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Casa Cavanelas - Estudo

Por:   •  18/10/2016  •  Trabalho acadêmico  •  3.953 Palavras (16 Páginas)  •  1.514 Visualizações

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O jeito de morar de 1954: Um olhar sobre a Casa Cavanelas de Oscar Niemeyer

GENZLER, Bruna

Graduando,Acadêmico do Curso de Arquitetura e Urbanismo - UFSM

LEHR, Paula

Graduando, Acadêmico do Curso de Arquitetura e Urbanismo - UFSM

ZENI, Júlia

Graduando, Acadêmico do Curso de Arquitetura e Urbanismo - UFSM

ALCÂNTARA, Marina de

Mestre, Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo - UFSM

RESUMO

O presente artigo foi elaborado com o intuito de analisar e propor uma modificação em um ambiente interior de uma residência de destaque no cenário arquitetônico brasileiro. O estudo é parte integrante da disciplina de História da Arquitetura IV, coordenado pelo docente da mesma. Este tem como objeto de estudo, em primeira estância, a Casa Cavanelas, projetada por Oscar Niemeyer, em 1954, e, após, mais a fundo, interiormente a edificação, a sala de estar e jantar. Com base em estudos teóricos, análises históricas e pesquisas acerca das relações compositivas e estruturais da residência, objetiva-se aferir as funções do morar da edificação, e seguidamente, propor uma nova concepção para o cômodo escolhido. Para tal alteração, considerou-se a situação e necessidades atuais da sociedade.

PALAVRAS-CHAVE:arquitetura brasileira, uso do espaço construído, arquitetura de interiores, mobiliário ícone, Oscar Niemeyer.

1. INTRODUÇÃO

        O reconhecimento de que o mundo passou e vem passando por diversas transformações ao longo dos anos não é novidade, e este fato é tema de análises de múltiplos autores de variados campos do pensamento científico. Apesar dessas análises serem mais recorrentes nas áreas de sociologia e história, a arquitetura tem grande interesse em identificar esse fenômeno de transformação, tanto na construção de edifícios, quanto no design de seus interiores, e, assim, relacionar com a evolução da sociedade, cultura e descendência.

O presente trabalho é sobre a análise de ambientes interiores de residências em destaque na arquitetura brasileira, juntamente com o estudo das estratégias de composição adotadas pelo projetista e a verificação e alteração dos usos e/ou distribuição das dependências da edificação.

O objetivo é analisar a Casa Edmundo Cavanelas, projetada por Oscar Niemeyer, localizada no Distrito Pedro do Rio em Petrópolis, Rio de Janeiro. Fundamenta-se através de estudos sobre a implantação, organização espacial e distribuição do seu interior, contexto local e histórico da residência e do autor da obra, também, identificar as principais transformações da função morar, ao longo dos anos, e mostrar as consequências destas nos espaços interiores residenciais.

2. DESENVOLVIMENTO

Este capítulo pretende expor os estudos teóricos realizados sobre o objeto em análise, seu autor, o contexto histórico e local da residência, em seguida, análise da função morar e, por fim, apresentar a nova proposta da espacialização interior.

2.1 Aporte Teórico/Histórico

2.1.1 Dados sobre o autor

Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho (Figura 1) nasceu no Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1907, filho de Oscar de Niemeyer Soares e Delfina Ribeiro de Almeida. Aos 21 anos se casa com Annita Baldo. Em 1934 Niemeyer forma-se em Arquitetura e Engenharia pela Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

[pic 1]

Figura 1: Oscar Niemeyer
Fonte: CultureConfiture, 2012

Iniciou sua carreira como estagiário do renomado arquiteto Le Corbusier, e acabou tornando-se o mais conhecido arquiteto brasileiro, considerado ícone no desenvolvimento da arquitetura moderna. Niemeyer afirmou que sua arquitetura foi muito influenciada por Le Corbusier, mas, em entrevista, declarou que isso "não impediu que sua arquitetura seguisse em uma direção diferente".

Inovador, como seu mestre, influenciou altamente a arquitetura do século XX e XXI, pela exploração estética das possibilidades construtivas do concreto armado. Inovação esta, que o rendeu muitos elogios, mas também críticas por ser um “escultor de monumentos”, buscando promoção pessoal pelas suas obras. Apesar disto, sem dúvidas, Niemeyer foi um grande artista e um dos maiores arquitetos de sua geração e é inegável a sua contribuição à arquitetura moderna e mundial. Devido à grande identidade formal e sua originalidade obsessiva nas composições, além da grandiosidade dos elementos visuais de suas obras, entrou para a história da arquitetura.

