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Seminário Interdisciplinar: Aspectos Psicológicos e Comportamentais da Alimentação

Por:   •  14/11/2022  •  Trabalho acadêmico  •  2.918 Palavras (12 Páginas)  •  378 Visualizações

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Andréia Putkamer Bardt Borges¹

Gilnéia Lanes Pereira¹
Tiago José Booz¹

Adriana Salum²

RESUMO

Tema e metodologia aplicada: Apresentar a definição das abordagens de mindful eating e comer intuitivo, através de revisão integrativa de literatura científica, onde foram avaliados 8 artigos. Apresentação do conceito e definição das abordagens. Objetivo: relacionar e identificar as particularidades das técnicas intervencionais citadas em abordagens com quadros de sobrepeso, obesidade e transtornos alimentares e de imagem corporal. Conclusão: Mindful Eating e Comer Intuitivo trazem benefícios relacionados a autossatisfação corporal e conscientizam o indivíduo na identificação de suas necessidades físicas e emocionais no que tangem à alimentação. Podem ser práticas complementares junto a medidas que promovem o emagrecimento e a melhora nos índices de aumento da obesidade. Dentre as melhorias na adoção das práticas foi percebido melhora no IMC, melhora na condição da glicemia em jejum e na razão TG/HDL. De toda forma, são necessários mais estudos que possam explorar mais os resultados aplicados em grupos submetidos às práticas.

Palavras-chave

Comer intuitivo; Transtorno Alimentar; Intervenções Baseadas em Mindfulness

  1. INTRODUÇÃO

Em dados apresentados pela Pesquisa Nacional de Saúde 2019 (IBGE, 2022) cerca de 60,3% da população brasileira adulta está enquadrada em sobrepeso, enquanto que 25,9% dos adultos se enquadraram em situação de obesidade no momento da pesquisa. Ou seja, cerca de 96 milhões de pessoas estão acima do peso no país — isto é, o resultado de seu IMC indica que elas estão na faixa de sobrepeso ou de obesidade. Se, há 17 anos — na virada de 2002 para 2003 —, quatro em cada dez brasileiros apresentavam excesso de peso, a última informação é que agora são seis em cada dez brasileiros (ABESO). Em um cenário global, o excesso de peso é uma das principais preocupações em saúde pública nos últimos anos, tendo em vista que a prevalência de obesidade dobrou desde 1980 (WHO, 2020). Estimativas mais recentes (2016) apresentam que há 1,9 bilhões de adultos com excesso de peso, e entre estes, 650 milhões enquadrados em obesidade (WHO, 2020).  

No contexto abordador por Yavorivski (2021), é determinado que mesmo com a intervenção de práticas alimentares e a adoção de atividades físicas, ainda não é possível considerar que a adoção tenha resultado efetivo duradouro, já que metade dos indivíduos que conseguem perder peso voltam ao peso original em até 5 anos. Como causas, podemos citar os mecanismos fisiológicos compensatórios e a pressão exercida pelo ambiente obesogênico.

Em relação a comportamentos alimentares associados a recuperação de peso, um estudo com população norte-americana identificou que 70% dos indivíduos que sofriam de compulsão alimentar também apresentavam quadro de obesidade, e o Transtorno da Compulsão Alimentar (TCA) também é o mais comum entre pessoas com quadro de obesidade (GRUCZA, PRZYBECK, CLONINGER, 2007, DE ZWAAN, 2001).

Outro fator bem importante relacionado a recuperação do peso são os aspectos psicológicos envolvidos no comportamento alimentar, e os aspectos relacionados ao próprio ato de comer, como abordado por Abrasco (2017): “[...] a comida também é fonte de prazer, de socialização e de expressão cultural. A autonomia do indivíduo, por sua vez, é mediada pela oferta de alimentos, tipo de preparação, e, sobretudo, o marketing da indústria de alimentos que influencia, em muito, as escolhas”.

Neste cenário, outras estratégias diferenciadas estão sendo adotadas na abordagem de comportamentos alimentares disfuncionais. Nosso objetivo com o presente estudo é relacionar e identificar as particularidades das técnicas intervencionais de mindful Eating - também conhecida como comer com atenção plena, e a prática de comer intuitivo, em abordagens com quadros de sobrepeso, obesidade e transtornos alimentares e de imagem corporal.

  1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para entendermos sobre mindful Eating, é importante termos o entendimento do que se trata o conceito geral, conhecido como Mindfulness. A técnica com o foco em meditação (Penman, 2015) pode ser compreendida da seguinte forma:

[...] mindfulness significa cultivar a ausência da distração e também reter na mente o que se está fazendo, sem confusão ou sem se perder ou fantasiar, enxergando a natureza verdadeira dos fenômenos exatamente como são, no momento em que eles surgem para o praticante, gerenciando ou vigiando a mente para que se tenha noção dos estados em que ela se encontra, se nocivos, virtuosos ou neutros. (Souza, 2019)

Ao entrar no contexto da alimentação, mindful Eating (em português ‘Comer com atenção plena’) é a atenção sem julgamentos ou crítica as sensações físicas e emocionais manifestadas no ato de comer e em um contexto relacionado à comida. Trata-se de fazer escolhas alimentares de forma consciente, estar conectado com os reais sinais da fome e saciedade, sejam estes físicos e psicológicos, saber se alimentar em resposta a estes sinais, sem reagir a pistas inapropriadas para comer, como estímulos externos como influência de propagandas, tédio e ansiedade (Yavorivski, 2021).

