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O mito das pequenas empresas

Por:   •  2/11/2015  •  Artigo  •  2.001 Palavras (9 Páginas)  •  174 Visualizações

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O MITO DAS PEQUENAS EMPRESAS1

Bennett Harrison

POR QUE AS EMPRESAS PEQUENAS NÃO IMPELEM O CRESCIMENTO ECONÔMICO NEM CRIAM A MAIORIA DOS EMPREGOS?

Meu argumento sobre a revitalização e a transformação das grandes empresas e das suas redes de produção deve parecer surpreendente a um público que vem ouvindo repetidamente que as pequenas empresas são agora os motores do crescimento e desenvolvimento econômicos. De acordo com essa visão, as grandes empresas estavam-se tornando, em muitos aspectos, como dinossauros, cada vez mais incapazes de concorrer em um mundo “pós-industrial” caracterizado por demandas dos clientes constantemente flutuantes, maior concorrência internacional e a necessidade de formas mais flexíveis de trabalho e de interação entre empresas.

À medida que as grandes empresas desmoronavam sob o próprio peso, dizia esta visão convencional, um arsenal de empresas pequenas e flexíveis estariam acorrendo a fim de preencher o vazio ecológico. As pequenas empresas estariam criando a maioria dos novos empregos em todos os países altamente industrializados. O mundo descrito por uma geração anterior de estudiosos  Joseph Schumpeter, Raymond Vernon, John Kenneth Galbraith e Alfred Chandler  estaria desmoronando diante de nossos próprios olhos. Agora chegara a vez de empresas pequenas e ágeis impelirem o progresso tecnológico.

Os economistas usam o conceito de economia de escala para descrever a economia potencial nos custos de produção unitários, à medida que as instalações funcionam com maiores volumes. Economias de escopo existem quando o custo conjunto de produzir mais de um produto no mesmo equipamento básico, ou “plataforma”, na mesma instalação é inferior ao custo de produzir o mesmo conjunto de produtos em instalações diferentes. Historicamente, essas economias de escala e escopo juntavam-se às economias financeira e de supervisão para reforçar a tendência a unidades de produção e distribuição maiores.

Agora, graças ao advento de novas tecnologias computadorizadas mais flexíveis, de leitoras eletrônicas de códigos de barras na caixa do supermercado, a máquinas-ferramenta numericamente controladas e a sistemas de fabricação flexíveis para o chão-de-fábrica ou a bancada de trabalho do laboratório, essas economias de escala e escopo internas estariam supostamente desaparecendo. Nas palavras do consultor de administração Tom Peters (famoso por In search of excellence, que, no Brasil, chamou-se Vencendo a crise), “velhas idéias sobre economias de escala estão sendo desafiadas... A própria escala vem sendo redefinida. As empresas menores estão ganhando em quase todos os mercados.”

1 Tradução e adaptação do texto publicado em California Management Review, primavera de 1994.

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O comentarista George Gilder é o mais conhecido popularizador da afirmação ainda mais extravagante de que “as menores empresas estão agora ainda mais sofisticadas tecnologicamente do que os velhos gigantes”

O que há de errado no mito das pequenas empresas?

Apesar da óbvia popularidade, a nova crença em pequenos empresários vigorosos e redes de pequenas empresas, fracamente associadas e flexivelmente especializadas, oferece, na melhor hipótese, um quadro parcial dos acontecimentos realmente fundamentais na reestruturação das empresas através do mundo industrializado. Em outros aspectos, essas descrições de quem está impelindo o desenvolvimento econômico no capitalismo global, pós-década de 70, estão totalmente equivocadas.

Vejamos a questão da geração de empregos. Em termos gerais, através do mundo industrial, as empresas e fábricas maiores estão, sem dúvida, praticando o “enxugamento” (downsizing), em especial na indústria (por outro lado, pelo menos nos Estados Unidos, o estabelecimento individual médio no setor de serviços tem realmente aumentado de tamanho). Por que os fabricantes estão ficando menores? Sabemos que os gerentes estão terceirizando trabalhos que costumavam realizar na empresa. Eles também estão fazendo parcerias com outras empresas existentes, como um meio de acessar novo know-how técnico, mercados, territórios e capital sem precisar fazer novos investimentos na expansão da capacidade.

Entretanto, o número crescente de pequenas empresas revela-se, em parte, uma função das estratégias de círculo básico e produção enxuta das grandes empresas. É o enxugamento estratégico das grandes empresas o responsável pela diminuição do tamanho médio das organizações empresariais na época atual, e não algum crescimento espetacular do setor de pequenas empresas. O que temos testemunhado na última década constitui mais a remoção da ponta de um iceberg do que o derretimento da antiga estrutura predominante.

Apesar do interesse generalizado nas pequenas empresas como geradoras de empregos, Birch e Gilder não abordaram uma questão associada um tanto óbvia: qual o grau de sucesso das pequenas empresas, em comparação às empresas maiores, em fornecer aos seus trabalhadores um padrão de vida respeitável?

Ou seja, como diferem os salários, benefícios e condições de trabalho como saúde e segurança ocupacionais (se é que diferem) conforme o tamanho da organização? Essa parece uma questão importante para se avaliarem as implicações da política de subsídios governamentais ao setor das pequenas empresas, através de subvenções, empréstimos, incentivos fiscais ou relaxamento de controles ambientais e outras regulamentações.

Venho apresentando indícios de como a distribuição dos empregos, salários e benefícios difere entre pequenas e grandes empresas. Existem ainda outras falhas no mito das pequenas empresas. Antes, citei a crença de que as pequenas empresas e estabelecimentos sejam agora tecnologicamente mais inovadoras do que as supostamente rígidas e inflexíveis grandes empresas. Alguns autores afirmam que o maquinário programável por computador favorece sistematicamente as unidades de produção menores, ou, como argumenta Gilder, a escala em drástica redução (em outras palavras, a miniaturização) dos componentes microeletrônicos leva inexoravelmente a uma redução proporcional da escala “ótima” das empresas que os produzem.

O maior erro de raciocínio de Gilder é a sua indiferença ao fato de que, mesmo para jogar no time onde está sendo criada a tecnologia “microcósmica”, é preciso uma produção em escala ainda maior e um controle concentrado sobre o capital financeiro. Considere as

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observações do presidente do Conselho diretor da Intel, Gordon

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