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A História da Química

Por:   •  14/11/2019  •  Trabalho acadêmico  •  25.763 Palavras (104 Páginas)  •  123 Visualizações

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PREÂMBULO

A História da Química pode ser abordada de várias maneiras, embora a velha forma de a abordar, a "internalista", esteja paulatinamente a ceder terreno a uma outra, "externalista", mais abrangente, que tenta inserir o trabalho científico no todo do contexto histórico.

Uma abordagem internalista da História da Química trata os pormenores científicos, sem ter em conta o contexto histórico e amplo da Ciência.

É obvio que algumas descobertas da Química podem parecer independentes de um determinado contexto social, todavia o número de pessoas que pensam que outras descobertas só podem ser inseridas numa certa atmosfera económica política e social é cada vez maior. Só para exemplificar, a teoria de acidez do oxigênio de Lavoisier, dependeu bastante dos estudos feitos por este cientista sobre o ácido nítrico, estudos esses, que por sua vez, se relacionam com o "salpêtre" ou "nitrato", o principal elemento constituinte da pólvora, que era vital para uma potência mundial como era a França na segunda metade do séc. XVIII.

Enquanto a França não perdeu a India, na Guerra dos sete anos, foi-lhe possivel importar grandes quantidades de salitre deste território. Com a perda da Índia, o estado Francês teve, portanto, de procurar outras formas de obter este produto tão valioso, em França.

Certamente que não terá sido somente o incentivo económico a determinar a forma e o conteúdo da teoria de Lavoisier; ele constituiu apenas uma motivação adicional para que se estudasse o nitrato em vez de outra substância qualquer. Devemos considerar todavia, que o êxito de Lavoisier se deva também a determinados factores adicionais, incluindo a sua excepcional capacidade e o seu engajamento.

Um outro exemplo do avanço da Química que se relaciona intimamente com o desenvolvimento económico, é o estudo dos resíduos de produção do gás da hulha para a iluminação, que veio substituir as lâmpadas de azeite do séc. XIX. O alcatrão inicialmente considerado um transtorno, veio a revelar-se mais tarde, depois de exames cuidadosos do seu resíduo juntamente com a técnica da destilação fraccionada, ser uma fonte de um conjunto de materiais valiosos, incluindo o benzeno, que é a base de uma enorme família de compostos orgânicos incluindo a anilina, a partir da qual se produzem uma série de tintas artificiais.

Este desenvolvimento não teria sido possível sem o progresso, independente mas simultâneo, da Química Orgânica, na 1ª metade do séc. XIX, colocando-se esta à disposição do homem para explorar o progresso industrial decorrente.

Um outro exemplo peculiar e que retrata esta interpenetração já referida, é a experiência não muito afastada da nossa própria realidade, relacionada com a produção do cloreto de sódio, tradicionalmente conhecido por sal de cozinha.

Este sal que em Moçambique é produzido de um modo semi-industrial, conheceu num período comum, consoante a região, modos de produção diferentes.

Apesar de não se saber ao certo quando é que s populações que habitam Moçambique aprenderam a produzir o sal, sabe-se, no entanto, que as populações do litoral já extraiam o sal da água do mar, utilizando métodos simples, antes da chegada dos colonizadores europeus, e até mesmo, antes da chegada dos cormerciantes asiáticos. O sal produzido nessa altura deveria ser utilizado para o conssumo caseiro e para operações de troca com outros produtos. A chegada dos colonizadores e a institucionalização da lei colonial terá provavélmente facilitado o controle desta indústria pelos colonos.

Porém, consta que entre os anos 1964-1975, populações habitantes das margens do rio Messalo na Província de Cabo Delgado, teriam extraido o sal de cozinha a partir da areias salgadas existentes ao longo daquele rio, usando métodos de separação simples.

Na origem desta produção artesanal estava a escassez do produto causada pela iprovável paralisação da comercialisação deste produto nos locais habituais de venda, devido a Guerra de Libertação. Hoje, dentro de um novo contexto histórico esta produção artesanal desapareceu naquela região, obviamente por se dar preferencia ao sal comercial, sempre conssumido nas zonas urbanas, que poupa tempo e esforços.

Há, porém, outras dimensões e outras abordagens possíveis da História da Química.

Em certa medida, tudo depende também da história das ideias.

Se recuarmos até a Grécia antiga, Aristoteles argumentava que toda a matéria podia ser considerada constituida por 4 dos chamados (elementos de Empedokles), ou princípios universais: Agua, Terra, Fogo e Ar. Estes elementos foram posteriormente incorporados na cosmologia da Europa Ocidental durante a Idade Média e não foram seriamente postos em causa até ao séc.XVIII.

Nessa altura, Robert Boyle (1627-91) atacou a Química Aristoteliana, postulando que a matéria era composta de partículas. Estas ideias sobre o átomo podem levar-nos a recuarmos à filosofia da Grécia antiga, aos tempos de Demókrito e Leukipo.

No séc. XIX o conceito (peso atómico) retoma ideias antigas acerca dos componentes da matéria. Também no séc.XIX se debateu a identidade das substâncias orgânicas, e diz-se que Whöler, com a sua experiência de 1828, destruiu a noção de força vital. Há, portanto, uma certa interpenetração entre as histórias da Química e da Filosofia.

Há por outro lado historiadores de Química que se preocupam mais com as aparelhagens do que com as ideias. Assim ao estudarem os gases no séc.XVIII, podem interessar-se menos com o conceito estado gasoso do que com os aparelhos usados na preparação e armazenagem dos gases. Conhecer o aparelho usado por Lavoisier pode não ser menos importante do que conhecer as ideias do cientista. No século XIX, a preparação e decomposição de compostos orgânicos dependiam por vezes da melhoria das técnicas de destilação.

Muitas vezes, são os conservadores de Museus as pessoas mais adequadas a dar informações sobre certos aspectos práticos da história da Química. Portanto, uma combinação entre os vários modos de ver e estudar a Química parece ser mais adequada do que a opção de uma só vertente, pois só assim podemos vê-la num contexto muito mais alargado.

I.        INTRODUÇÃO

Como deve ser do domínio dos interessados pelas Ciências e sua história, uma particular atenção (a quê) despontou e começou a desenvolver-se nos meados do século XVIII, tendo sido nessa altura que também apareceram as primeiras obras sobre a História da Química.

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