Em relação a prática de Comer intuitivo, ou intuitive eating, é um conceito criado pelas nutricionistas americanas Evelyn Tribole e Elyse Resch. Trata-se de uma abordagem baseada em evidências que ensinam pessoas a terem uma relação saudável com a comida e se tornarem conhecedoras dos seus próprios corpos. A proposta é que as pessoas aprendam a confiar em sua habilidade de reconhecer suas sensações físicas e emocionais e desenvolvam uma “sabedoria corporal” para atender suas várias necessidades (ALVARENGA, 2015.)

O desenvolvimento do hábito de comer em horários regulares, que resulte em prazer, no lugar de medo ou culpa, pode ser obtido de forma efetiva, de acordo com alguns estudos, com a pausa e abandono de dietas restritivas (SARUBBI, 2003). Assim a prática defende que ao tirar a visão regrada e restritiva impostas por dietas, sejam executadas práticas onde a intuição, leva à nutrição do corpo.

De acordo com (MADDEN et al, 2012; TYLKA, 2006) estudos com indivíduos seguindo os princípios do Comer Intuitivo, tiveram um menor IMC e obtiveram maior sensação de bem-estar.  Também conseguiram manter o peso e as mudanças de comportamento alimentar por maior tempo, quando comparados com um grupo que fez dieta restritiva (BACON, 2005).

No geral, as abordagens antidietas proporcionam efeitos positivos, tanto físicos quanto psicológicos, diminuindo quadros de depressão e ansiedade, aumentando a autoestima, melhorando a imagem pessoal e a relação dos indivíduos com a comida (SCHAEFER; MAGNUSON, 2014). Segundo (JULIE, 2013) um dos principais benefícios de uma alimentação intuitiva é a melhora na saúde psicológica. Os participantes dos estudos alimentares intuitivos melhoraram sua autoestima, autoimagem e qualidade devida global, diminuindo a depressão e a ansiedade.

Em contrapartida, é comum encontrarmos indivíduos que estão constantemente seguindo algum tipo de dieta, ocasionalmente seguindo tendências impulsionadas em comercias e redes sociais. Este indivíduo tem o hábito de misturar conceitos relacionados a calorias, porções, misturando características de várias práticas. Quando as práticas atuais não surtirem o efeito esperado (é comum o objetivo ser unicamente perda de peso), o indivíduo parte rapidamente para outra prática (Alvarenga, 2015). Podemos chamar estas pessoas informalmente de “profissional de dieta”.

Outro perfil apresentado por Alvarenga (2015) é do “comedor consciente”. Podemos definir este indivíduo como “[...] aquele que come e faz outras atividades ao mesmo tempo – como ver TV, ler, usar computador, falar ao telefone –, sendo que as outras atividades assumem o papel de maior importância naquele momento.” Nestes casos o indivíduo come mesmo sem fome, ou permanece muitas horas sem comer, por não perceber que estava com fome.

Na adoção das práticas citadas, é mencionado sobre efetuar escolhas alimentares conscientes, como dito anteriormente. Para tanto é preciso fazer boas escolhas alimentares ou escolhas inteligentes. Comer com atenção também requer um bom planejamento de uma dieta, onde consideramos escolher alimentos que sejam saudáveis, evitando o consumo de gorduras e açucares. Sendo assim é preciso esboçar uma dieta separando em três categorias, que ajudam a melhorar as escolhas.

  1. Alimentos com alta densidade de nutrientes (nutriente dense foods) – devem ser priorizados nas dietas saudáveis, a exemplo das frutas, legumes e verduras, além dos grãos integrais;
  2. Alimentos permitidos com prudência (discretionarie calorie allowance) – se a dieta for equilibrada, permite-se o consumo de gordura, açúcar e álcool;
  3. Alimentos com nutrientes em alerta (nutriente of concern) – são alimentos cuja baixa quantidade e ausência em uma dieta podem acarretar graves doenças em diferentes estágios da vida, a exemplo de falta de cálcio, que causa a osteoporose, e da deficiência em ferro, que pode resultar em anemia;

Para ilustrar as principais diferenças entre comer de forma consciente, sendo guiado pela intuição em relação a forma de se alimentar inconsciente, na tabela 1 são apresentadas características entre Comer Intuitivo e Comer Disfuncional.

Tabela 1 - Comer Intuitivo e o Comer Disfuncional.

