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Tópico Cultura Afro e Indígena

Por:   •  26/2/2020  •  Pesquisas Acadêmicas  •  10.236 Palavras (41 Páginas)  •  131 Visualizações

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No entanto, para o que nos interessa de imediato, ao longo da Antiguidade, a palavra “cultura” estava relacionada ao ato de educar as crianças para elas se tornarem pessoas virtuosas na sociedade, ou seja, para que tivessem as suas qualidades naturais refinadas e lhes fossem conferidos caráter, boa índole etc. O que se deve sublinhar é que a natureza humana não podia ser deixada por si só, deveria ser cultivada para ser aprimorada, passando a ser uma segunda natureza adquirida, que melhoraria a natureza inata ao homem. Portanto, nesse modo de entender a cultura não há oposição à natureza.

Edward Burnett Tylor (1832-1917), um antropólogo evolucionista inglês, acabou unificando os dois conceitos e por isso passou a ser considerado o “pai” do conceito de cultura. Mas, talvez o que se deva sublinhar é que o autor afirmou que a cultura não era inata ao homem, portanto, não era dada pela natureza e, por conta disso, não era transmitida por fatores biológicos. Ela estava condicionada a construção e ao aprendizado do homem.

Como foi dito acima, o século XIX foi marcado pelo cientificismo, concepção da qual nasceu a ciência da Antropoloiga. Portanto, Tylor não poderia deixar de demostrar que a cultura deveria ser vista como sistémica, uma vez que apresenta causas e regularidades, o que permitirá uma abordagem objetiva e a formulação de leis que mostrem a evolução do processo cultural. Assim, embora, tenha afirmado que a cultura não era transmitida por fatores biológicos (natureza), ele defendia que a cultura ainda não havia se libertado de todo da natureza, uma vez que poderia ser explicada por uma racionalidade causal, tal quais os fenômenos da natureza.

Tylor considerava a cultura um fenômeno natural, que condicionava as ações humanas. Havia uniformidade entre os homens, mas, como bom evolucionista que era, ele acreditava que as desigualdades no campo da cultura eram decorrentes dos estágios diferentes no processo de evolução humana no qual se encontravam determinados povos. Caberia, portanto, à antropologia, estabelecer o grau em que cada uma dessas culturas se encontrava naquele estágio de civilização. Cristalizava-se um processo discriminatório no qual, sem dúvida, as culturas europeias se encontravam no topo dessa linha evolutiva. O que se deve notar é que a evolução cultural era vista como monolinear. Parece óbvio enfatizar que tal ideia era a aplicação da teoria das origens das espécies de Charles Darwin.

Todavia, a posição de Tylor e dos evolucionistas, como ficaram conhecidos, fora ainda no século XIX contestada. Uma das críticas foi elaborada pelo antropólogo Franz Boas. Seus estudos tinham a preocupação de analisar um determinado modo de vida ou cultura de uma sociedade ou de um grupo sob a ótica de seus membros. Boas inaugurou o que ficou conhecido com método comparativo. Em sua maneira de olhar a cultura, era fundamental entender como as condições psicológicas, do meio ambiente e do processo histórico influenciavam na construção das diversas culturas. Assim, cada cultura poderia ser interpretada de uma maneira diferente, uma vez que passariam a existir uma infinidade de caminhos a serem percorridos. Os caminhos eram determinados pelos eventos históricos que atingiram aquela sociedade. Portanto, o olhar deixava de ser monolinear para se tornar multilinear.

[A Antropologia] é produto do mesmo processo histórico que tornou a maior parte da humanidade subordinada à outra e durante o qual milhões de seres humanos inocentes foram despojados de seus recursos, enquanto suas instituições e crenças foram destruídas. Muitos deles foram mortos sem piedade, outros, submetidos à escravidão ou infectados por doenças a que lhes era impossível resistir. A Antropologia é filha desta era de violência. Sua capacidade de avaliar mais objetivamente os fatos que pertencem à condição humana reflete, epistemologicamente, um estado de coisas em que uma parte da humanidade tratava a outra como objeto

A Inglaterra também propunha outro olhar, mais próximo da Antropologia Social, que acabaria por fundar a Etnologia, preocupada em fazer sínteses globais dos diversos sistemas sociais, como, por exemplo:

Economia/ adaptação do homem ao meio ambiente/ o sistema de parentesco e sistema familiar/ sistema político, religião e outros.

Os elementos culturais e a própria cultura passaram a ser analisados como um produto histórico, dinâmico e flexível, construído pelas tradições herdadas e pelas novas experiências vividas por uma determinada sociedade. As populações não europeias passaram a ser vistas como capazes de assimilar características da dita cultura europeia, aprendendo novas práticas culturais, porém, as usavam para resignificar “antigas” práticas e ganhar, mesmo que simbolicamente, alguma vantagem dentro do que era possível naquele instante.

No campo da Antropologia e da História, tais ideias permitiram a construção de um novo conceito, a “etnia”, que veio substituir o de “raça”. O conceito de “etnia” foi fundamental, uma vez que devolvia humanidade àquelas pessoas, ao deixar de observar as sociedades como objetos, mostrando que havia possibilidades de escolha e de ressignificação de elementos culturais.

Em suma, atualmente, tanto a Antropologia como a História não defendem que o pertencimento a um determinado grupo étnico, mas sim as dimensões políticas e históricas vividas, condiciona o comportamento e a ação humana. Dessa maneira, se resgataram as propostas formuladas por Max Weber, nos anos 1920. Este autor sublinhava que o que compunha a formação e manutenção da identidade étnica eram as dimensões políticas e históricas. Mais ainda, ele destacava que para a manutenção dessa identidade não era necessário que os grupos étnicos se mantivessem alheios a qualquer tipo de interação social externa e que eles não seriam destruídos por processos de mudança e aculturação. Ainda, caberia enfatizar que também ajudaria neste processo de construção étnica identitária a ação política, o caráter organizacional e o sentimento de pertencimento ao próprio grupo. Desse modo, a identidade cultural étnica deixou de ser vista como algo congelado no tempo, para ser compreendido como fluída e mutável, de acordo com as relações externas estabelecidas entre os grupos étnicos.

Marco Inicial

Marco Final

Pré-História

Surgimento do homem
c. 4 milhões de anos atrás.

Invenção da escrita
c. 4000 a.C.

Idade Antiga (Antiguidade)

Invenção da escrita
c. 4000 a.C.

Queda do Império Romano do Ocidente
476 d.C.

Idade Média

Queda do Império Romano do Ocidente
476 d.C.

Grandes navegações
Século XV

Idade Moderna (Modernidade)

Grandes navegações
Século XV

Revolução Francesa
1789

Idade Contemporânea

Revolução Francesa
1789

Esse modelo, desde a intensificação do processo de globalização, nos anos de 1970, tem sofrido uma série de críticas. Alguns historiadores e teóricos sociais, sobretudo os que lidam com as questões culturais, então propuseram um sexto período, denominado “Pós-modernidade”. Essa proposta tem como embasamento o novo modelo de produção capitalista, fruto do processo de globalização, que acabou por criar novas relações sociais e econômicas. Todavia, cabe ressaltar novamente que ainda não existe consenso em relação a este quadro.

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