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O Museu do Século 19

Por:   •  14/10/2018  •  Relatório de pesquisa  •  6.119 Palavras (25 Páginas)  •  195 Visualizações

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1. Do MUSEION ao museu do século 19

A palavra museu vem do latim museum, derivada do termo grego Mouseion, templo ateniense dedicado às musas gregas. Segundo a mitologia eram as musas que através de danças e músicas faziam os homens esquecer os problemas, em agradecimento eles deixavam nos templos como presente objetos de valor, joias, artes, relíquias e etc... A reunião dessas peças fez surgir a primeira coleção de arte, assim, o museu se origina do ato, inerente ao homem, de colecionar. O primeiro prédio a receber esta denominação foi a Biblioteca de Alexandria destruída em 640 d. C. A destruição da biblioteca significou o desuso do termo “museu” no mundo ocidental, embora na Idade Média ocidental tenham existido ao menos dois tipos de instituições que representam a origem do conceito contemporâneo de museu: os “gabinetes de raridades e os tesouros”, quase sempre mantidos pelo poder eclesiástico ou pelas casas reais.

Nos séculos 15 e 16, dois fatores contribuíram para o aumento dos colecionismos, os navios começaram a transportar para a Europa vários tipos de objetos, as peças eram trazidas de lugares desconhecidos, a variada coleção era alocada, em cômodos não muito amplos, nomeados como gabinetes de curiosidades ou câmaras das maravilhas.

Ao longo do tempo, a classe burguesa começou a formar coleções particulares doadas pelos próprios artistas ou por familiares, dando origem à galeria ou loggia, com peças expostas lado a lado, com janelas laterais, por onde passava a luz natural. Até aquele momento, não existia uma arquitetura específica, nem uma definição para a edificação museu, as coleções eram distribuídas nos palácios, casas de campo ou castelos.  Uffizi tornou-se a galeria de arte mais completa da Itália e uma das mais importantes do mundo (NESTI, 1998). No século 17, as galerias foram de grande importância na construção do imaginário burguês de prestígio, o que acaba por ser determinante durante a Revolução Francesa.

Ao final do século 17, período pouco inovador no exterior da arquitetura e que terá “sobretudo imprimido sua marca na decoração de interiores” (STAROBINSKY, 1994, p. 23), os arquitetos desejavam a substituição do Barroco, achavam imperfeito e exagerado, pela pureza e clareza das ordens clássicas. Os projetos são então pautados por tratados de Arquitetura, como o “Novo Tratado sobre o Conjunto da Arquitetura”, de Cordemoy (1706), o “Ensaio sobre a Arquitetura” do abade Laugier (1753), ou o “Curso de Arquitetura” de Blondel (1750), estudos que procuram “liberar as ordens clássicas de qualquer tipo de distorção” (SUMMERSON, 1982, p. 93).  Em 1742, o Conde Algarotti cria o projeto de um museu em Dresdem, a pedido de Augusto III, onde mostra a geometria pura. A arquitetura proposta para o museu tem como partido um quadrado com um grande pátio no centro, a característica do projeto surgiu pelo seu interesse ao sistema enciclopédico, o qual se associava as manifestações neoclássicas, que tinham a intenção de reunir no museu uma coleção grande, com estilos de todas as épocas. Ele deixou para trás a organização espacial linear e trouxe para o seu projeto simétrica, geométrica e axial.

Em 1783, o arquiteto Etienne-Louis Boullée projeta um museu que demonstra um maior refinamento do gosto neoclássico (BOULLÉE, 1995). Em seu projeto, Boullée sobrepõe uma planta em cruz grega a um quadrado, e  no cruzamento das duas figuras geométricas, insere uma rotunda elevada por uma cúpula circular, por onde passava a luz. A composição quadrada é ladeada por quatro imensos pórticos semicirculares, sua forma é simples, e seu programa, não menos. O que demonstra, de certo modo, a falta de tradição dessas instituições, para gerar o conhecimento sobre um programa de necessidades específicas. Todo o espaço é aparentemente expositivo, não há vestígio de cômodos para outras atividades, provavelmente, o centro seria reservado às obras de maior importância, enquanto as laterais abrigariam obras menos significativas, a escala é grandiosa. Além disso, na proposta de museu, dentre as contribuições prestadas pelos projetos de Etienne-Louis Boullée, está a proposição de percursos que remetem a marche, com a qual se revela a simetria e a hierarquia das galerias e pátios internos.

Os primeiros projetos de museus são somente especulações teóricas, contudo o Museu do Prado, em Madri, uma das últimas propostas do século 18, foi efetivamente construído. Projetado por Juan Vilanueva em 1784, sua arquitetura é simples, formado por um pórtico de colunas, de onde partem dois pavilhões laterais simétricos, sua planta é formada por espaços contíguos organizados sequencialmente, de modo que o acesso a cada compartimento permita o acesso ao seguinte, criando uma espécie de corredor.

No fim do século 18 e começo do 19, tinha destaque na arquitetura os pórticos, frontões, pátios, rotundas, peristilos, cúpulas e escadarias, elementos constituintes do que Summerson denomina de neoclassicismo.

Por muito tempo, as coleções dos museus ficaram restritas às elites, até que foi criado o primeiro museu público, na França Revolucionária de 1793. Foi o Museu do Louvre, que pela primeira vez abriu ao público em geral o acesso a um rico acervo de arte, localizado no Palácio Real do Louvre. Nesse sentido, a forma original não se configurou como um programa de um Museu, mas ocorreu uma translação das obras a delimitações de pré-existências.

Apesar de a história do palácio remontar à Idade Média, o edifício que hoje abriga o museu começa a ser construído em 1546, quando Francisco I manda demolir o palácio medieval e inicia uma série de reformas e ampliações, com duração de cinco séculos. Durante cinco séculos, vários arquitetos de renome, como Pierre Lescot, Mansard, Perrault e Bernini, participaram da história desse edifício.

A rigor, as modificações só terminaram em 1989, com a construção da pirâmide de cristal, projeto do arquiteto norte americano I. M. Pei.

Sob os efeitos da Revolução Industrial, o século 19 vive grandes transformações econômicas, políticas e sociais. Novos programas arquitetônicos substituem os frequentes projetos de palácio e igrejas, para atender à crescente população. Nesse momento, a França passa a ser o centro das novas teorias arquitetônicas, ditando modelos para a arquitetura das fábricas, pavilhões de exposições, habitação e museus.

No século 19, após a Revolução, a Academia Real de Arquitetura é substituída pela Academia Francesa, que regulariza os conhecimentos sobre o projeto arquitetônico, desenvolvendo um método projetual largamente utilizado, o método Beaux-Arts. Que lidava com motivos antigos da arquitetura egípcia, grega e romana, fundamentado na adoção de um número limitado de variáveis, na simetria para organização da planta e dos volumes.

Em 1802, utilizando elementos arquitetônicos previamente conhecidos como cúpulas, galerias e pátios, Durand projeta o edifício de um museu que, apesar de não construído, torna-se referência. Sua forma constitui-se de uma planta quadrada, em que salas em suíte e quatro pátios são divididos por dois eixos principais simétricos. Cada fachada possui seu acesso particular, servido por escadarias e pórticos de colunas. O programa do museu de Durand traz uma maior variedade de usos do que os projetos dos arquitetos anteriores. Séries de espaços menores ao redor dos pátios abrigam gabinete de artistas, salas de pintura e escultura, indicando uma multiplicidade de usos complementares à função expositiva. Já neste momento, como notou Kiefer (1996), aos museus já se contemplavam funções educativas.

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