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A CIDADE IDEAL DO RENASCIMENTO

Por:   •  22/9/2020  •  Trabalho acadêmico  •  4.890 Palavras (20 Páginas)  •  515 Visualizações

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INTRODUÇÃO

O pensamento renascentista era muitas vezes baseado em critérios não puramente objetivos e menos ainda realísticos, representando ordenamentos civis e sociais de uma cidade ou de um estado segundo esquemas racionais, ou fantásticos – uma utopia. Esta é considerada como a realização de normas lógicas, morais ou religiosas, ou ainda claramente estéticas, para a definição de uma ordem diversa daquela existente e, normalmente, impossível de instaurar-se.

        O pensador humanista Thomas More foi quem deixou o termo utopia conhecido como algo ideal e inalcançável - a palavra vem do grego e significa “não lugar, lugar que não existe”. Em seu livro político A Utopia, More formula uma ilha em forma de semi-círculo fortificada, onde existem 54 cidades. Ele idealiza ali toda uma sociedade, em protesto contra as injustiças da Inglaterra de henrique VIII. Ataca a monarquia e as instituições, bem como a vida de luxos inúteis em cima do trabalho dos outros. Se inspirou em Platão e anarquistas e comunistas se inspiraram nele.

        Thomas More não era arquiteto, nem a maioria dos autores renascentistas tinha essa como sua principal ou exclusiva atividade, mas fascinava-os a imagem de perfeição de uma cidade ideal. Nesta, a preocupação não é apenas com a construção urbana de uma constituição arquitetônica, mas também de uma constituição social. E de fato, a arquitetura conta sempre com uma base social, e a sociedade com uma base arquitetônica. Da mesma maneira, uma arquitetura nova implica em uma nova sociedade e vice-versa. Portanto, as utopias urbanas que descreveremos, expressadas em projetos para uma cidade ideal, também constituem as utopias socias dos séculos XVI e XVII.

CONCEITUAÇÃO – RENASCIMENTO

        O termo Renascimento é comumente aplicado à civilização européia que se desenvolveu entre 1300 e 1650.  Podemos definir o advento da grande Peste Negra em 1357, que arrasou 2/3 da população da Europa , como o agente propulsor do Renascimento. Até então, o homem estava submetido aos desígnios e a vontade de Deus. A morte, o pecado, o céu e o inferno eram fatos e  fenômenos que dependiam de suas determinações. Com o efeito devastador da Peste, com pessoas de todos os calibres, pobre e ricos, morrendo a rodo por todas as partes, levou-os à consideração de que os acontecimentos  relativos à vida e à sorte humanas independiam de Deus. Foi então que se passou a ver a figura de Jesus como a de um simples homem, extraordinário, mas humano. Divinisado, passou a agir como mecenas, o provedor das artes, o príncipe, que desatou a construir obras destinadas ao culto das artes, igrejas, jazigos, capelas mortuárias onde ele mesmo, homem de poder,  seria colocado na posição priviligiada que antes era destinada ao Deus. A esse novo pensamento deu-se o nome de Humanismo.

        Além de reviver a antiga cultura greco-romana, ocorreram nesse período muitos progressos e incontáveis realizações no campo das artes, da literatura e das ciências, que superaram a herança clássica. A revalorização das capacidades humanas fez com que fosse muito comum alguém onivalente, com noções científicas, artísticas e sociais. O ideal do humanismo foi sem dúvida o móvel desse  progresso e tornou-se o próprio espírito do Renascimento. Num sentido amplo, esse ideal pode ser entendido como a valorização do homem (Humanismo) e da natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural, conceitos que haviam impregnado a cultura da Idade Média.   Esta ciência procurava se adaptar à dignidade do homem, e alcançar uma harmonia racional perante uma ordem hierárquica imóvel imposta por Deus. Os humanistas acreditavam que o valor da civilização e da cultura da Antiguidade Clássica era uma grande fonte de inspiração. O estudo das ruínas clássicas oferecia a chave da constituição social daquele mundo. E a renovação total se fazia pela restauração do clássico, do alcance e intervenção em suas ruínas.

OS PRIMÓRDIOS DO RENASCIMENTO

        A transição da Idade Média para o Renascimento, em matéria de planejamento urbanístico, foi lenta e hesitante. Durante o renascimento, a importância das cidades italianas, condicionadas por uma crescente secularização, é que levou a uma ênfase nos valores formais e à reinterpretação dos dogmas estéticos dos tempos antigos. Os programas da cidade renascentista foram levados a cabo integralmente, pois, em muitos casos, as cidades mais antigas, como Florença e Roma, tiveram que ser adaptadas ao novo modo de vida e ao “estilo arquitetônico” da época.

O ideal de perfeição teorizado utópicamente veio acompanhado de uma necessidade de organização política e uma reestruturação arquitetônica. Os problemas políticos (constituição, tribunais, magistraturas) estavam ligados a questões urbanísticas e tornava- se cada vez mais imprescindível resolver falhas de aglomerados urbanos, que também possuíam problemas na higiene, segurança e defesa das cidades. A atividade urbanística durante os séculos XV eXVI consistia em intervenções que não alteravam a estrutura geral dos velhos ambientes irregulares medievais.  Empreendimentos como abertura de ruas, construção de edifícios solenes e uniformes, novas praças, enquadramento de monumentos de destaque, e outros são realizados para corresponder àquela nova organização.

Os tratados de urbanismo não deixavam de ser tratados políticos, que buscavam racionalização e harmonização na atmosfera urbana, ou seja, queriam propiciar aos habitantes uma vida mais livre e bela.

É possível perceber convergência de idéias entre as considerações urbanísticas. Florença chegou a ser considerada  por alguns como a cidade com um tipo ideal de organização. O poder era representado no Palazzo dei Signori ou Duomo, ou seja, era muito mais do que um símbolo.

Fica evidente a oposição da nova cidade ideal às unidades do mundo antigo e medieval. Leonardo Bruni, chanceler e historiador de Florença, é um dos que destacou essa oposição. Ele era contra cidades de grande porte, pois acreditava que elas asfixiavam a sociedade. Passou então a exaltar cidades de pequeno porte, voltando- se para uma atmosfera mais primitiva, porém, mais sadia. Esse pensamento o leva contra o mito de Roma. Para ele se refletiria em Florença o tipo de cidade ideal: organizada, justa, harmoniosa e bela. Era expressiva sua preocupação com a justiça. Para Bruni “em Florença nada é desordenado, inconveniente e sem razão de ser. Todas as coisas tem o seu lugar”. Ele deixava claro que a estrutura político- social corresponde também à estrutura arquitetônica e que a cidade deveria possuir uma distribuição racional, com planta nítida e precisa. A cidade de Leonardo Bruni não foi tida apenas como uma fantasia, distante da realidade. Acredita- se na forte identificação que ela possui com uma cidade possível de ser existente.

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