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A Língua Portuguesa e Comunicação Oficial

Por:   •  30/3/2017  •  Seminário  •  5.511 Palavras (23 Páginas)  •  352 Visualizações

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Língua Portuguesa e comunicação oficial

1 Língua e linguagem

Conforme Luiz Carlos Travaglia (1996, p. 23), “A linguagem é, pois, um lugar de interação humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentidos entre interlocutores, em uma dada situação de comunicação e em um contexto sócio-histórico e ideológico”. A linguagem é, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias adotado pelo corpo social para permitir seu exercício nos indivíduos. É física, fisiológica e psíquica, pois se vincula aos domínios social e individual; trata-se, portanto, de toda manifestação comunicativa que pode ser verbal – a fala e a escrita – ou não verbal – as artes plásticas, a dança, sistemas visuais, como as placas de trânsito e os semáforos.

Desse universo da linguagem, a língua se caracteriza por ser um sistema complexo, múltiplo, variável e infinito em possibilidades de produção de sentenças. Na definição de Travaglia (1996, p. 23), língua é “um código, ou seja, como um conjunto de signos que se combinam segundo regras, e que é capaz de transmitir uma mensagem, informações de um emissor a um receptor”. Trata-se de um sistema adaptativo complexo, pois, apesar de ser regida por padrões mais ou menos regulares, molda-se em função das necessidades cognitivas e sociocomunicativas. Uma língua se constitui a partir de aspectos social, cognitivo, biológico, histórico e sistemático. Aqui, enfatizaremos este último, sobretudo os elementos que regem a modalidade escrita.

Precisamos ressaltar, em relação à língua, que ela não se caracteriza por ser falada, isto é, por usarmos um aparelho fonador. Conforme Whitney (apud SAUSSURE, 2012, p. 41), “é por acaso e por simples razões de comodidade que nos servimos do aparelho vocal como instrumento da língua; os homens também poderiam ter escolhido o gesto e usar imagens visuais em lugar de imagens acústicas”. Nesse sentido, advirtamos a existência e o reconhecimento de línguas que não produzem sons e são gesto-visuais, como a língua brasileira de sinais (Libras).

2 Leitura

Segundo Eni Orlandi (2008, p. 7), a noção de leitura abrange múltiplos significados, dispostos pela autora desde o mais amplo ao mais restrito: i) “atribuição de sentidos”, sendo utilizada tanto para a escrita quanto para a oralidade; ii) “concepção” ou “leitura de mundo”, refletindo a relação entre leitura e a noção de ideologia; iii) a construção de um aparato teórico-metodológico de aproximação de um texto, noção bastante utilizada no domínio acadêmico; e iv) a capacidade de ler e escrever, relação estrita com a aprendizagem formal.

A pesquisadora expõe que a leitura tem função no trabalho intelectual geral quando vinculamos o texto ao seu caráter sócio-histórico mais amplo; e finaliza afirmando que leitura é “o momento crítico da constituição do texto, o momento privilegiado do processo de interação verbal, uma vez que é nele que se desencadeia o processo de significação” (ORLANDI, 2008, p. 38).

Em direção similar à de Orlandi, Irandé Antunes (2009, p. 193) supera o entendimento de que ler é reconhecer palavras ou compreender estruturalmente frases; trata-se, para ela, do mecanismo de acesso do homem “ao imenso acervo cultural constituído ao longo da história dos povos e possibilita, assim, a ampliação de nossos repertórios de informação.” Para corroborar sua visão, a autora destaca os diferentes tipos de conhecimento que a leitura mobiliza:

  • conhecimento linguístico (conhecimento da gramática, do léxico e da forma como se faz o agrupamento e a segmentação das unidades menores);
  • conhecimento textual (tipos e gêneros; estratégias e recursos de sequencialização dos diferentes blocos do texto; recursos da coesão, da coerência e de outras propriedades da textualidade, padrões de referenciação etc.);
  • conhecimento de mundo [conhecimento que decorre de nossa familiaridade com os esquemas de organização da experiência, a partir dos quais podemos prever a coexistência (ordenada ou não) de elementos, e, assim, apreender os sentidos do texto, sobretudo aqueles não explicitados]. Em geral, deixamos implícito no texto aquilo que é típico de uma situação, que é previsível a ela, pois esperamos que nosso interlocutor faça os cálculos necessários para encontrar coerência no que está sendo dito. (ANTUNES, 2009, p. 203)

Orlandi (2008, p. 8) ainda destaca alguns fatos que se impõem à leitura e que merecem destaque: é preciso que pensemos na produção da leitura; a leitura tanto quanto a escrita são processos de instauração dos sentidos; o sujeito-leitor tem suas especificidades e história; o sujeito-leitor e os sentidos são determinados histórica e ideologicamente; e, há múltiplos e variados modos de leitura.

Observemos o mapa abaixo. Somos capazes de identificar elementos que caracterizam um mapa: um território, seus limites geográficos, uma escala, um cabeçalho, uma legenda. Podemos dizer que se trata de um mapa do Amazonas, apresentando-o juntamente com suas fronteiras e o seu posicionamento no território brasileiro. Mas como podemos dizer tanta coisa apenas olhando para o mapa? É que não estamos apenas olhando, mas lendo o mapa.

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3 Texto e discurso

Para Ingedore Koch (1997, p. 22), texto se constitui em torno de três aspectos, a saber, o estrutural, o cognitivo e o sociocultural, pois o define como “uma manifestação verbal constituída de elementos lingüísticos selecionados e ordenados pelos falantes durante a atividade verbal, de modo a permitir aos parceiros, na interação, não apenas a depreensão de conteúdos semânticos, em decorrência da ativação de processos e estratégias de ordem cognitiva, como também a interação (ou atuação) de acordo com práticas socioculturais.” Em outra definição, Koch e Travaglia (1997, p. 09) acrescentam que, enquanto unidade de sentido, ela deve preencher “uma função comunicativa reconhecível e reconhecida” e que a extensão do texto é irrelevante.

Texto é o lugar da organização e manifestação do discurso, constituindo-se um todo significativo. Discurso, por sua vez, são os efeitos de sentido provocados entre os interlocutores durante uma interação (cf. ORLANDI, 2001) ou o espaço em que emergem as significações (cf. BRANDÃO, 1998). Segundo Possenti (2011), um texto só adquire sentido porque seus interlocutores estão inseridos em formações discursivas, que podem ser semelhantes ou diversas, em função da memória discursiva, do interdiscurso, que o texto retoma e do qual é parte.

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