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Economia de empresas

Por:   •  20/3/2017  •  Trabalho acadêmico  •  2.732 Palavras (11 Páginas)  •  176 Visualizações

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XIV. As Negociações de Campo David

As históricas negociações de Campo David serão aqui utilizadas para ilustrar o papel desempenhado por uma terceira parte em uma negociação: um interventor com poder de mediador e que utilizará uma técnica para estruturar a negociação chamada de “Texto de Negociação Único”.

Estas negociações ocorreram em 1977, quando o presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, e o secretário de Estado Cyrus Vance convocaram uma Conferência de Genebra presidida por Estados Unidos e União Soviética para solucionar o conflito existente entre Egito e Israel. Nesta Conferência, entretanto, as partes se mostraram relutantes em participar.

Se esforçando para alcançar a paz, neste mesmo ano, o então presidente do Egito, Anuar-el Sadat, viajou para se reunir com o primeiro ministro de Israel, Menahem Begin. Sadat disse que atuava como porta-voz de todos os interesses árabes e pedia a devolução de todos os territórios ocupados em troca da paz e da retomada das relações com Israel. Porém, sua incapacidade de fazer com que Begin tomasse uma atitude como a sua causou uma oposição cada vez maior dos árabes. Sadat primeiramente ele não se incomodou com a oposição que se formava, até que a OLP (Organização para a Libertação Palestina) passarou a praticar atos terroristas contra ele.

Esta viagem de Salad à Israel surpreendeu os Estados Unidos, que logo ofereceram-se como mediadores. Neste papel, os EUA precisariam ser extremamente sensíveis aos problemas de Salad, já que o sucesso da negociação dependia da capacidade dele leva-la a diante. Havia o risco, porém, de que esta postural bilateral adotada pelos Estados Unidos fizesse com que ele se desviasse do compromisso de enfoque árabe global, fazendo com que os demais estados árabes se tornassem seus antagonistas (inclusive a Arábia Saudita, país importante para os EUA tanto pelo respaldo político quanto pela necessidade de geração de energia).

Além disso, os Estados Unidos corriam também outro risco calculado, que era o de excluir a União Soviética da negociação, já que estava se tornando cada vez mais evidente que os soviéticos estavam trabalhando com os estados árabes excluídos da negociação para sabotar as iniciativas norte-americanas. Os Estados Unidos acreditavam, entretanto, que os resultados da negociação que ele estava mediando com o tempo atrairiam estes estados que no momento boicotavam as negociações.

Para simplificar o processo de negociação, Sadat e Begin convocaram dois comitês de nível ministerial: um comitê militar e outro político, que dividiriam as questões a serem resolvidas a fim de se chegar a um tratado de paz. Quando estes comitês começaram a se reunir, porém, Sadat retirou sua delegação após apenas dois dias devido à linha dura de Israel. Isto gerou o começo de uma amargura entre Sadat e Begin.

Em certo momento, Begin foi até Washington, onde diferiu estrondosamente com Carter (presidente dos EUA) sobre as questões territoriais pois acreditava que os Estados Unidos deveriam atuar apenas como mediador, se opondo aos planos de paz norte-americanos.

Em 1978 Cyrus Vance se reuniu com o ministro de relações exteriores de Israel (Moshe Dayan) e o ministro de relações exteriores do Egito (Mohammed Ibrahim Kamel) e ficou estimulado com a flexibilidade de ambos. Quando Carter foi informado sobre isso, resolveu realizar uma reunião de cúpula entre os três países, pois sabia que  sem a intervenção presidencial o processo de paz entre Egito e Israel entraria em colapso.

Vance, então, voou até o Oriente Médio em busca de solucionar a desavença que havia acontecido nas tentativas de negociação anteriores e para isso levou consigo um convite pessoal do presidente Carter para que Begin e Sadat se reunissem com ele em Campo David (uma base militar e casa de campo localizada no Condado de Frederick - Maryland).

Para se preparar para a mediação do conflito Carter criou um grupo de trabalho que incluía pessoas do Conselho Nacional de Segurança, do Departamento de Estado e até mesmo o próprio Vance, seu Secretário de Estado. Este grupo deveria idealizar métodos ou instrumentos de mediação que o presidente usaria para inventar soluções, além de identificar qual linguagem seria aceitável tanto para o Egito quanto para Israel.

Os interesses americanos nesta cúpula foram listados em 1975 por um informe que chegou a cinco razões principais:

  1. Os EUA tinham forte interesse moral, político e econômico na resolução do conflito;
  2. O risco de guerra cresceria até que se resolvesse a disputa árabe,
  3. As negociações futuras deveriam utilizar de reuniões multilaterais ou de uma nova Conferência de Genebra;
  4. Os EUA, por ter certa confiança das partes e meios para apoiá-los econômica e militarmente, deveriam permanecer envolvidos na resolução; e
  5. Os EUA deveriam trabalhar com a URSS até o limite da boa vontade para desempenhar um papel construtivo.

Para os membros do grupo assessor do presidente Carter este conflito não era novo: eles já haviam pensado profundamente sobre as soluções que preferiam, sabiam quais temas deveriam debater em Campo David e conheciam a forma como o comitê militar e político haviam estruturado as questões.

Além disso, eles conheciam a proposta israelita de 1977 e também a proposta egípcia de 1978 e puderam fazer uma extensa avaliação sobre o valor dos múltiplos atributos para cada uma das partes e também para os Estados Unidos, descobrindo os valores reservados.

Não poderia haver uma formalização frágil pois os resultados desta negociação envolvia muito mais que apenas os dois países: os outros Estados árabes, a OLP, a União Soviética e uma série de países desenvolvidos e subdesenvolvidos que precisavam do petróleo da região.

Era muito importante para o mundo todo saber que três figuras tão importantes estavam se isolando de todos seus demais deveres em busca de chegar a um acordo negociado para questão, que não deveria ser encontrado com facilidade.

Os mediadores não queriam que as partes chegassem com um pacote fixo já desenhado, e por esta razão propuseram que Israel e Egito construíssem um pacote sobre uma base de tema por tema, mas esta estratégia não funcionou e já no segundo dia Sadat e Begin não se falavam mais.

O conflito passou a ser mediado então com um texto de negociação único (TNU), um artifício por Roger Fisher, da Escola de Direito de Harvard. O uso do TNU é comum em negociações internacionais, especialmente as que possuem muitos lados.

Para tal, a equipe norte-americana criou e propôs um pacote para os protagonistas do conflito. Esta primeira proposta não tinha a pretensão de ser acatada, mas sim de servir como um texto único de negociação inicial: as partes deveriam criticá-lo e o texto seria modificado repetidamente com base nestas críticas. Seria um meio de concentrar a atenção das partes em um mesmo composto.

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