja só, a banda militar toca todos os dias. Por Deus, patroa! A senhora é jovem, bonita, está vendendo saúde, deve viver a vida a seu bel-prazer... Olhe que a senhora não dura para sempre. Daqui a uns dez anos, a senhora mesmo há de querer pavonear-se para agradar os oficiais mas então será tarde demais.

POPOVA (imperiosamente) – Peço-lhe que nunca mais toque nesse assunto. Você sabe, desde que Nikolai Mikhailovich morreu, a vida para mim perdeu completamente o sentido. Parece que estou viva, mas é só aparência. Jurei não tirar o luto nem freqüentar a sociedade até o dia do meu próprio enterro. Está ouvindo? É para que o espírito de Nikolai veja como eu o amo. Eu sei, eu sei... isso não era segredo para você, ele era sempre injusto comigo, cruel e... e... até mesmo infiel, mas eu me manterei fiel até morrer e vou provar a ele como sou capaz de amá-lo. Lá, além do túmulo, ele verá exatamente como era antes da sua morte...

LUKA – Em vez de falar assim, seria melhor dar um passeio no jardim, ou então mandar atrelar o Tobi ou o Velikana e sair para visitar os vizinhos.

POPOVA – Ai! (chora).

LUKA – Minha senhora! Patroa! O que está fazendo? Que Deus a ajude!

POPOVA – Ele gostava tanto do Tóbi. Sempre o montava quando ia visitar Kortcháguin e Vlassov. Como ele montava bem. Havia tanta graça em sua figura quando ele puxava as rédeas com toda a força. Lembra-se? Tóbi! Tóbi! Mande dar uma ração extra para o Tóbi.

LUKA – Pois não minha senhora.

(Um toque agudo de campainha).

POPOVA – (extremece) Quem será? Diga que não recebo ninguém.

LUKA – Pois não, minha senhora. (sai).

Popova (sozinha).

II

POPOVA (olhando para a fotografia) – Você vai ver Nicolai, como sou capaz de amá-lo e perdoá-lo. Meu amor só vai se acabar quando meu coração parar de bater. (Sorri, entre lágrimas). E você não sente vergonha? Sou uma mulher boazinha, esposa fiel, tranquei-me a sete chaves e serei fiel a você até a morte, mas você... não se envergonha, meu benzinho? Trocou-me por outra, fez escândalo, deixou-me sozinha semanas inteiras...

III

Popova e Luka.

LUKA (entra agitado) – Patroa, está aí uma pessoa. Quer falar com a senhora...

POPOVA – E você não lhe disse que desde a morte de meu marido não recebo mais visitas?

LUKA – Eu disse, mas ele não deu ouvidos, falou que é um assunto importante.

POPOVA – Não re-ce-bo!

LUKA – Foi o que eu disse, mas... o diabo do homem desatou a praguejar e foi entrando...

POPOVA (irritada) – Pois bem, deixe-o entrar. Que falta de educação!

(Luka sai).

POPOVA – Como essas pessoas me aborrecem! O que querem de mim? Por que vêm me tirar do meu sossego? (Suspira) Não... pelo visto seria melhor ir para um convento... (Põe-se a cismar). Pois é, um convento...

IV

Popova, Luka e Smirnov.

SMIRNOV (entrando, para Luka) – Seu palerma, você fala demais... Asno! (Ao ver Popova, com dignidade.) Senhora, tenho a honra de me apresentar, Grigóri Stepanovitch Smirnov, tenente reformado da artilharia, senhor de terras! Sou forçado a incomodá-la por causa de um assunto extremamente importante.

POPOVA (sem estender a mão) – Queira dizer do que se trata.

SMIRNOV – Seu finado esposo, a quem tive a honra de conhecer, tinha comigo uma dívida de mil e duzentos rubros em duas letras de câmbio. Uma vez que amanhã tenho de pagar os juros no banco agrícola, então pediria à senhora para saldar essa dívida ainda hoje.

POPOVA – Mil e duzentos... E por que meu marido lhe devia essa quantia?

SMIRNOV – Pela aveia que ele comprava de mim.

POPOVA (suspirando, para Luka) – Pois veja bem, Luka, não se esqueça de mandar que dêem ao Tóbi uma ração extra de aveia. (Luka sai, para Smirnov). Se Nikolai Mikháilovitch deixou uma dívida com o senhor, é evidente que vou pagá-la. O senhor me desculpe, mas hoje não disponho desse dinheiro em casa. Depois de amanhã meu administrador voltará da cidade e então mandarei que lhe pague. Mas agora eu não posso atender o seu pedido... Além disso, hoje completam-se exatamente sete meses desde a morte do meu esposo, e meu estado de ânimo é tal que eu realmente não estou disposta a tratar de assuntos de dinheiro.

SMIRNOV – E meu estado de ânimo agora é

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