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O Poder nas Organizações

Por:   •  9/8/2016  •  Dissertação  •  1.006 Palavras (5 Páginas)  •  218 Visualizações

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O PODER NAS ORGANIZAÇÕES

Por Ezequiel Ferreira

Seria mais um dia pacato para o jovem de 17 anos, meu amigo, recém-promovido para o setor de faturamento da empresa, não fosse pelo que estava por acontecer naquela tarde chuvosa de outono.

Garoto entusiasta do crescimento profissional, baseado na competência, tinha os objetivos da empresa inconscientemente fundidos com os seus próprios. Trabalhava para a organização como para si mesmo e experimentava o sentimento de que a organização fazia parte dele, da mesma forma que ele fazia parte da organização. Amava aquele que era seu primeiro emprego.

Nada mal para quem havia iniciado como oficce-boy, promovido para auxiliar de caixa, auxiliar de vendas, cobrança e agora responsável pela emissão das notas fiscais de faturamento.

Dois anos haviam se passado desde que iniciara na empresa e ele já era tido pelo gerente do escritório como exemplo de dedicação e entrega profissional.

Naquela tarde, a vida parecia querer testar sua personalidade como quem pretende ensinar algo perene. Já sob o comando de um novo gerente -- sobrinho do chefe anterior -- o ávido e aplicado faturista trabalhava de forma concentrada, quando então o jovem gerente, promovido recentemente do setor de cobrança para o comando do escritório, chamou-lhe a atenção pela falta de uma nota fiscal reclamada por um dos vendedores da empresa. O rapaz tentou explicar a seu gerente que o pedido não havia chegado ao setor, razão pela qual não emitira a nota fiscal. O chefe não aceitou a explicação, o moço argumentou de maneira diferente, ainda assim o gerente continuava a chamar-lhe a atenção na frente de todos. Em sua defesa, o jovem tentava esclarecer a falta da nota fiscal quando então, seu chefe acometido de uma prepotência indizível, em pé, esbravejou:

__ Cale a boca!

Por segundos, houve no escritório um eterno silêncio ensurdecedor. Mergulhado naquele momento em que as emoções superam a razão, em que os sentimentos brotam como suor que sai da pele, o até então diligente e esforçado rapaz de 17 anos, deu lugar a um colérico, tempestuoso e destemido homem. Jogou a cadeira para trás, pôs se em pé, e de dedo em riste, gritou:

__ Ouça bem Marcelo: aqui tu és meu chefe e eu teu empregado, mas lá fora somos dois homens, e eu te convido a repetir o que tu acabaste de dizer.

João Pedro era o nome do gerente de RH. Naquela tarde, meu amigo foi intimado a visitar João Pedro, munido de sua carteira de trabalho.

Trinta anos se passaram desde então e eu aqui me encontro a refletir sobre o poder que impera nas organizações. Quantas vezes, ainda que um funcionário esteja cercado de razão, o empoderamento organizacional se sobrepõe a razão, ao bom senso, ao equilíbrio emocional, reproduzindo, ainda que inconscientemente, uma sociedade estamental, uma luta de classes.

A luta econômica, política, ideológica traduz muito bem essa luta de classes sociais, definida como “conjuntos de agentes sociais determinados principalmente, mas não exclusivamente, por seu lugar no processo de produção” (O poder disciplinar, Motta, 1981).

Essa divisão da sociedade em classes não é criada pelas organizações, mas elas a reproduzem de tal forma que deixam claro o poder que emana do topo da pirâmide organizacional.

Lembro-me de outro caso, em que um dedicado fiel de uma organização religiosa, aceitando o convite dos colegas de trabalho, foi jogar um despretensioso futebol no final do expediente. Não bebeu, não fumou, não “ficou”, não dançou, não se prostituiu, (sabia que tudo isso era terminantemente proibido em sua organização), apenas correu atrás de uma bola durante uns quarenta minutos. Longe de sua melhor forma física, pediu pra sair, ficou de fora assistindo do banco enquanto tomava um refrigerante. Não esperava que por ali passasse um membro de sua organização, o qual vendo a cena relatou com minúcias de detalhes ao seu superior religioso. Não é difícil de imaginar! O pobre amador, jogador de pelada ao final de uma estressante jornada de trabalho, foi expulso de sua sociedade eclesiástica.

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