A Sustentabilidade no Projeto de Retrofit Arquitetônico - Caso da Laneira SA

SUSTENTABILIDADE NO PROJETO DE RETROFIT ARQUITETÔNICO: RECICLAGEM DE RESÍDUOS, CASO DA LANEIRA S.A.

IGOR SCHWARTZ EICHHOLZ1; CELINA MARIA BRITTO CORREA2.

1Universidade Federal de Pelotas – [e-mail]

2Universidade Federal de Pelotas – [e-mail]

1. INTRODUÇÃO

“O homem constrói para criar espaços onde determinadas necessidades possam ser satisfeitas, certas funções cumpridas, e determinadas atividades domésticas, sociais, econômicas, etc., realizadas ao abrigo das ações do meio ambiente” (ROSSO, 1980), no entanto, quando estas construções tornam-se obsoletas, não atendendo mais as necessidades para as quais foram feitas ou restam apenas como lembrança de um período promissor, ficam a sujeitas a deterioração do tempo e do vandalismo depredatório, comumente encontrado nas regiões históricas e industriais das cidades brasileiras. A Universidade Federal de Pelotas está tentando diminuir a ocorrência desta situação na cidade, adquirindo antigas instalações industriais e prédios históricos sem uso em busca de preservar a memória e o patrimônio arquitetônico, histórico e social pelotense.

Este é o caso do edifício da antiga Companhia Laneira Brasileira S.A, localizado na avenida Duque de Caxias, bairro Fragata. O projeto proposto, através do método retrofit arquitetônico, consiste na reciclagem e requalificação do antigo prédio da fábrica para implantar uma área de preservação da memória, atividades de ensino, pesquisa e extensão da Universidade Federal de Pelotas, totalizando 9035 m² ( nove mil e trinta e cinco metros quadrados) entre espaços requalificados e novas construções. O edifício abrigará museus, uma biblioteca retrospectiva, um auditório, área de ensino destinada ao curso de Museologia, uma sala de projeção e um café, hoje localizados em prédios alugados pela instituição.[pic 2][pic 3]

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Imagens 1,2 e 3: Perspectivas do Projeto de Requalificação da Laneira S.A.

O termo inglês retrofit tem suas origens nas expressões latina retro: movimentar-se para trás, e inglesa fit: adaptação, ajuste. E pode ser empregado em duas situações:  quando a recuperação reduz custo em comparação com uma construção nova, ou no caso de uma edificação histórica possuir condições para novas funções (MAIA, 2000). Este conceito arquitetônico busca a sincronicidade do edifício com o tempo presente, evitando que se torne obsoleto, possibilitando a readequação e a reinserção destes edifícios à estrutura da cidade, contribuindo para a maximização e otimização do espaço construído; assim como para a preservação dos valores arquitetônicos e paisagísticos das cidades. Além de ser uma forte ferramenta em prol da sustentabilidade do sítio arquitetônico, com a utilização de parâmetros de sustentabilidade ecológicos na recuperação, manutenção e restauração de edifícios pode, em muito, apoiar um desenvolvimento urbano sustentável dentro de novos paradigmas ambientais.

A sustentabilidade em processos de retrofit arquitetônico é alcançada através de algumas ações, as quais devem ser estudadas e adaptadas a cada caso: 1) Otimização, flexibilidade e adaptabilidade dos espaços arquitetônicos minimizando a utilização de recursos naturais de forma a racionalizar materiais e energia na execução do processo do retrofit; 2) Estudar os possíveis impactos ambientais causados pela obra, planejando o destino dos resíduos resultantes pela mesma e prevendo a reciclagem destes elementos, sempre que couber; 3) Os recursos técnicos e energéticos devem se adaptar as devidas funções que o projeto arquitetônico propõe aos espaços, utilizando-se, ao máximo, os naturais e mesclando quando necessário, aos métodos artificiais de conforto ambiental.

2. METODOLOGIA

A partir de um estudo prévio, dentro do projeto de requalificação da Laneira Brasileira S.A., optou-se trabalhar com a segunda ação sustentável: reciclagem de resíduos, especificamente os resíduos em madeira e alvenaria. Foram selecionados as tesouras da cobertura do edifício (elementos que sustentam a cobertura), já que estas serão os resíduos em madeira mais significativos por não atenderem mais as suas funções, e não apresentarem as condições adequadas para uma restauração devido a problemas patológicos como: presença de cupins e putrefação de partes da estrutura, causada pela exposição as ações climáticas; impossibilitando que suportem as cargas e o peso do telhado. Já os resíduos de alvenaria são de algumas paredes comprometidas estruturalmente ou que não possuem importância arquitetônica (não descaracterizam o edifício e sua memória), conforme recomenda a Teoria do Restauro de Brandt.

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Imagem 4,5 e 6: Situação atual dos elementos de estudo - Treliças

Visando o maior e melhor aproveitamento das partes componentes da treliça, foi desenvolvido o projeto de mobiliário urbano (banco) que será aplicado no próprio projeto paisagístico dos espaços abertos no complexo da Laneira, preservando a história com preceitos sustentáveis, vinculando os conhecimentos técnicos e criativos da arquitetura. Para isto, foi realizado um levantamento detalhado da treliça analisando as questões inerentes para a realização do projeto do mobiliário: Dimensões dos elementos componentes da treliça, tipo de madeira e situação do estado atual do material para escolher o tratamento mais adequado ao seu futuro uso em ambientes externos. A partir disto, iniciaram-se os estudos de projeto para o mobiliário com o ensaio da forma, função e estética, através das teorias de ergonomia e intervenção em edifícios históricos. Procurou-se utilizar todas ou quase todas as partes da treliça mantendo ao máximo sua forma (evitando recortes, nova pintura etc.), facilitando a identificação de sua antiga função, valorizando então, a questão histórica de seu passado e respondendo corretamente a proposta de sustentabilidade dentro do processo de retrofit arquitetônico. Em relação a alvenaria, serão usados os tijolos maciços que compõem as paredes a serem demolidas, segundo o projeto de intervenção.