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ALEGORIA DO PATRIMONIO - CAP II E III

Por:   •  15/3/2020  •  Artigo  •  1.865 Palavras (8 Páginas)  •  261 Visualizações

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UNIFACS – Universidade Salvador

Curso: Arquitetura e Urbanismo

Disciplina: Técnicas Retrospectivas

Professor: Karina Monteiro de Lima

Aluno: Ibsen Véras

Título: A Alegoria do Patrimônio

Título Original: L’allégorie du patrimoine

Autor: Choay, Françoise

Tradutor: Luciano Vieira Machado

Ano: 1992

Editora: Editora UNESP – 1º reimpressão (2001)

Fonte: Biblioteca UNIFACS

FICHAMENTO

Capítulo I: Os Humanismos e o Monumento Antigo

1.1 Os objetos gregos saqueados pelos exércitos romanos começam a compor discretamente o interior de algumas residências patrícias, mas seu status muda no momento em que Agripa pede que as obras sejam expostas à vista de todos. Desde então, Roma conhece todo o tipo de colecionadores de arte, e passa a se apropriar dos pensamentos e valores estéticos gregos.

1.2 Na época não se proibia a destruição de edifícios ou objetos de arte antigos e estes não possuíam valor histórico, sendo preservados por causas aleatórias.

1.3 O período entre as grandes invasões e o fim da Idade Média é marcado pela paulatina destruição de monumentos que haviam perdido seu sentido e seu uso (transformados em pedreiras).

1.4 Apesar do proselitismo cristão da época, várias obras pagãs foram objeto de conservação deliberada, estimulada pelo próprio clero. O papa Gregório I chega a recomendar aos missionários que destruíssem apenas os ídolos dos templos pagãos e que se limitassem a “transformá-los” em templos cristãos. O interesse utilitário não era o único na preservação dos remanescentes antigos, sendo os outros motivos relacionados ao saber literário e à sensibilidade.

1.5 Móveis ou imóveis, as criações da Antiguidade não desempenham o papel de monumentos históricos. Sua preservação é de fato uma reutilização, e se apresenta sob duas formas distintas: a global, combinada ou não com reformas; e a fragmentação em peças e pedaços, usados para fins diferentes e em lugares diversos com a intenção de decorá-los.

1.6 É difícil traçar as fronteiras entre as medidas ditadas pela conveniência e as inspiradas pelo interesse histórico, ou ainda pela vontade de afirmar uma identidade. Duas memórias são solicitadas ao mesmo tempo por duas séries de monumentos: uma, mais próxima, de uma instauração religiosa que estrutura a vida cotidiana e define seu horizonte; e outra, mais distante, de um passado temporal e glorioso.

1.7 A primeira fase do Quattrocento é caracterizada pela concentração exclusiva de interesse pelos vestígios do passado em obras da Antiguidade, excluindo-se todas as outras épocas.

1.8 Travou-se um diálogo sem precedentes entre artistas e humanistas durante as décadas de 1420 e 1430. Os primeiros formam o olhar dos segundos, ensinando-lhes a ver com outros olhos, enquanto os últimos revelam aos arquitetos e escultores a perspectiva histórica e a riqueza da cultura Greco-romana, fazendo com que a visão das formas antigas adquira uma relevância e profundidade até então inéditas.

1.9 Ao cabo desse processo de “impregnação mútua”, artistas e humanistas demarcaram o território da arte, articulando-o com o da história para aí instalar o monumento histórico. Contudo, o conhecimento histórico continua sendo o primeiro e o único necessário na instituição das “antiguidades”. O monumento histórico só pode ser antigo, a arte só pode ser antiga ou contemporânea. E finalmente, o canteiro de obras romano é visto como uma lição de construção depois como uma introdução ao problema da beleza.

1.10 Embora a galeria só viesse a aparecer, especificamente, no século XVI, amantes da arte do século XV já construíam edifícios para abrigar suas antiguidades. A coleção que se diferencia da sala de curiosidades precede o museu. De natureza privada, oferece o primeiro exemplo de abertura ao público em 1471.

1.11 No entanto, a conservação de edifícios tem lugar, necessariamente, in situ. Ela provoca dificuldades técnicas muito diferentes. Não se podem colecionar os templos ou anfiteatros romanos, e nem se pode mobilizar a paixão do colecionador para protegê-los. Contra as forças sociais de destruição que os ameaçam, os edifícios antigos têm como única proteção – aleatória – a paixão do saber e o amor pela arte. Foi por isso que a tomada de consciência do valor histórico no Quattrocento não acarretou sua conservação efetiva e sistemática, já que a Roma do século XV nesse aspecto é caracterizada por uma notável ambivalência.

1.12 A partir da década de 1430 e do pontificado de Eugênio IV, os humanistas são unânimes em recomendar a conservação e uma proteção vigilante dos monumentos romanos, condenando a conversão da Cidade em pedreiras que alimentam as novas construções e os fornos de cal.

1.13 A tarefa da preservação cabe aos papas, embora agora se tratasse de uma conservação contrária, e não mais apropriadora e mutilante. Os papas não se contentam com medidas preventivas. Eles retiram o entulho, desobstruem, restauram as antiguidades. Em contrapartida, não devemos esquecer a postura antiética que lhes é, de modo paradoxal, coextensiva: os mesmos que se consideram e se mostram tão engajados na causa da conservação participaram com regularidade, lucidez e alegria da devastação de Roma e de suas antiguidades. De fato, jamais se deixou de utilizar os monumentos antigos como pedreiras para alimentar a política de construções novas dos papas.

1.14 Com efeito, esses homens ofuscados pela luz da Antiguidade não podiam, da noite para o dia, libertar-se de uma mentalidade ancestral. O distanciamento em relação aos edifícios do passado requer uma longa aprendizagem, com uma duração que o saber não pode abreviar e que é necessária para que a familiaridade seja substituída pelo respeito.

Capítulo II: A Época dos Antiquários – Monumentos Reais e Monumentos Figurados

2.1 Depois dos humanistas italianos, os letrados da Europa refizeram a viagem ritual a Roma para redescobrirem seus monumentos e se apropriarem do conceito de antiguidade. Por meio dessas idas e vindas, o conteúdo da noção de antiguidades não para de enriquecer, ao mesmo tempo em que alarga seu campo. Além disso, a mesma sede de informação os encoraja a pesquisar suas próprias origens, atestadas por outros testemunhos materiais, chamados “antiguidades nacionais”.

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