        Niemeyer sempre valorizou mais suas construções públicas, aquelas que eram feitas para o coletivo, comparado às obras pensadas para indivíduos. Isso pode ser consequência de sua declarada orientação política comunista. No entanto, arquitetonicamente, casas apresentam um terreno mais livre para experimentações. E foi através disso que Niemeyer forjou seu estilo, do modernismo aprendido com Le Corbusier à combinação de influências do período colonial brasileiro, o qual culminou na supremacia da curva feita de concreto.

Em 1936 o escritório onde Niemeyer trabalhava como estagiário foi contratado para projetar o novo edifício do Ministério da Educação, atual Palácio Capanema, no Rio de Janeiro. Três anos depois Niemeyer viaja com Lúcio Costa aos Estados Unidos, para projetar o Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York. No ano de 1940 é convidado para projetar o Conjunto da Pampulha, através do qual conseguiu sua primeira projeção internacional.

Em 1946 projeta o Edifício do Banco Boa Vista, localizado no Rio de Janeiro. No ano seguinte, Niemeyer é um dos dez arquitetos convidados a projetar a futura sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos. Na década de 50 projeta o Conjunto do Ibirapuera, em São Paulo; o Edifício Copan, também em São Paulo; o Edifício Itatiaia, em Campinas; a Casa das Canoas, no Rio de Janeiro; Casa Edmundo Cavanelas, localizada em Petrópolis; a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa e a Escola Estadual Governador Milton Campos, ambas em Belo Horizonte; e é responsável pelos projetos dos edifícios de Brasília, enquanto Lúcio Costa desenvolveria o plano da cidade.

Na década de 80 projetou o Sambódromo do Rio de Janeiro; o Memorial da Cabanagem, no Pará; o Memorial JK e o Panteão da Pátria, ambos em Brasília. No ano de 1987 projeta o Memorial da América Latina em São Paulo, em 1991 o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, e cinco anos depois o conhecido Caminho Niemeyer.

A partir de 2002 projetou o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba; inaugurou o Complexo Cultural da República, na Esplanada dos Ministérios em Brasília; iniciou as obras do seu primeiro projeto na Espanha, o Centro Niemeyer, em Avilés, Astúrias; inaugurou a Estação Cabo Branco, em João Pessoa; e em 2010 é convidado a elaborar o projeto do novo centro administrativo do governo de Minas Gerais, chamado de Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves.

"        Cem anos é uma bobagem. Depois dos 70 a gente começa a se despedir dos amigos.

  O que vale é a vida inteira, cada minuto, e acho que passei bem por ela."

                              (OSCAR NIEMEYER, 2007).

Oscar Niemeyer Ribeiro Soares Filho faleceu no Hospital Samaritano, no Botafogo, Rio de Janeiro, no dia 5 de dezembro de 2012.

2.1.2 Contexto local e histórico do período de idealização da casa

        No século XX o estilo arquitetônico predominante era o modernismo. Porém, deve-se entender o termo “moderno” dentro da concepção cultural do período, representado em um primeiro momento por jovens intelectuais: geralmente literatos e artistas plásticos. Suas discussões eram de caráter ambíguo, já que, ao mesmo tempo em que vivenciavam uma sensação de atraso em relação aos outros movimentos estéticos (sobressaindo-se os europeus) e buscavam uma atualização cultural que se qualificava, diversas vezes, como incompatível com a realidade brasileira, apostavam em uma perspectiva regionalista na busca pela tradição colonial brasileira.

A solução encontrada, por fim, foi a compilação do moderno corbusieriano com o tradicional regionalismo brasileiro, em uma relação equilibrada e harmoniosa de características estrangeiras com a paisagem tropical exuberante. Essa tensão entre o tradicional e a modernidade resultou no uso de novos materiais, como a madeira, o tijolo e o metal, além do surgimento de novas formas.

        O movimento modernista chegou ao Brasil com a literatura e as artes plásticas, mas acabou deslocando-se para a área da arquitetura devido a mudanças estruturais no país. Os poderes político e econômico, conduzidos por oligarquias rurais da Primeira República e baseados nos Estados de Minas Gerais e São Paulo, deslocou-se para o Rio de Janeiro, na época, capital do país, mudança que trouxe como consequência o poder autoritário do Estado Novo para as mãos de Getúlio Vargas. A arquitetura, nesse contexto, evidencia-se mantendo laços estreitos e conflituosos com o poder que irrompe no Rio de Janeiro.

2.1.3Dados sobre a construção da casa

A Casa Edmundo Cavanelas (Figuras 2 e 3) foi construída em 1954, no Distrito Pedro do Rio, em Petrópolis, Rio de Janeiro, projetada pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer. Esta residência está entre as que revelam uma mudança nas estratégias compositivas que o projetista sofre na década de 60, pois em contraste com suas obras antigas, marcadas pela plasticidade do concreto, esta destaca-se pela racionalidade na concepção formal e pelo uso de materiais como a pedra e o metal.  

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