CARACTERÍSTICA

COMER INTUITVO

COMER DISFUNCIONAL

Padrão alimentar

Intervalos regulares entre as refeições; Refeições principais e lanches; Satisfaz sua fome.

Intervalos irregulares, beliscadas, Restrição (comer menos) ou compulsão (comer mais) do que o corpo quer ou precisa; Comer com pressa.

Como o comer é regulado

Pelos sinais internos de fome, apetite e saciedade; Atende-se a fome, e para-se de comer quando se está satisfeito.

Por controles internos e externos inapropriados: dieta, contar calorias, eventos emocionais, comer somente “com os olhos” ou “nariz”.

Propósito do comer

Para satisfazer a saúde, crescimento e bem-estar (prazer e razões sociais). Sentir-se bem depois de comer.

Comer ou restringir para emagrecer, para aliviar ansiedade ou estresse; Sentir-se muito “cheio” depois de comer, ou sentir remorso, culpa ou vergonha.

Prevalência

Crianças pequenas, pessoas que não interferem em seus mecanismos de regulação natural, mais homens do que mulheres.

Mais frequente em meninas e mulheres, porém vem aumentando em meninos e homens.

Físico

Promove energia, saúde, crescimento e desenvolvimento das crianças. O peso é geralmente normal e estável, e expressa os fatores genéticos e ambientais.

Sensação de cansaço, tontura, frio; puberdade atrasada ou precoce. O peso é instável, com altos e baixos.

Mental

Pensamento claro, habilidade de concentração. Os pensamentos sobre comida não tomam muito tempo do dia e se concentram na hora das refeições.

Diminui alerta mental e concentração.

Preocupação com comida e pensamentos focados no planejamento alimentar e imagem corporal, ocupando muito tempo do dia.

Emocional

Humor estável, não se afeta pela comida.

Grande instabilidade de humor, chateação, irritação, ansiedade, baixa autoestima, preocupações com imagem corporal que são descontados na comida.

Social

Relacionamentos saudáveis com a

família e amigos e com o contexto alimentar (quando, onde, como).

Menor integração social, isolamento, capacidade de afeto e generosidade diminuída; Dificuldade em compartilhar refeições.

Fonte: Alvarenga et al, 2016.

Em um estudo de revisão de literatura científica buscando estratificar o resultado perante as abordagens citadas, Barbosa et al (2020) nos apresentou as constatações a seguir, onde foram avaliados três aspectos: comportamento alimentar, aspectos físicos e aspectos psicoemocionais.

Tabela 2 - Resultados estratificados com as práticas de Mindfulness, mindful Eating e comer intuitivo

CATEGORIA

RESULTADO DESCRITIVO

RESULTADO QUANTITATIVO

Resultados em relação ao comportamento alimentar

- Com as intervenções apoiadas no mindfulness, mindful eating ou comer intuitivo foram observadas reduções nos níveis de food craving, no comer guiado por estímulos externos, no comer emocional, no comer guiado pela recompensa, nos episódios de compulsão alimentar e de binge eating comparados aos grupos controle.

- Os estudos com sujeitos com sobrepeso e obesidade que tiveram entre seus objetivos melhorias no comportamento alimentar (55,3%) trazem resultados promissores.

- Para os estudos feitos com portadores de Transtorno Alimentar (18,4%) observou-se redução nos episódios de binge eating.

- Poucos estudos (7,9%) não observaram diferenças entre os grupos experimental versus grupo controle para os parâmetros do comportamento alimentar avaliados.

Resultados em relação a aspectos físicos

- No que tange os estudos com portadores de Transtorno Alimentar, os resultados apontam redução na preocupação com o peso, forma física após participação nas intervenções baseadas em mindfulness, comparados ao grupo controle.

- Houve aumento na satisfação corporal, evidenciando os benefícios de tais intervenções para os participantes.

- Em estudo comparativo em relação ao antes e depois dos indivíduos, a maioria (66,7%) observou redução significativa no peso e no IMC.

- Na maioria dos estudos avaliados (72,7%), onde os participantes foram divididos em grupo intervenção (mindfulness e mindful eating) e grupo controle ativo (que recebiam algum tipo de intervenção), não encontrou diferenças significativas entre os grupos para a perda de peso. Porém percebeu-se redução na glicemia em jejum e na razão TG/HDL em relação ao grupo controle.

Resultados em relação a aspectos psicoemocionais

- Os estudos indicam que após a intervenção baseada em mindfulness e mindful eating houve redução significativa dos níveis de depressão, ansiedade, estresse percebido e nível de cortisol.

- Outros impactos positivos foram observados que valem ser destacados,

tais como, melhora na capacidade de respostas às sensações corporais, flexibilidade psicológica e aceitação

psicológica.

- 80,0% destes identificaram melhora dos parâmetros relativos ao sofrimento psíquico, depressão ou ansiedade.

Fonte: Elaborada pelos autores com base em Barbosa et al (2020).

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