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ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA: COMO LIDAR COM ISSO?

Por:   •  4/6/2018  •  Abstract  •  13.526 Palavras (55 Páginas)  •  190 Visualizações

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ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA: COMO LIDAR COM ISSO?

CARTILHA PARA CAPACITAÇÃO DE PROFESSORES E PAIS

PARA ATUAREM EM CASOS DE ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Márcia Longo

Nada, além de mim...

Quando comecei era apenas a criança, sem medos, sem traumas, sem dores...

O medo era de ver o Papai Noel...

O trauma era não poder brincar com a amiguinha...

A dor era a do joelho ralado no quintal...

Mas depois era apenas a menina, com medos, com traumas, com dores...

Medo de ser tão má a ponto de tomar o lugar da mamãe...

Trauma de ser tão suja porque sentia o proibido...

Dor de ser tão menina e já ser mulher...

E então era apenas a moça.

E o medo escondeu o trauma, pra ninguém ver a dor.

Finalmente me tornei mulher.

Ironia...

A menina já era a mulher, e a mulher nunca deixou de ser a menina.

O medo e a dor não se escondem mais, perderam a vergonha do trauma.

Estão escancarados, e não são nada além de mim...

Silvia Nunes – 29/11/05

Dados da autora

Márcia Longo é formada em Pedagogia e atua há quatorze anos em grupos de auto-ajuda para pessoas que sofreram abuso sexual na infância. Ela própria sofreu abuso sexual por seu pai dos três aos onze anos e do irmão mais velho entre os dez e onze anos.

Nestes quatorze anos de atuação já fez vários trabalhos como voluntária, palestras em escolas, pesquisa relacionadas ao tema e na sua formação docente apresentou uma pesquisa entre os professores que faz parte deste livro.

Organizou um site – www.eumelembro2003.hpgvip.com.br - onde coloca o livro que escreveu contanto sua experiência e também alguns textos que foram usados nas reuniões do grupo de auto-ajuda. Este site continua ajudando muitas pessoas que ali encontram respostas para suas dúvidas em relação as suas histórias de abuso sexual.

Tem se dedicado a debater a questão do abuso sexual e suas conseqüências para que a sociedade possa rever seus conceitos e mudar sua postura frente a esta violência tão grande contra a criança e ao adolescente.

Apresentação

Quando falamos em maus tratos ou abusos sexuais contra crianças e adolescentes, a primeira imagem que nos vem à cabeça é a daquela família pobre, desestruturada, cheia de filhos, que vive à margem da sociedade. Se quisermos resolver o problema dos maus tratos e dos abusos sexuais, devemos em primeiro lugar rever nossos conceitos sobre infância, sobre o desenvolvimento infantil, sobre nossos papéis como adultos nesta relação e sobre o quanto nós educamos nossos filhos para serem “abusados” pela sociedade.

Aquela imagem do poder do adulto que sempre está certo, que tem razão, não importando o que faça, deve cair por terra. Como ensinar uma criança a se respeitar, se o adulto não a respeita? Como lhe ensinar que ela tem o direito de se defender, se, quando ela o faz, nós a chamamos de mal educada?

Tais questões são abordadas neste trabalho que pretende informar e formar pessoas para que possam atuar no sentido de trabalhar com a prevenção e, ao mesmo tempo, com a compreensão adequada, em termos legais do desenvolvimento psíquico e físico de crianças e adolescentes.

Nossa visão de mundo sexista (machista), adultocêntrica e preconceituosa só contribui para criar pessoas frágeis, indefesas, alvos fáceis de adultos abusivos e violentos.

Quem quiser se aprofundar numa política de Educação Sexual, inevitavelmente, vai ter que lidar com a formação de cidadãos, vai educar seus filhos e alunos para este exercício, vai exigir políticas mais adequadas, vai exigir que se tenha incentivo governamental para desenvolver projetos.

O futuro do país está nas mãos das crianças de hoje. Como será esse futuro, levando-se em consideração os cidadãos que estamos (de)formando?

Marcia Longo

Agosto de 2006.

Capítulo 1 – Desmitificando conceitos

Esta cartilha foi pensada e escrita para ajudar pais e professores a entenderem o Abuso Sexual na Infância e Adolescência (ASIA), suas conseqüências, como preveni-lo e, principalmente, como ajudar alguém que esteja vivenciando uma experiência de abuso.

Segundo vários autores que pesquisam o assunto, a grande maioria das pessoas ainda tem muitas dificuldades em abordar o tema e suas implicações na vida cotidiana e tem uma visão distorcida a respeito do abuso, dos abusadores, da família onde ocorre o abuso, da própria criança ou adolescente, da veracidade dos fatos, entre outras coisas.

Existem alguns mitos relacionados ao abuso, SANDERSON (2005) e FORWARD (1986) apontam os principais que resumidamente apresentamos e que precisamos entender antes de aprofundar nosso estudo sobre a questão.

Mito: O abuso sexual de crianças é uma coisa rara.

Verdade: O ASIA é muito mais comum do que as pessoas gostariam. Ainda que as pesquisas na área não sejam suficientes, estima-se que uma entre cada quatro mulheres e um em cada seis homens sofreram algum tipo de abuso sexual na infância ou adolescência. Alguns pesquisadores acreditam que esse número possa ser maior, visto que a grande maioria das pessoas não denuncia suas experiências de abusos sexuais.

A conseqüência desse mito é que a grande maioria dos casos de abuso acaba sendo ignorado por pais e professores.

Mito: As meninas correm mais riscos de serem abusadas sexualmente do que os meninos.

Verdade: Apesar de as pesquisas apontarem um grande número de mulheres que sofreram abusos, os homens correm os mesmo riscos. Pode ser mais difícil para um menino revelar suas experiências de abuso sexual, visto que o preconceito e os valores machistas de nossa sociedade, encarem como fraqueza, homossexualismo  ou como uma “simples” iniciação sexual. Acredita-se, segundo as pesquisas, que meninas são mais vitimizadas em casa e os meninos na comunidade.

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